A carreira de professor universitário está fundamentada, como se sabe, no tripé pesquisa, ensino e extensão. Todavia, também lhe cabe exercer funções administrativas, as quais se somam às outras já elencadas. As funções administrativas exigem experiência e formação na área; contudo, elas muitas vezes lhe faltam.
Diante disso, parece lógico que tais funções administrativas devessem ser exercidas por servidores técnicos preparados, que delas se incumbiriam apropriadamente, sempre, é claro, em diálogo com os docentes e discentes. Afinal, devemos criar uma rede colaborativa a fim de otimizar as atividades acadêmicas em todos os seus níveis.
Ocorre que, no momento, em razão de diferentes circunstâncias, há cada vez menos servidores técnicos com a requerida qualificação à disposição dos departamentos.
Idealmente, as universidades deveriam garantir mais técnicos que pudessem assumir funções específicas, além de distribuí-los melhor entre os centros.
Aparentemente, as administrações centrais não parecem empenhadas numa mudança administrativa no curto prazo que supra a carência de funcionários apontadas acima e que delegue a eles algumas funções por ora exercidas pelos professores.
Quando isso ocorrer, o professor finalmente poderá dedicar-se integralmente ao tripé de sua carreira acadêmica.
O que parece estar acontecendo, todavia, é que, depois de todos esses anos em que as universidades foram administradas pelos próprios professores, estes passaram a achar natural ter que administrar um centro, um departamento ou um curso, mesmo, por vezes, sem dispor de uma formação prévia para isso.
Poderá resultar daí uma série de percalços de toda ordem, que vai da ineficácia ao mal-entendido, não por má-fé do administrador/professor, mas por falta de conhecimento técnico e jurídico que a sua formação acadêmica, por melhor que ela seja, não lhe dá necessariamente.
Até que ponto é ético alguém assumir uma função para a qual não está preparado?
Mas somos cobrados e obrigados a assumir esses cargos, os quais, aos poucos, estão tomando uma importância tal que, em determinados departamentos, valem mais do que as atividades intelectuais (obviamente as artísticas estão aqui incluídas) sobre as quais nós professores deveríamos realmente nos debruçar: a pesquisa, o ensino e a extensão.
A universidade deveria ser um centro de pesquisa, de reflexão e de ideias que incrementasse o diálogo constante entre professores e alunos em sala de aula e fora dela. O professor precisa de tempo e disposição para construir esse diálogo, que, com a ajuda de servidores técnicos nas funções administrativas, há de se tornar mais viável e eficaz.
Os servidores técnicos saberão, certamente, adotar a melhor forma de presidir as reuniões, que muitas vezes são intermináveis e sem um objetivo específico, para citar um ponto que me parece relevante, entre tantos outros mais.
Por Dirce Waltrick do Amarante
Professora da Universidade Federal de Santa Catarina. Pesquisadora do CNPq.
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