Um dos grandes desafios para qualquer pessoa é sobre como lidar com as emoções pois isso, muitas vezes, acaba interferindo na qualidade do nosso trabalho, da nossa vida profissional.
Esta reflexão me veio à cabeça esta semana, pensando nas minhas aulas, em estratégias de ensino, nas dificuldades que muitos alunos têm em participar das discussões por se sentirem de alguma forma “travados”.
Daí lembrei do meu próprio exemplo, quando tive que entrar em sala de aula pela primeira vez no papel de professor, o quanto aquilo foi difícil, o quanto aquele momento foi, de alguma forma, complicado (apesar de estar realizando o que era meu propósito profissional).
Mas todas essas situações estão intimamente ligadas a um turbilhão de emoções que nos afetam o tempo todo e que, algumas vezes, nos dominam de forma que nos sentimos travados, impotentes e até mesmo incapazes.
A emoção é, portanto, tudo aquilo que sentimos quando alguma coisa nos traz sentimentos à tona. Isso pode ter como causa um estímulo externo (provocado, por exemplo, por outra pessoa ou um acontecimento) como também pode ser algo interno (uma lembrança de uma situação vivenciada, por exemplo).
Claro que diferentes pessoas experimentam diferentes emoções mesmo diante das mesmas situações. Cada emoção vai ser influenciada por nossa história de vida, nossa personalidade, nosso temperamento, nossas crenças e motivações. E precisamos muito ter essa consciência para evitarmos cobranças e incompreensão com nós mesmos e como os outros. Pois as nossas emoções afetam as outras pessoas, a nossa vida e o nosso trabalho.
Isso nos ajuda a entender porque alguns travam quando têm de falar em público e outros exercem a oratória divinamente bem. Ter essa consciência ajuda a sermos mais empáticos, compreendermos melhor os outros, facilitando a convivência no ambiente profissional e familiar.
A maturidade e o autoconhecimento, a meu ver, são fundamentais para lidar com esse processo, entretanto, precisamos ser mais empáticos com aqueles que convivem conosco em casa ou no trabalho. Depois que aprendi isso passei, por exemplo, a compreender melhor as dinâmicas das minhas aulas e formas de melhor avaliar os meus alunos. O potencial de muitos pode estar sendo encoberto, justamente, por algum tipo de emoção que impede o se pleno desenvolvimento.
As emoções não só geram uma influência psicológica em nós como também podem ser tão fortes que são perceptíveis fisicamente. Quem nunca sentiu o coração acelerado, a boca seca ou o intestino bagunçado diante de alguma situação?
Infelizmente, tem dias que não estamos bem e não é fácil, simplesmente, virar a chave e fingir que está tudo normal. Por mais que procuremos agir com profissionalismo, por mais que muitos nem percebam, no final do dia você reconhece que não pôde dar o seu melhor, que as suas atividades não renderam da forma que gostaria.
Por mais que, em alguns casos, seja saudável separar a vida pessoal da profissional, colocar isso em prática não é tão simples e, talvez nem seja possível, sobretudo, quando falamos das emoções que nos afetam no dia a dia.
E parece que durante a quarentena, devido a esta pandemia, ficamos até mais sensíveis à esta questão, principalmente, porque muitos estão em “home office” e aí, o seu local de trabalho é o seu próprio lar.
Do mesmo modo que a felicidade é contagiante e nos fortalece, aquelas emoções tóxicas (tristeza, decepção, ódio, inveja, amargura, raiva, ódio etc) são bem complicadas de se lidar e nos trazem muitos prejuízos, enfraquecimento e contagiam as nossas ações de uma forma que pode ser bem negativa.
A toxicidade de algumas emoções pode até prejudicar os outros mas, com certeza, a maior vítima somos nós mesmos.
Nós somos humanos e, por natureza, seres emocionais e são essas emoções que vão moldando o nosso comportamento. Refletir sobre nós mesmos e buscar o autoconhecimento é fundamental nessa caminhada para "dominar" as emoções tóxicas.
As situações da vida e as pessoas fazem que tudo aconteça automaticamente e despertam emoções sem pedir permissão. Ninguém escolhe se sentir triste, angustiado, decepcionado. Acredito que o importante é que, após esse turbilhão de emoções, possamos refletir, de forma clara e sincera, para tomarmos consciência dos motivos que nos fazem sentir o que sentimos.
Deste modo, temos a oportunidade de transformar tudo isso em experiências de vida, que nos "blindem" dos sentimentos tóxicos e nos permita conviver de forma mais harmoniosa com estas emoções.
Mas com o tempo e, vivenciando essa experiência, pude notar que esses fantasmas eram todos criações da minha cabeça. Eu havia me preparado para aquele momento, eu tinha responsabilidade para isso, as pessoas ali não estavam para julgar e sim para aprender.
O friozinho na barriga ainda existe mas você aprende a lidar com isso sem se permitir travar ou prejudicar a sua performance.
Por isso, digo que precisamos de coragem para enfrentar os nossos medos e as emoções que não nos fazem sentir tão bem. Ao enfrentá-las, com o tempo, aprendemos a tirar lições e transformá-las em experiências. É na verdade um processo de ressignificação, em que aprendemos a dar outro significado àquilo que era tóxico.
Por exemplo, o frio na barriga ao falar em público deixa de ser uma trava para significar um troféu de um momento que era desejado por você.
E, assim, ressignificando, permitimo-nos evoluir. Enfrentando, aprendendo o que nos causa aquela emoção podemos ir nos desprendendo e nos libertando de muitos medos que nos travam. Desta forma, fazemos as coisas fluírem com mais tranquilidade e equilíbrio.
É preciso olhar como muito carinho e sinceridade para nós mesmos para compreender as questões que nos compõem e nos afetam. Depois é importante estender esse olhar para os outros. E como diz a uma passagem muito bonita da Bíblia, "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará!” (Jo 8,32).
Copiado: Patrick Pedreira - Professor e autor do livro "Carreira sem atalhos"
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