Você sente que a
sua empresa perde muito tempo refazendo tarefas?
Falta alinhamento interno?
Que
os sócios tenham grandes dificuldades em chegar a um acordo sobre decisões
estratégicas?
Ou até que regras, inclusive leis, são descumpridas pelos
funcionários?
Você pode ter problemas de governança corporativa: não se assuste
com o termo: ele não está ligado apenas a corporações enormes — empresas que
ainda estão em seu início também precisam se preocupar com o tema.
Na semana passada, participei de uma mentoria online promovida pela
Endeavor e pelo Sebrae sobre o tema. Aqui, eu reuni algumas das perguntas
feitas pelos empreendedores durante a conversa, que você pode assistir na
íntegra no vídeo acima. (
O que é governança corporativa?
Governança é o meio como olhamos a gestão de um negócio considerando
diversos aspectos: administrativo, financeiro, de controles internos, mercado e
até a responsabilidade social. Na prática, ela tem quatro pilares essenciais:
- Equidade: igualdade entre os sócios e entre os funcionários da organização
- Transparência: em relação aos sócios, aos funcionários, parceiros, clientes etc.
- Controle (compliance): as regras do jogo que determinam como a organização funciona
- Responsabilidade social e ambiental: a consciência ética do impacto da organização na sociedade.
Primeiro você precisa ter clareza sobre os objetivos da companhia e os
papéis de cada um (sócios, administradores e funcionários) para alcançá-los.
Qual será a contribuição de cada um para que a empresa seja bem-sucedida.
Depois, é essencial fazer um Acordo de
Acionistas/Sócios, que determina as responsabilidades e a relação
formal entre os sócios. Outro aspecto muito importante é criar um Conselho
(Consultivo ou de Administração) com Conselheiros Independentes: um ou mais pessoas
externas mais experientes que ajudem a oxigenar as ideias dos empreendedores e
garantir a aplicação das quatro regras básicas de governança descritas acima,
bem como atuarem ativamente no pensamento estratégico da empresa.
Na mentoria online, o empreendedor Alexandre Trevisan que participou da
conversa comigo, conta que, no momento de montar um Conselho Consultivo para a
uMov.me, procurou pessoas que tinham alinhamento de propósito, valores e
crenças semelhantes às dele para que o processo transcorresse de forma mais
natural.
Além disso, a rotina de ter uma reunião mensal de Conselho envolve todas
as áreas da empresa. Cada líder é responsável por criar um resumo das ações,
indicadores e status dos projetos da área e, por outro lado, o empreendedor traz
feedbacks, orientações e direcionamentos vindos do Conselho que podem tanto
validar o que já está sendo feito como também gerar ritmo para a organização.
ASSIM, EM VEZ DE TORNAR A EMPRESA MAIS LENTA, O CONSELHO AJUDA A CRIAR
RITMO NAS TRANSFORMAÇÕES FEITAS.
Como tornar a governança um processo simples para
ajudar o empreendedor?
Se você vai criar uma empresa e tiver sócios, tem que ter em casa todas
as regras funcionando. Se você tem essa convicção, mas está envolvido no dia a
dia da empresa e não tem tempo de organizar isso de forma sistemática, esta é a
melhor oportunidade de criar seu Conselho (Consultivo ou de Administração). Dá
para começar de um jeito simples, com um conselho de 3 a 5 pessoas, para
ajudá-lo a fazer as regras funcionarem e serem levadas a sério.
Alexandre contou que a simplicidade no processo de governança passa pelo
alinhamento de valores e propósito. O objetivo é aumentar o potencial da
companhia, e não apenas gerenciar divergências.
Como a governança ajuda a empresa?
Alexandre conta que o principal ponto foi a clareza de papéis. Saber
dentro da companhia qual é a estrutura hierárquica, quais são os objetivos
esperados de cada um e qual é o papel dos sócios ali dentro, facilita a criação
de uma dinâmica mais equilibrada.
