Atingir um lugar de valor no mercado é a meta das organizações que, muitas vezes, recorrem ao olhar externo de consultorias e assessorias para auxiliá-las em seu desenvolvimento. Conheça as diferenças entre as soluções e defina qual é a ideal para a sua empresa
Atentas
às constantes atualizações e complexidades do mercado, empresas de diferentes
segmentos e portes têm recorrido à expertise dos serviços de consultoria e
assessoria que, com uma visão externa à organização, assumem o papel de
redefinir estratégias e trazer novas ideias, além de auxiliar no
desenvolvimento e crescimento do negócio.
Embora
cada um dos serviços apresente resultados distintos, ambas as soluções podem
criar diagnósticos da organização, bem como analisar a empresa, discutir seus
problemas e propor alternativas para solucioná-los. “No entanto, enquanto o
consultor encerra seu trabalho ao apresentar suas recomendações, o assessor
geralmente se envolve na resolução do problema, ou seja, ajuda a implantar a
solução proposta”, explica Adriano Correa, partner, advisory &
corporate finance da BDO Brazil, quinta maior empresa de auditoria e
consultoria do país.
O
trabalho de consultoria pode ser realizado em uma área específica, em conjunto
com outros setores ou, ainda, abrangendo toda a empresa. Após a análise do
diagnóstico é feita a emissão de um parecer técnico com apontamentos, sejam
eles positivos ou relacionados à necessidade de aperfeiçoamento, da real
situação em que se encontra a organização, bem como sugestões de melhorias. “A
partir da apresentação do relatório, os gestores, com ou sem o apoio do
consultor, decidem a melhor forma de atender às observações”, completa o Adm.
Anderson Murilo de Lima, representante institucional
do CRA-SP e sócio-diretor da Celleiro Mundial Consultoria
Ltda, empresa especializada em gestão de pequenas e médias empresas.
O
administrador comenta, ainda, que o trabalho de assessoria entra em cena quando
a organização não dispõe de colaboradores com conhecimento técnico suficiente
para executar as propostas indicadas pelo consultor. “A assessoria auxilia nos
processos e implementa soluções alinhadas ao relatório da consultoria. A
velocidade dos resultados vai depender de vários fatores, como recursos
financeiros disponíveis, infraestrutura, recursos humanos, legislação, além de
um ponto muito importante: a interação junto aos setores da organização”, diz
Lima.
Em que momento é recomendável buscar por esses
serviços?
São
vários os motivos que levam as companhias a procurarem por uma consultoria ou
assessoria. Diogo Dias, sócio e líder da área de Riscos, Governança e Compliance da
KPMG, organização global referência nos segmentos de Audit, Tax e
Advisory, lista alguns: a necessidade de atendimento a novas
regulamentações, a avaliação de riscos aos negócios e aos processos, além das
questões estratégicas e de compliance.
Além
desses fatores, outras razões tornam recomendáveis a presença de um
especialista externo na organização, segundo o sócio da BDO. A primeira delas é
quando a empresa se depara com um problema que não consegue resolver sozinha,
seja por falta de capacidade técnica ou porque teve um crescimento acelerado
sem o devido acompanhamento de capital humano.
Outra situação é o aumento de uma demanda pontual, que pode ser sanada por um especialista sem a necessidade de se manter o recurso durante o ano todo. Além disso, existem as decisões arriscadas, que são sempre difíceis de serem tomadas. “Muitos gestores optam por consultar um terceiro para alinhar as prioridades, discutir rotas possíveis e validar com uma fonte externa suas ideias, antes de apresentar aos acionistas”, conta Dias.
Entre as
vantagens da contratação de apoio profissional está o fato de a organização
manter-se sempre atualizada com as melhores práticas, tendências e
regulamentação. “Algumas empresas entendem que a visão de um consultor/assessor
especialista no tema e com experiência de mercado traz um diferencial
competitivo para o negócio”, revela o sócio da KPMG.
O que é preciso saber antes de contratar esses
serviços?
