O que você faz no carnaval?
Talvez
não goste de brincar o carnaval, e, pode ter certeza, sempre
houve uma divisão entre os que gostam de comemorá-lo e os
que querem sossego. Mas certamente vai achar bastante interessante
conhecer um pouco das origens dessa festa popular que no mundo todo faz
lembrar do Brasil.
Durante o período da Quaresma, ou seja, nos
40 dias entre a quarta-feira de Cinzas e o domingo de Páscoa, o
fiel da Igreja Católica não deveria comer carne, em
respeito à memória da via-sacra percorrida por Jesus
Cristo. Daí vem a palavra carnaval, do latim carne
levare, que significa "privação de carne". No
entanto, popularmente acredita-se que a expressão original era carne
vale, ou seja, "adeus, carne!". A interpretação do
povo está errada, mas certamente tem mais do espírito
carnavalesco.
O carnaval é uma festa popular de
características regionais próprias, mas que quase sempre
incluem folias, diversões, bailes, fantasias e música. As
comemorações acontecem em três dias, do domingo
à terça-feira. No Brasil, um país alegre por
natureza, o "sábado de carnaval" também é dia de
festa, sem falar nas diversas folias pré-carnavalescas e nas
micaretas, carnavais fora de época. Em vários outros
países, também se festeja o período carnavalesco.
Entre eles estão a Itália, a França e a Espanha.
Nos Estados Unidos, é tradicional o desfile da cidade de Nova
Orleans.
Essa festa popular não tem origens claras,
mas acredita-se que, há mais de 2000 anos, comemorava-se na
Europa a chegada da primavera, que lá acontece em março.
Esse agradecimento aos deuses pela volta do clima agradável e
bom para a agricultura pode ter evoluído para o carnaval
moderno. Outra origem possível são as
celebrações da Roma antiga, como as festas libertinas em
homenagem aos deuses Baco e Saturno. No entanto, as festas mudaram
muito daquele tempo para cá, principalmente durante o
século 20.
A primeira folia de carnaval do Brasil foi o entrudo,
que acontecia já no início do período colonial. O
entrudo era uma brincadeira violenta, que consistia em atirar baldes
d'água, balões cheios de vinagre ou groselha, e
pós
como cal e farinha, com a intenção de molhar ou sujar as
pessoas que passavam pelos foliões. A brincadeira foi proibida
inúmeras vezes, mas ela só desapareceu no início
do século 20, com a popularização do confete.
O entrudo incentivou a criação de
uma festa em local fechado, para um público selecionado, que
queria se divertir civilizadamente. Assim, surgiram em 1840 os bailes
de carnaval, inspirados nos grandes bailes de máscaras
realizados na Europa. O sucesso incentivou outras casas de
espetáculos a promover seus próprios bailes. Hoje, essas
festas não são tão elitistas, e as máscaras
praticamente deixaram de ser usadas, pois os foliões não
têm mais medo de ser reconhecidos na festa.
Os tambores apareceram pela primeira vez na metade
do século 19, no chamado zé-pereira, uma
espécie de passeata de foliões que ocorria nas ruas do
Rio de Janeiro. O zé-pereira desapareceu meio século
depois, ficando em seu lugar o corso, um passeio de carros e
caminhões enfeitados. Os foliões, geralmente
famílias em seus veículos, brincavam com as pessoas nas
calçadas, cantando músicas de carnaval e jogando confetes
uns nos outros. O corso desapareceu na década de 1930, junto com
os caros veículos de capota aberta.
A organização da folia surgiu no Rio
com as grandes sociedades. Esses clubes de foliões,
surgidos na década de 1850, tiveram o seu auge de popularidade
no fim daquele século. Ainda hoje desfilam no carnaval carioca,
embora atraiam pouquíssimo público. As grandes
sociedades, embora tenham origem diferente das escolas de samba,
apresentam-se com elementos comuns, como comissão de frente e
carros alegóricos, ao som de suas bandas. Elas tinham bastante
prestígio porque contavam com intelectuais e políticos
importantes. Entre os famosos, Olavo Bilac, Quintino Bocaiúva e
José do Patrocínio. Com isso, as críticas sociais
e
políticas que serviam de tema para seus carros alegóricos
eram muito significativas.
Os ranchos ou cordões, outro
dos vários tipos de festejo do início do século
20, tiveram sua origem no folclórico Reisado baiano,
encenação de uma caminhada de pastores e pastoras
até Belém. Durante essa caminhada, os participantes
cantavam e batiam de porta em porta pedindo agasalhos. Os Reisados
tinham como uma de suas principais qualidades a beleza e o luxo de suas
fantasias. Os ranchos cariocas não ficaram atrás, eram
muito organizados e evoluídos. As velhas marchinhas de carnaval
se popularizavam ao serem cantadas pelos ranchos, numa época em
que ainda não havia rádio.
As escolas de samba também têm origem
na cidade do Rio de Janeiro. Em boa parte, tinham como origem os
ranchos, e deles veio a tradição, por exemplo, do casal
de mestre-sala e porta-bandeira. O primeiro grupo a ser criado com o
título de "escola de samba" foi o Deixa Falar, em 1928 no bairro
do Estácio. Seguiu-se a ele muitos outros grupos, em diversos
bairros da cidade. Entre as escolas da época ainda em atividade
estão a Estação Primeira de Mangueira e a Portela,
que se chamava Vai Como Pode, mas teve de mudar de nome anos depois por
exigência da polícia.
Os desfiles das escolas caíram logo no
gosto popular. A praça Onze se tornou pequena para abrigar a
quantidade cada vez maior de foliões e de público, e as
escolas passaram a desfilar nas avenidas do centro do Rio nos anos 70.
Na mesma época, com a mudança na estética das
fantasias, o carnaval se tornou muito caro, e os bicheiros passaram a
financiar as escolas. A modernização da
administração das escolas nos anos 80 permitiu que os
desfiles continuassem acontecendo com o mesmo brilho, apesar da
prisão dos grandes bicheiros.
Os desfiles tornaram-se praticamente
sinônimo de carnaval no centro-sul do Brasil. No Nordeste, as
festas mais populares do carnaval são as de rua. Na Bahia, o
trio elétrico, criado em 1950 pelo lendário Dodô e
agora espalhado por todo o país, e em Pernambuco, a dança
dos blocos de frevo. Foi assim, com tanta gente participando das
folias, que o carnaval brasileiro se tornou o maior e mais conhecido do
mundo.
Por: Daniel
Perdigão Nass
Estudante de química do IQSC-USP - Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo
Estudante de química do IQSC-USP - Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo
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