terça-feira, 19 de abril de 2022

Síndrome da Impostora: o Que É e Como Lidar com Ela?

 


Você pode nunca ter ouvido falar sobre a síndrome do impostor, mas é possível que ela já tenha rondado a sua vida — sobretudo se você for mulher. A sensação de que o sucesso atingido não foi merecido é bastante comum, especialmente entre as mulheres. A síndrome da impostora, infelizmente, faz parte do dia a dia de profissionais, estudantes, mães e filhas que, na verdade, têm plena capacidade e talento para estar onde estão.

O tema ganhou algum destaque nos últimos anos, quando personalidades como a ex-primeira dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, falaram publicamente sobre esse sentimento de duvidar das próprias conquistas. Além disso, recentemente, no Brasil, o conceito também tem estado presente em debates sobre empoderamento feminino.

Mas quais são os fatores causadores da síndrome da impostora e por que ela é mais frequente entre as mulheres? De que forma o fenômeno impede o protagonismo feminino no mercado de trabalho e como as empresas podem ajudar a mudar o cenário? 

Neste artigo, vamos aprofundar essas questões e falar também sobre o Teste de Clance, uma escala que mede o quanto a síndrome do impostor pode estar afetando a sua vida. Acompanhe!

O que é síndrome do impostor?

De forma resumida, a síndrome do impostor é o nome atribuído a um sentimento de que você não é bem sucedido porque o merece e que, em algum momento, todos irão descobrir que você não passa de uma fraude.

Apesar de ter ganhado visibilidade mais recentemente, o conceito de “síndrome do impostor” foi descrito pela primeira vez em 1978, em um artigo escrito por Pauline R. Clance e Suzanne A. Imes, cujo título é “The Impostor Phenomenon in High Achieving Women: Dynamics and Therapeutic Intervention(“O fenômeno do Impostor em mulheres bem sucedidas: dinâmicas e intervenções terapêuticas”, em português). 

No estudo, as pesquisadoras americanas analisaram 150 mulheres que, reconhecidamente, haviam alcançado êxito em suas carreiras. No entanto, embora as suas conquistas profissionais e acadêmicas fossem evidenciadas e publicamente reconhecidas, descobriu-se que boa parte da amostra tinha forte tendência a uma impostura intelectual interna que não lhes permitia valorizá-las.

Desde então, outros estudiosos e estudiosas se uniram a Clance e Imes e passaram a investigar o tema. Hoje, sabe-se que a síndrome da impostora identificada entre aquelas mulheres traz a sensação irrealista de que as suas próprias capacidades estão sendo superestimadas. Sendo assim, quem é atingido pelo fenômeno tem a impressão de estar enganando as outras pessoas ou de não ser merecedor dos próprios êxitos, como se eles fossem resultado de sorte ou do acaso.

E por que o fenômeno acomete mais as mulheres? 

Embora não seja exclusividade de nenhum grupo específico, é fato que o fenômeno é mais comum entre as mulheres. Logo, não foi por acaso que a síndrome da impostora tenha sido observada pela primeira vez em um estudo que utilizou como amostra um grupo de representantes do gênero feminino. 

As razões da crença de que não se é realmente competente e de que o sucesso se deu por sorte podem estar relacionadas a características da personalidade. Porém, elas também podem estar relacionadas à infância, à classe social, à raça e ao gênero. Clance e Imes destacaram, ao longo de suas pesquisas, justamente a internalização de estereótipos de gênero como um dos agentes geradores da síndrome da impostora.

Se, por um lado, os homens tendem a superestimar as suas conquistas, as expectativas ligadas ao papel da mulher na sociedade as colocam em uma posição de desconfiança em relação à sua própria inteligência — o que, inevitavelmente, traz consequências negativas às suas vidas.

Quais são os “sintomas” da síndrome da impostora?

Alguns sinais podem ajudar a entender se uma pessoa é afetada pela síndrome da impostora. Eles não são considerados exatamente “sintomas”, pois, apesar de ter se popularizado como “síndrome”, os estudos desenvolvidos até então o consideram um “fenômeno” e não um distúrbio.

