Entre competidores favoritos ao Oscar como Martin Scorsese e Quentin Tarantino, quem se destacou na cerimônia de domingo (9) foi o diretor sul-coreano Bong Joon-ho.
Com o filme Parasita, ele levou dois dos principais prêmios da noite, de diretor e filme do ano, além de mais duas estatuetas por melhor roteiro original e melhor filme estrangeiro.
Além de conquistar o público com sua sinceridade, declarando no discurso que ia comemorar bebendo a noite toda, sua postura durante toda a temporada de premiações mostra características importantes de um bom líder.
Segundo Roberto Aylmer, médico, PhD e professor internacional da Fundação Dom Cabral, o papel de diretor numa produção cinematográfica é de uma liderança complexa, que precisa encabeçar diversas frentes do processo.
Pelo lado criativo e visionário da posição, muitos correm o risco de ceder à vaidade, um traço que pode arriscar a performance de um líder e entrar em conflito com os talentos que precisa gerir.
“Bong Joon-ho não age como uma estrela. Ele não estava naquele palco para ser aplaudido, mas por acreditar no seu filme. Ele é o tipo de liderança que joga para fazer seu melhor”, explica Aylmer.
Esse é o primeiro traço de um bom líder que o sul-coreano ensina.
O "segundo ensinamento" de Joon-ho é seu gesto honroso em relação a seus competidores, demonstrando humildade e lembrando quem foram seus professores.
Em seu discurso de vitória no palco do Oscar, o diretor mencionou um ensinamento de Scorsese que o inspirou desde o começo da carreira.
“Quando eu era jovem e começando no cinema, havia uma frase que ficou marcada no fundo do meu coração: ‘o mais pessoal é o mais criativo’. É uma citação de nosso grande Martin Scorsese”, declarou Joon-ho.
“Nunca se fala no discurso de nossos professores. Então a segunda grande marca de um bom líder é a gratidão ao reconhecer sua história e suas fontes de inspiração. Novamente, ele não precisa do holofote, valorizando o outro e seu reflexo sobre seu trabalho”, diz Aylmer.
Uma faceta importante, mas não muito comentada da humildade, vem de sua origem: do latim “humus”, que se refere ao solo, a palavra mostra a necessidade de manter os pés nos chão durante a jornada.
No passado, Joon-ho se referiu ao Oscar como uma premiação local de cinema por celebrar mais as obras norte-americanas. No entanto, ele não deixa de reconhecer a importância e impacto cultural dessa indústria e seu maior prêmio.
Foi o equilíbrio entre saber reconhecer seus pares e manter a confiança em seu trabalho que o colocou em evidência entre os grandes nomes da área, quebrando anos de tradição e tornando Parasita o primeiro filme em língua estrangeira a vencer como melhor filme.
“Não é necessariamente abaixar a cabeça, a humildade é se posicionar e também saber colocar suas críticas”, diz Aylmer.
Um momento emocionante da premiação foi a visível alegria do time de produção e do elenco do filme a cada vitória. Estavam todos prontos para celebrar seu líder.
E o sentimento era recíproco. No SAG Awards, premiação do sindicato de atores de Hollywood, as estrelas de Parasita ganharam o prêmio como melhor elenco e Bong Joon-ho ficou na plateia aplaudindo o grupo e tirando fotos como um fãs orgulhoso.
Esse elemento demonstra um ponto importante da liderança moderna que rompe com ideias tradicionais dentro de organizações: o fim de hierarquias.
“A equipe tem paixão por ele e você vê que ele cuidou bem de seu time. Ali não tem hierarquia ou superioridade, mas uma comunhão e celebração pelo resultado”, explica Aylmer.
O traço é marcante também com a presença constante de sua tradutora no palco e no tapete vermelho, a diretora aspirante Sharon Choi, que foi elogiada e destacada pelo diretor durante entrevistas.
“Normalmente, o tradutor é uma figura invisível. Ao demonstrar a importância dela, ele compartilha seu prestígio e destaca o valor humano de seu trabalho”, comenta o especialista.
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