“A CHAVE É TER UMA CLAREZA DE OBJETIVOS, UM ALINHAMENTO DE MÉDIO PRAZO E
UMA HIERARQUIA MUITO CLARA PARA SABER QUEM É RESPONSÁVEL POR CADA PAPEL.”
Quais são os sinais que indicam na empresa o
momento certo de implementar a Governança Corporativa?
Quando você começa uma empresa, quando ainda são duas ou três pessoas, o
foco principal é fazer o projeto virar realidade. Nesse primeiro momento, não é
possível criar um conselho ou uma estrutura pesada. Mas os princípios de
equidade, transparência, compliance e
responsabilidade social podem ser definidos desde o início. Os valores éticos e
o propósito entre os sócios devem estar bem alinhados.
Assim, quando a empresa começa a navegar e a crescer, ela está pronta para
receber a visão de pessoas de fora, trazendo a experiência sobre os caminhos
que funcionam melhor, falando sobre o futuro e debatendo as decisões que estão
sendo tomadas. Também faz parte da governança o aspecto estratégico. A
estratégia tem que ser elaborada pelo corpo executivo, claro, mas muito
discutida pelo Conselho.
Existe algum investimento necessário para implementar esse processo?
O primeiro investimento é o mental. Se você consegue pensar nesses 4
princípios que mencionamos, não custa nada. É só pensar. Mas, quando você cria
um conselho consultivo ou de administração, tem o custo das horas gastas por
você e também pelos membros do conselho.
A governança é fator de credibilidade para o negócio, tanto preparando
para futuros investimentos, quanto para garantir transparência e seriedade na
gestão. Por isso, o empreendedor tem condições de enxergá-lo como investimento
e não só um custo.
Alexandre inclusive fez a provocação durante o nosso bate-papo online
que eu acredito ser bastante pertinente:
“Como você mensura o ganho do
empreendedor que evita fracassos e erros por conta dos conselhos que recebeu? O
tempo que você economizou com decisões que teria que tomar sozinho? É
impossível mensurar esse valor.”
Qual o passo a passo da governança para os
empreendedores pequenos?
Você pode se aprofundar com o guia de
boas práticas de governança corporativa para empresas de capital fechado ou,
se tiver à frente de uma empresa familiar, pode ainda ler o guia de
governança da família empresária. Os dois documentos foram
produzidos pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e são
guias de como proceder para seguir os 4 princípios da governança dentro do seu
negócio.
Qual é a diferença entre Conselho Consultivo e
Administrativo?
O melhor conselheiro é o travesseiro. Ao deitar, é que você tem as
maiores inspirações. Brincadeiras à parte, existem três tipos de conselhos:
administrativo, consultivo e fiscal.
O conselho consultivo sob o aspecto jurídico é menos atrelado à empresa.
Serve, quando instalado, como o próprio nome diz, para consultas dos sócios.
Desse modo, seus membros não têm poder de decisão, apenas de orientação.
Já os membros do conselho de administração dividem a mesma
responsabilidade perante terceiros, como os executivos e/ou sócios que exercem
funções de gestão na empresa. Por exemplo, se a empresa tiver problemas de
inadimplência, esses conselheiros responderão pela empresa perante as autoridades
e ou credores, mesmo que a companhia seja de capital fechado. Quando alguém faz
parte oficialmente da administração de uma empresa, sua responsabilidade é a
mesma.
É por isso que muitas empresas criam conselhos consultivos que acabam
exercendo a mesma função de discussão e orientação como se fosse o
administrativo, porém sem o mesmo poder formal de decisão e comprometimento
jurídico de seus participantes. O cuidado nesse caso está nas atas de registro
das reuniões, para que não exista nenhuma formalização de “decisão tomada” pelo
conselho consultivo, apenas “recomendações” e “orientações”, mantendo a decisão
final e formal na mão dos empreendedores/executivos da empresa.
Por fim, o conselho fiscal é um conselho que tem a finalidade específica
de examinar as contas patrimoniais e demonstrações financeiras das empresas e
será instalado nas empresas por decisão dos acionistas normalmente quando
acionistas ou sócios minoritários questionam os controladores.
