Se o "maranhês" impressiona e desperta a curiosidade de quem mora no próprio Maranhão, imagine de quem vem de outros estados e países?
A variedade linguística local é enorme e faz jus a uma população estimada em mais de 7 milhões de habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Cada vez mais popular, o modo de falar tão próprio e característico dos maranhenses vem conquistando muita gente e inspirando títulos e muito conteúdo digital com a criação de podcasts, blogs, perfis na internet, além de estampar diversos tipos de produtos e serviços de empresas locais.
Com saudade do Maranhão, morando há 16 anos no Rio de Janeiro, o fotógrafo Mardonio Santos, 32, criou um perfil na internet, onde compartilha a culinária, brincadeiras e o ‘dicionário’ maranhês.
“A primeira vez que fui a uma padaria no Rio, na inocência, pedi R$ 3 reais de ‘pães misturados’. Quando falei isso, as pessoas [presentes] pararam e me olharam de uma forma bem engraçada, aí já fiquei ‘encabulado, ó’ e o atendente sorriu e explicou que lá não existia pão misturado e sim pão francês e suíço. Depois foi a minha vez de explicar sobre os pães ‘massa grossa e massa fina”, contou Mardonio, com humor.
Para outros, é ainda mais difícil matar essa saudade. A profissional de relações públicas Samira Nogueira, 30, mora em Portugal há dois anos.
“Tem algumas palavras e bordões maranhenses que me remetem a situações de felicidade, como ‘Éguas’ e ‘Tu é doido’.
Expressá-las tornava tudo mais leve e engraçado. No português de Portugal, não tem nenhuma expressão parecida, tudo é muito sério e formal. Aqui, conversando com minhas amigas, soltei um ‘Mermã’ e elas ficaram sem entender, mas foi tão libertador. Hoje, elas passaram a utilizar nas nossas conversas. É o maranhês cruzando fronteiras!”, comemora e se diverte.
Identidade cultural
A professora Elaine Raulino, 52, que tem formação em Letras e mestrado em Cultura e Sociedade, explica que o discurso, a participação do sujeito enquanto produtor do discurso, os contextos nos quais ele está inserido e as competências da língua é que formam a identidade linguística de uma pessoa. “A língua vai variar de acordo com alguns fatores contextuais”.
A especialista cita os quatro tipos de classificação para as variações da língua:
- a diacrônica, quando sofre influência do tempo;
- a diatópica, quando muda de acordo com a região;
- a diastrática, que sofre a influência das características sociais; e a
- variação diafásica, quando sofre com a influência do estilo.
Há quem acredite que o maranhense tem uma relação muito próxima com o próprio rosto, como o professor de inglês e literaturas Gustavo Mayran, 30, que, recentemente, explicou o que significava o famigerado ‘Eu tô é tu’ em seu Twitter.
- “Aqui não dizemos: ‘eu te avisei, você não me deu ouvidos’, mas: ‘muito bonito pra tua cara, te faz de doido de novo’.
- Não perguntamos: ‘Você tá de brincadeira comigo?’, mas: ‘Minha cara tá é pra chafurdo mesmo?’.
- Não lamentamos com: ‘Esse tipo de situação só acontece comigo’, mas com: ‘Essa minha cara aguenta coisa, menino!’
- E, se quisermos dizer: ‘Você é cínico’, apertamos os olhos pra dizer ‘Essa tua cara nem treme’, brincou.
E quando um termo pode ser interpretado de várias maneiras? A digital influencer Leticia Amorim destaca dois: ‘Éguas e siow’.
“Eu uso o ‘Éguas’ para tudo! Quando estou surpresa, feliz, triste e, principalmente, quando me deparo com preços que não cabem no meu orçamento”, comentou ela em uma página da internet aos risos. A O Imparcial, Leticia afirma que outra expressão semelhante é ‘Siow’, que ela diz usar quando está suspeitando de algo, quando acha que alguma coisa vai dar errado ou para chamar alguém.
De acordo com Elaine, o "maranhês", como qualquer outro dialeto específico de uma língua, é dinâmico. “Vem criar a nossa formação identitária, sociocultural e sócio-histórica. O "maranhês" está mais popular porque está havendo uma tendência da linguagem mais encorpada, com as contrações da língua e pela influência, sobretudo, do ‘internetês’”, esclarece.
Alguns maranhenses ainda vão mais longe: unem os termos formando uma frase só, a exemplo do Paulo Ricardo Buna, comediante de 29 anos. “Não consigo imaginar outra expressão de espanto além do ‘Égua, siow’. É difícil dizer qual é o melhor [termo]. Um ‘Piqueno’, por exemplo, só quem é daqui sabe a hora certa de usar.
O "maranhês" é a nossa identidade, é o que nós somos, é a nossa carga genética. Ninguém consegue explicar ao certo de onde ou como surgiram as expressões, só sabe que foram passadas de pai pra filho, de avô pra neto e etc”, observa.
Perguntado sobre o que seria o melhor do "maranhês", Paulo não hesita.
“É ser maranhense! É ser reconhecido em outras partes do mundo. É ter esse jeitinho de ser engraçado. É ter orgulho dessa terra, desse chão, dessa cultura”, finaliza o comediante.
Separamos alguns termos e expressões mais comuns do dicionário "maranhês" com seus respectivos significados para você, caso ainda não tenha, adicionar ao seu vocabulário.
Confira:
- Piqueno/Piquena – Menino/Menina
- Piqueno tu é o raio – Menino, você é rápido, esperto
- Vai pra baixa da égua ou pra caixa prego – Vai para longe
- Pior – Verdade
- Nã, Nam, Nem – Não
- Marmenino – Mas, menino
- Mas rapaz – Marrapaz
- Armaria – Avé Maria
- Rapá, sio – Rapaz, menino
- Mermã – Mana, irmã, amiga
- Cabuloso – Sem graça
- Marróia – Mas olha
- Brocado – Com muita fome
- Té doido – Tá doido
- Aqui tá remoso – Aqui está perigoso
- Perainda – Espera um pouco
- Triscar – Cutucar
- Banhar – Tomar banho
- Mangar – Debochar
- Só quer ser – Pessoa metida
- Dá teus pulos – Se vira
- Sem mentira nenhuma – Era uma vez
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