De qualquer forma, ele vem acompanhado de efeitos indesejados e também pode contribuir para desencadear outros problemas, como transtorno de ansiedade e depressão. Sendo assim, é importante ter atenção a alguns sinais:

  • Crença de não ser boa o suficiente e sentimento de fraude;
  • Sensação de não pertencimento ao meio onde se está;
  • Medo de ser descoberta e culpa por estar “enganando” as pessoas;
  • Ansiedade pós-sucesso;
  • Perfeccionismo e baixa auto-estima;
  • Insegurança ao ser avaliada e medo da comparação;
  • Dificuldade de receber elogios e de se apropriar do sucesso;
  • Receio de não conseguir repetir os resultados anteriores.

Síndrome da impostora e protagonismo feminino nas organizações

É sabido por inúmeros estudos que as mulheres costumam ter salários menores e que a maioria dos cargos de liderança das empresas são ocupados por homens. Além disso, em função de todas as questões relacionadas às construções sociais de gênero, o mercado de trabalho é mais rígido e exigente com as mulheres. Também é comum haver uma significativa discrepância na forma de tratamento de homens e mulheres, desde a entrevista até o dia a dia corporativo, motivada principalmente por vieses inconscientes

É evidente que esse cenário é também um dos fatores que ajudam a aumentar a insegurança e contribuir para que as mulheres desenvolvam a síndrome da impostora. Todavia, temos uma faca de dois gumes: a autossabotagem feminina, claramente, atrapalha a ascensão dessas profissionais.

Um levantamento feito pela empresa de tecnologia HP mostrou, por exemplo, que a maioria das funcionárias só se candidataria para uma determinada vaga se preenchesse 100% dos requisitos. Os homens, por sua vez, se candidatariam mesmo tendo somente 60% das competências exigidas para o cargo.

Isso mostra que a desconfiança em si mesma relacionada à síndrome da impostora, de fato, traz consequências destrutivas para a carreira das mulheres e impedem o protagonismo feminino nas organizações.

Por que as empresas devem contribuir para o desenvolvimento de suas lideranças femininas?

Por outro lado, diante desse contexto, as empresas também precisam fazer a sua parte e podem ajudar a combater a síndrome da impostora. Reconhecer o talento e a competência das mulheres e valorizar o seu êxito é fundamental e deve ser feito de forma concreta, ou seja, por meio de incentivos reais — como salários, cargos e planos de desenvolvimento. 

Para isso, as organizações precisam ter uma cultura que considere importante a representatividade feminina em diretorias e conselhos e que priorize a diversidade e a inclusão. Os benefícios de uma postura desse tipo atingem não apenas os colaboradores, mas também os negócios, como vêm mostrando diferentes estudos recentes. 

Uma pesquisa do Boston Consulting Group (BCG) constatou, por exemplo, que aumentar a diversidade nos cargos de liderança leva ao desenvolvimento de maior inovação e a um melhor desempenho financeiro. Em um levantamento com mais de 1 mil empresas de 12 países, a McKinsey, outra consultoria americana, apurou que empresas que se preocupam com a diversidade de gênero são 21% mais lucrativas do que as que não têm essa preocupação.

Como fazer isso? Ações concretas, como programas de empregabilidade e de desenvolvimento de lideranças e na educação corporativa para ajudar a criar uma cultura organizacional com foco em igualdade de gênero, inclusão racial, de PcDs e outros grupos de diversidade nas empresas.

Bônus: faça o Teste de Clance para descobrir se você é afetada pela síndrome da impostora

Com o intuito de ajudar as pessoas a identificarem o quanto elas são afetadas pela síndrome do impostor, a estudiosa Pauline Rose Clance, uma das autoras do artigo que primeiramente descreveu o fenômeno, desenvolveu uma escala.

O Clance Impostor Phenomenon Scale (CIPS), aqui no Brasil conhecido como Teste de Clance, não serve para dar um diagnóstico, mas tem validade científica e, portanto, o seu resultado é confiável para uma avaliação individual. 

O Teste de Clance é um questionário simples com 20 afirmações que devem ser respondidas com o número que melhor indica o quanto cada uma é verdadeira. De acordo com a pesquisadora, para ser fiel à realidade, é preciso marcar a primeira resposta que vier à mente ao ler cada uma das questões.

Copiado: treediversidade.com.br 

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