Segundo
Ronaldo Fragoso, sócio de Risco Regulatório e líder do Alliance Program da
Deloitte, organização global líder em serviços de Auditoria, Consultoria,
Assessoria Financeira e Risk Advisory, a empresa que deseja
contratar uma organização de serviços consultivos deve conhecer o portfólio e
as capacidades técnicas da contratada. “Entender exatamente o desafio e os
objetivos de cada organização e o que cada uma precisa para se desenvolver e
atingir um lugar de valor no mercado, alinhando isso com o profissional da
área, é o que vai determinar a eficácia da contratação de uma empresa de
aconselhamento”, sugere.
Por isso,
é essencial que a organização saiba, de forma clara, o tipo de ajuda que
deseja, afinal, as necessidades de cada negócio são muito particulares e podem
levar a soluções distintas. Daí em diante, a empresa consegue afinar os
critérios de seleção do assessor ou consultor que melhor irá auxiliá-la.
“Conheça sua demanda. Se você busca um diagnóstico do seu negócio e análise de
cursos de ação alternativos, talvez um consultor seja suficiente para ajudá-lo.
No entanto, se precisar de ajuda também na implantação do plano, talvez seja
viável investir em um assessor”, afirma Correa.
Outro
ponto importante, destacado pelo diretor da Celleiro, é o de avaliar se a
consultoria ou assessoria está legalmente constituída, se cumpre os prazos
determinados e se o profissional ou a empresa estão devidamente registrados no
CRA ou no respectivo conselho de classe (caso seja de outro campo de atuação).
Além disso, é necessário exigir a apresentação das certidões de nada consta de
tributos, entre outras informações que julgar importantes.
Dia a dia
Como cada
empresa tem a sua própria cultura, o desafio mais comum que os especialistas
encontram na implementação de melhores estratégias é o de customizar os
projetos. “O mesmo tema em empresas similares pode ter soluções diferentes.
Entender as particularidades da organização é essencial para o sucesso da
consultoria”, afirma o sócio da KPMG.
Há,
ainda, o risco de ruídos de comunicação com o
público interno da empresa, que pode prejudicar o projeto.
“É comum ter colaboradores na companhia que acreditam que os consultores e
assessores estão lá para substituí-los, realizar operações de downsizing
(redução de pessoal ou custos) ou identificar falta de competência interna, o
que não é o caso. A alta administração da empresa pode reconhecer o mérito de
seus colaboradores e, buscando o seu sucesso, trazer auxílio externo para
potencializar o trabalho e desempenho de suas equipes. No entanto, quando
falham em comunicar isso, os colaboradores que se sentem ameaçados começam a
não cooperar e a torcer contra o projeto, prejudicando seu andamento, a
qualidade das análises e/ou o cronograma de implantação das melhorias
propostas”, comenta o sócio da BDO.
Área em alta
Em um
cenário geral de mercado, o setor de consultoria tem se firmado como um grande
segmento de pequenos negócios. De acordo com a edição 2019 da pesquisa “Perfil
das Empresas de Consultoria do Brasil”, realizada pelo Laboratório da
Consultoria, com execução da Método Estratégia e sob responsabilidade do
consultor Luiz Affonso Romano, as pequenas empresas respondiam por 84% dos
negócios na área e as gigantes representavam apenas 1,8%. Há, também, uma
grande demanda por esses serviços nos setores de agro, indústrias, saúde,
energia, varejo, TMT (tecnologia, mídia e telecomunicações) e startups.
Segundo
Fragoso, o mercado de consultoria vive um momento de crescimento e
transformação. Ele conta que na Deloitte há um leque de Advisory (envolvendo
assessoria e consultoria), que vai além do aconselhamento e abrange uma gama
diversa de soluções. Nesse leque existem diferentes frentes, sendo a
consultoria empresarial o maior negócio da organização no Brasil, em franca
expansão: cresceu 26% no ano fiscal de 2021 e o dobro dessa taxa em 2022. A
área atualmente corresponde a 29% das receitas da empresa e deve chegar, em
2024, a um terço delas.
