Quando o tema é empreendedorismo, Guy Kawasaki fala sobre o assunto com conhecimento de causa. Há 30 anos na ativa, ele é um dos mais conhecidos empresários do Vale do Silício, na Califórnia, e participou de diversas start ups. O americano, com ascendência asiática, iniciou sua carreira vendendo jóias, passou por várias empresas de tecnologia (inclusive sendo o evangelista-chefe da Apple nos primeiros anos da empresa), é consultor em centenas de empresas e autor de nove best-sellers.
Em sua apresentação na ExpoManagement 2011, realizada em São Paulo, Guy Kawasaki falou mais detalhes de como conseguir encantar clientes e o que realmente é necessário para transformar ideias em ação em 10 passos.
1 - Você deve criar significado no mundo
Para Guy, as empresas que visam somente o lucro financeiro são aquelas que geralmente fracassam. Portanto, o rumo das empresas de sucesso deve ser acompanhado de algum significado; tais companhias devem realmente querer fazer a diferença no mundo. Só assim é possível convencer as pessoas a comprarem algo e que elas continuem comprando.
2 - Ter um mantra
"O mantra deve ser o guia que mostra os principais objetivos que a empresa pretende seguir. Mas não estou falando das missões das empresas, que geralmente são muito longas e os funcionários logo esquecem. O ideal é que sejam no máximo três palavrinhas; algo que vá direto ao ponto e mostre o verdadeiro sentido da empresa existir", declara Guy Kawasaki.
E o empreendedor mostra alguns exemplos: "a Nike oferece um 'desempenho atlético autêntico'; a FedEx promete 'paz de espírito' e a Ebay quer 'democratizar o comércio'. Para que todos estejam unidos em torno do mesmo propósito é necessário identificar a razão de ser da empresa e de que maneira ela atende às pessoas.
Guy | "Não se preocupe em produzir um produto perfeito. Isto não significa fazer um produto ruim, e sim que a inovação poderá conter elementos não muito bons" |
3 - Pule as curvas
Pular as curvas, resumidamente, é ficar na busca para reinventar um mercado; fazer algo totalmente diferente. O empresário disse que nos tempos anteriores à refrigeração, a indústria do gelo era formada por gente que ia para as regiões de clima frio usando cavalos e trenós para colher o gelo durante os meses de inverno. Depois veio a era do 'Gelo 2.0' — surgiram fábricas que produziam gelo em qualquer lugar. Por fim, chegou-se à era do 'Gelo 3.0', com a geladeira caseira. "A verdadeira inovação aparece sempre que pulamos as curvas, e não quando nos esforçamos para melhorar 10% ou 15% de algo", destaca.
4 – Produtos únicos
Um dos passos fundamentais para encantar consumidores é possuir, antes de tudo, um excelente produto. Há basicamente alguns elementos fundamentais para o produto dar certo, segundo o Guy.
Ser inteligente – o produto deve trazer soluções para um problema. A Ford criou, por exemplo, o MyKey. Ele permite que seja programada a velocidade máxima que o carro pode alcançar. "Imagine se você comprou um Mustang e teve que emprestar o carro para seu filho adolescente. Você pode programá-lo para que o carro não pudesse ir a mais de 60 quilômetros por hora. Acho que essa é uma ideia realmente brilhante", vibra Guy.
Ser completo - grandes produtos têm uma totalidade da experiência, o que seria uma série de melhorias, suporte técnico, ou seja, todas as coisas boas. "Não é só um produto, é a totalidade da experiência" afirma.
Elegância – trata-se da interface e designer de um produto. "É aí que a Apple realmente brilha", confessa.
5 - "Don't worry, be crappy"
Guy explica que não devemos ter medo de lançar um produto inovador, mesmo se ele não estiver pronto. Ele relembra que os primeiros micros apresentados pela Apple não tinham dezenas de funções, mas ainda sim eram revolucionários. "Não se preocupe em produzir um produto perfeito. Isto não significa fazer um produto ruim, apenas que a inovação pode não conter elementos tão bons. [...]. No Vale do Silício é assim, a gente produz, vende e só depois testa", confessa.
6. Deixe 100 flores desflorarem
Parafraseando Mao, Kawasaki disse que não sabemos onde vai surgir uma flor. Devemos simplesmente permitir que ela brote. Ele explica que as inovações poderão atrair clientes inesperados e não necessariamente aqueles previstos no planejamento.
Ele explica que nesse momento as empresas se deparam com duas situações: perguntar para alguns por que não compraram o produto ou perguntar aos outros por que elas estão comprando.
E, para ele, a segunda opção é o melhor caminho. "É muito melhor satisfazer as pessoas que já gostam do que tentar convencer aquelas que não compraram". E os motivos são simples: "Mais vantagem dar razão para as pessoas gostarem mais ainda de seu produto. [...]. Quem não comprou continuará inventando desculpas para não comprar o produto", afirma o empreendedor.
7. Polarizar as pessoas
Não tenha medo de polarizar as pessoas, pois nenhum produto serve para todos os tipos de consumidores, de todas as idades e culturas diferentes. "As empresas sempre querem criar o produto perfeito para todo mundo, e, inevitavelmente, vão cair na mediocridade".
8 - Negação
"Ser um empreendedor significa viver em negação, pois a maiorias das pessoas acharão suas ideias absurdas. Não dê ouvidos a elas.", diz Guy. Para o empreendedor, as pessoas inovadoras devem ignorar o conselho dos consumidores e das pessoas que dizem para não inovar. Somente depois de lançar o produto, quando ele chega às mãos do cliente, é hora de começar a ouvir as pessoas para melhorá-lo.
9 - Siga a Regra 10/20/30
Guy Kawasaki relata que é importantíssimo ter uma boa apresentação do seu produto, serviço ou palestra. E ele segue sua regra 10/20/30. Ou seja, utilizar até 10 slides, restringir a fala em 20 minutos de apresentação e colocar o tamanho da fonte com o mínimo de 30 pontos. Ele ainda indica que é preciso customizar a introdução da apresentação dependendo do público para o qual você falará.
10 - Não deixe os "idiotas" desmotivarem você"
Não deixe as pessoas patetas e os estúpidos colocarem você para baixo e impedirem que tene fazer coisas inovadoras. Se o palhaço em questão for apenas uma pessoa medíocre, não há problemas. Mas se for alguém rico e famoso, as coisas podem se complicar, pois as pessoas tendem a presumir que se esse alguém se tornou rico e/ou famoso foi por causa de sua inteligência. Nunca pensam que apenas tiveram sorte na vida". No entanto, ele admitiu que bancou o idiota uma vez. Em meados dos anos 90, foi chamado para uma entrevista no Yahoo para o cargo de CEO. Não foi. Ele achava que a Internet era só mais uma atividade para o modem do computador. Achar as coisas na Web tinha um valor limitado, na sua opinião. "Pelos meus cálculos, essa decisão me custou US$ 2 bilhões".
Por Fábio Bandeira de Mello, www.administradores.com.br
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