Em 2010 comecei a ler, por acaso, o livro O Ócio Criativo do sociólogo italiano Domenico de Masi. Quase abandonei a leitura quando, ainda na introdução, descobri que o lema do autor é “O homem que trabalha perde tempo precioso”.
Absurdo, pensei, não é o trabalho que dignifica o homem? Não é para o trabalho que somos criados desde criancinhas? Maternal, pré-escola, ensino médio, vestibular, faculdade e... Trabalho?
E justo no momento em que eu estava a todo vapor em uma grande empresa de consultoria, coordenando uma equipe grande com metas ousadas, prazos apertados, orçamento idem, havia devorado alguns livros de gestão do guru Peter Drucker, assinava revistas onde apareciam na capa aqueles super executivos de 30 anos de idade com aparência de 50, me aparece esse italiano que tem como filosofia de vida trabalhar o menos possível!
Pois é, como costumava ler no metrô, no caminho para o trabalho e não havia outra atividade mais interessante a fazer, dei uma chance ao gringo e prossegui com a leitura. O resultado disso foi uma mudança radical da minha percepção sobre as relações de trabalho, a qualidade do meu tempo livre e do meu futuro profissional.
Na teoria de De Masi “o futuro pertence a quem souber libertar-se da ideia tradicional do trabalho como obrigação e for capaz de apostar numa mistura de atividades onde o trabalho se confundirá com o tempo livre e o estudo, exercitando o ócio criativo”.
E hoje, em plena era pós-industrial, ou era do conhecimento toda essa filosofia do ócio criativo se aplica perfeitamente e arrisco dizer que não viveremos plenamente essa sociedade da criatividade, como se referia Alvin Toffler ainda em 1998, sem as mudanças profundas nas relações de trabalho que o sociólogo italiano sugere.
O mais incrível é que a leitura do Ócio Criativo, ao invés de contrapor, complementou o livro de Peter Drucker, o pai da administração moderna, que já previa essa mudança com a substituição do poder por responsabilidade, isto é, ao invés da combinação de posição e poder, na organização do futuro a mistura tem de ser de compreensão mútua e responsabilidade. Segundo ele “está na hora de deixarmos de pensar em empregos ou carreiras como no passado e pensar em termos de assumir atribuições uma depois da outra”.
Nesta nova sociedade o poder claramente se deslocou dos donos das empresas para os donos do conhecimento inovador, o patrimônio físico, os bens materiais perderam posição para os bens imateriais, o design, a estética, os valores inovadores que dependem da criatividade. Por isso esta será a sociedade da criatividade.
E como seremos inovadores, criativos se vivemos / trabalhamos como os operários da época da revolução industrial no século XVIII? Acordamos todos na mesma hora, seguimos em procissão para o trabalho realizado, geralmente, em ambientes monocromáticos, termicamente controlados e motivados à base daquele cafezinho intragável. Almoçamos todos na mesma hora e retornamos de tarde à mesma rotina matinal até que se cumpram as horas contratuais ou além, para demonstrar comprometimento ou a convicção (equivocada) de que quanto mais tempo se passar no local de trabalho mais se produzirá.
De Masi defende que a quantidade total de ideias produzidas não é diretamente proporcional à quantidade de horas de permanência no interior da empresa. É exatamente o contrário: quanto menos se sai da empresa, menos se recebe estímulos criativos.
E é aí que o lema “O homem que trabalha perde tempo precioso” começa a fazer sentido. Quem exerce o trabalho contemporâneo ao qual fomos educados segundo o modelo americano, que só será feliz aquele que trabalhar bem (ou muito) certamente não tem tempo para desenvolver outras atividades alheias àquelas voltadas ao seu objeto de trabalho e que podem contribuir para seu desenvolvimento pessoal, sua capacidade cognitiva, enfim, sua criatividade. Na maioria dos casos o sujeito não tem tempo para cuidar da própria saúde!
Como este profissional se manterá competitivo em um mercado onde a inovação é a maior virtude? Hierarquias flexíveis irão surgir para acompanhar o poder descentralizado das redes de produção. A era da criatividade também será a era do trabalho freelance, colaborativo e, de certa forma, inseguro. O trabalho já não é mais o lugar aonde você vai todos os dias, trabalho já é o que você faz, as atividades que você desempenha. As pessoas não serão mais remuneradas apenas pela presença física, cada vez mais o desempenho e a performance serão considerados.
E você? Está se preparando para viver nesta sociedade da criatividade e do empreendedorismo como um profissional do conhecimento ou um operário do século XVIII?
Por: Daniel Whately - https://www.linkedin.com/pulse
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