“Essa frente de negócio ultrapassa o papel
tradicional de aconselhamento simples e dedica-se a executar uma mudança
completa, partindo da estratégia, executando a implementação e assumindo a
operação. Temos implementado projetos vultosos de transformação digital entre
os maiores do mercado”, diz Fragoso.
Contudo,
na visão do sócio da BDO Brasil, o mercado estava bem aquecido até o ano
passado, pois apesar dos efeitos da pandemia o País vivenciava um período de
prosperidade econômica, em comparação a seus pares. Em 2021, por exemplo, houve
um número expressivo de fusões e aquisições e, nos últimos
anos, um grande volume de IPOs
(ofertas públicas iniciais) e investimentos externos.
“Em 2023, vemos vários países antecipando a crise econômica. No Brasil, diversos especialistas estão pessimistas em relação à economia, o que, somado à turbulência política e insegurança jurídica, não contribui para visões otimistas de mercado. Assim, é possível que muitas empresas reduzam gastos e investimentos até que a situação econômica se estabilize. Entretanto, problemas também são oportunidades. Crises levam as empresas a reverem seus modelos de negócios, orçamentos e planejamentos. Nesses momentos, é comum que elas contem com consultores e assessores externos para ajudar em redução de custos, operações de turnaround (retomada) e recuperações judiciais e extrajudiciais, o que gera oportunidade de serviços”, explica Correa.
Assim
como as grandes corporações recorrem ao apoio especializado de consultorias e
assessorias, as pequenas e médias empresas, bem como as organizações familiares, também
buscam alternativas que as mantenham vivas, ativas e que, sobretudo,
possibilitem concretizar a expansão de seus negócios passando o legado às
próximas gerações.
No
entanto, ainda há uma lacuna de dúvidas e inseguranças dos CEOs no que tange ao
momento certo de “quebrar a casca” e procurar soluções por meio de ajuda
profissional, seja uma consultoria ou assessoria. “Muitos empreendedores têm a
postura e a crença de que apenas eles têm competência para solucionar os
problemas que vão surgindo em seu empreendimento. Aliado a esta postura, há a
falta de recurso financeiro disponível, de planejamento, de atendimento
adequado à legislação e de informações sólidas e confiáveis sobre onde buscar
ajuda”, comenta Lima.
O
especialista afirma que ainda há a necessidade de se trabalhar o acesso das
MPEs ao trabalho de consultoria e assessoria, bem como o contexto de
informações sobre o setor, mas que, independente do porte da organização, o
atendimento sempre é pautado na ética, na transparência e na clareza das
necessidades a serem atendidas.
Oportunidades para os administradores
As áreas
de consultoria e assessoria são um grande mercado para os administradores. De
acordo com a pesquisa de boas-vindas, realizada pelo CRA-SP em 2022 e que
contou com 931 respostas, 14,1% dos profissionais que se registraram no
Conselho no ano passado atuam em assessoria ou consultoria empresarial. As
áreas ficaram em segundo lugar no levantamento e perderam apenas para finanças,
setor que engloba uma série de vertentes e que teve 15,6% das respostas.
Para se
destacar nesse segmento, é importante que o profissional saiba aliar
habilidades técnicas à soft skills e se desenvolva
constantemente para entender as dores do mercado. “Conhecer a necessidade e as
soluções mais modernas existentes para ajudar o cliente no processo de
transformação e resolução de problemas é o que abrirá as portas aos
profissionais e garantirá o sucesso deles”, sugere Fragoso.
Além de
gostar de resolver problemas, o profissional precisa ser responsável, criativo,
trabalhar bem em equipe e saber se comunicar. “É necessário investir na busca
contínua de conhecimento, principalmente em idiomas, dado que há muitas
demandas que envolvem mais de um país. E, claro, ter domínio de programas
básicos como editores de planilhas eletrônicas, processadores de texto,
softwares de apresentação de slides e de análise de dados”, conclui Correa.
Por Karen Rodrigues - https://crasp.gov.br/
Nenhum comentário:
Postar um comentário