Qual é a diferença entre o Conselho Administrativo
e Familiar?
No caso das empresas familiares, algumas famílias controladoras de seus
negócios, querendo preservar o legado familiar, criam seus Conselhos de Família
cujo princípio básico é o de regular e acompanhar para que os valores e
princípios básicos dos fundadores sejam preservados visando a longevidade e
união familiar. Esse grupo não participa do conselho de administração – pode,
eventualmente, até ter alguns membros participando, mas não muitos. O que ele
define é que regras do jogo a administração precisa obedecer para respeitar a
vontade da família que é a acionista controladora.
Como remunerar os membros do Conselho?
Existem diversas formas. A mais comum é de jeton mensal, uma espécie de
honorário fixo pago todo mês para quem participa do conselho. Outra forma, para
empresas iniciantes ou sem recursos para remunerar adequadamente, é oferecer
participação societária. Dependendo das circunstâncias, o custo não costuma ser
excessivo. O maior esforço, que realmente exige “investimento” é o processo mental
de criar e implementar essas práticas de modo mais efetivo.
Onde encontrar um Conselheiro Externo independente
para ter ao seu lado?
No site do IBGC, existe um banco de conselheiros formados com perfis
específicos. Analisem quais são suas necessidades dentro da empresa e descubra
quem mais atende a elas, com mais experiência na área desejada. Se você
selecionar cinco pessoas, por exemplo, pode entrevistar cada uma para entender
qual tem mais alinhamento com seu negócio, tanto em experiência quanto em propósito
e valores. Outra alternativa seria através de empresas especializadas em
Executives Search
Qual é o melhor perfil de conselheiro para fazer parte do board?
Na visão de Alexandre, o melhor é buscar um conselheiro independente.
Alguém com quem você não esteja fazendo negócio, que não seja um acionista
relevante nem que tenha um grau de parentesco com os sócios. Assim, ele
contribui de forma mais livre, buscando corrigir ou alertar para os riscos, ver
o que está acontecendo com a visão de fora e ajudar a desenhar o plano de
crescimento para o futuro. Normalmente, é um profissional de confiança dos
empreendedores que contribui de forma isenta e neutra e tem larga experiência
no setor ou nos desafios pelos quais a empresa passa.
Porém, o que o empreendedor explica nessa mentoria, é que o trabalho
deles não acaba quando se encerra a reunião. Esses conselheiros precisam estar
antenados nas reuniões e também no que tange a gestão da empresa, os números do
balanço, o orçamento e, principalmente, ter essas informações em mente antes da
reunião para chegar e contribuir com sua visão.
O que é compliance?
Em uma startup, começa essencialmente com o cuidado com o caixa, um
acompanhamento constante. Mas, de maneira geral, significa funcionar dentro das
regras e fazer com que as regras funcionem. Para entender melhor sobre esse
conceito, veja esse artigo.
De que forma a governança corporativa ajuda a
definir os papéis dos sócios?
Eu posso assegurar que a grande responsabilidade pela destruição nas
empresas não é o câmbio, as finanças, nem o mercado, mas sim o desalinhamento
entre os sócios. Esse é o pior dos males para a organização. Se eles não
enxergam um objetivo comum de crescimento da empresa, se não se perguntam: “’Eu
sou a melhor pessoa para tocar isso? Se eu fosse contratar alguém para realizar
essa função, eu me contrataria?”, a probabilidade de a empresa desaparecer é
grande. Se os sócios não se entendem, como é que queremos que os funcionários
vão se guiar?
As regras do jogo são definidas a partir dos princípios de equidade,
transparência, compliance e responsabilidade social. É preciso definir as
regras do jogo, para a convivência atual e futura substituição. O que vai acontecer
com os sucessores? Eu escolhi meus sócios, mas nossos filhos não nos
escolheram, e nem se escolheram entre si.
Copiado: https://endeavor.org.br/mentoria-online-processos-e-ferramentas-para-o-crescimento-certeiro/
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