Você pode nunca ter ouvido falar sobre a síndrome do impostor, mas é possível que ela já tenha rondado a sua vida — sobretudo se você for mulher. A sensação de que o sucesso atingido não foi merecido é bastante comum, especialmente entre as mulheres. A síndrome da impostora, infelizmente, faz parte do dia a dia de profissionais, estudantes, mães e filhas que, na verdade, têm plena capacidade e talento para estar onde estão.
O tema ganhou algum destaque nos últimos anos,
quando personalidades como a ex-primeira dama dos Estados Unidos, Michelle
Obama, falaram publicamente sobre esse sentimento de duvidar das próprias
conquistas. Além disso, recentemente, no Brasil, o conceito também tem estado
presente em debates sobre empoderamento feminino.
Mas quais são os fatores causadores da síndrome da
impostora e por que ela é mais frequente entre as mulheres? De que forma o
fenômeno impede o protagonismo feminino no mercado de trabalho e
como as empresas podem ajudar a mudar o cenário?
Neste artigo, vamos aprofundar essas questões e
falar também sobre o Teste de Clance, uma escala que mede o quanto a síndrome
do impostor pode estar afetando a sua vida. Acompanhe!
O que é síndrome do
impostor?
De forma resumida, a síndrome do impostor é o nome
atribuído a um sentimento de que você não é bem sucedido porque o
merece e que, em algum momento, todos irão descobrir que você não
passa de uma fraude.
Apesar de ter ganhado visibilidade mais recentemente,
o conceito de “síndrome do impostor” foi descrito pela primeira vez em 1978, em
um artigo escrito por Pauline R. Clance e Suzanne A. Imes, cujo título é “The Impostor Phenomenon in High Achieving Women: Dynamics and Therapeutic
Intervention” (“O fenômeno do Impostor em mulheres bem
sucedidas: dinâmicas e intervenções terapêuticas”, em português).
No estudo, as pesquisadoras americanas analisaram
150 mulheres que, reconhecidamente, haviam alcançado êxito em suas carreiras.
No entanto, embora as suas conquistas profissionais e acadêmicas fossem
evidenciadas e publicamente reconhecidas, descobriu-se que boa parte da amostra
tinha forte tendência a uma impostura intelectual interna que não lhes permitia
valorizá-las.
Desde então, outros estudiosos e estudiosas se
uniram a Clance e Imes e passaram a investigar o tema. Hoje, sabe-se que a
síndrome da impostora identificada entre aquelas mulheres traz a sensação
irrealista de que as suas próprias capacidades estão sendo superestimadas.
Sendo assim, quem é atingido pelo fenômeno tem a impressão de estar
enganando as outras pessoas ou de não ser merecedor dos próprios êxitos, como
se eles fossem resultado de sorte ou do acaso.
E por que o
fenômeno acomete mais as mulheres?
Embora não seja exclusividade de nenhum grupo específico, é fato que o fenômeno é mais comum entre as mulheres. Logo, não foi por acaso que a síndrome da impostora tenha sido observada pela primeira vez em um estudo que utilizou como amostra um grupo de representantes do gênero feminino.
As razões da crença de que não se é realmente
competente e de que o sucesso se deu por sorte podem estar relacionadas a
características da personalidade. Porém, elas também podem estar relacionadas à
infância, à classe social, à raça e ao gênero. Clance e Imes destacaram, ao
longo de suas pesquisas, justamente a internalização de estereótipos de
gênero como um dos agentes geradores da síndrome da impostora.
Se, por um lado, os homens tendem a superestimar as
suas conquistas, as expectativas ligadas ao papel da mulher na sociedade as
colocam em uma posição de desconfiança em relação à sua própria inteligência —
o que, inevitavelmente, traz consequências negativas às suas vidas.
Quais são os
“sintomas” da síndrome da impostora?
Alguns sinais podem ajudar a entender se uma pessoa
é afetada pela síndrome da impostora. Eles não são considerados exatamente
“sintomas”, pois, apesar de ter se popularizado como “síndrome”, os estudos desenvolvidos
até então o consideram um “fenômeno” e não um distúrbio.
De qualquer forma, ele vem acompanhado de efeitos
indesejados e também pode contribuir para desencadear outros problemas, como
transtorno de ansiedade e depressão. Sendo assim, é importante ter atenção a
alguns sinais:
- Crença de não ser boa o suficiente e
sentimento de fraude;
- Sensação de não pertencimento ao meio onde se
está;
- Medo de ser descoberta e culpa por estar
“enganando” as pessoas;
- Ansiedade pós-sucesso;
- Perfeccionismo e baixa auto-estima;
- Insegurança ao ser avaliada e medo da
comparação;
- Dificuldade de receber elogios e de se
apropriar do sucesso;
- Receio de não conseguir repetir os resultados
anteriores.
Síndrome da
impostora e protagonismo feminino nas organizações
É sabido por inúmeros estudos que as mulheres
costumam ter salários menores e que a maioria dos cargos de liderança das
empresas são ocupados por homens. Além disso, em função de todas as questões
relacionadas às construções sociais de gênero, o mercado de trabalho é mais
rígido e exigente com as mulheres. Também é comum haver uma significativa
discrepância na forma de tratamento de homens e mulheres, desde a entrevista
até o dia a dia corporativo, motivada principalmente por vieses inconscientes.
É evidente que esse cenário é também um dos fatores
que ajudam a aumentar a insegurança e contribuir para que as mulheres
desenvolvam a síndrome da impostora. Todavia, temos uma faca de dois gumes: a
autossabotagem feminina, claramente, atrapalha a ascensão dessas profissionais.
Um levantamento feito pela empresa de
tecnologia HP mostrou, por exemplo, que a maioria das
funcionárias só se candidataria para uma determinada vaga se preenchesse 100%
dos requisitos. Os homens, por sua vez, se candidatariam mesmo tendo somente
60% das competências exigidas para o cargo.
Isso mostra que a desconfiança em si mesma
relacionada à síndrome da impostora, de fato, traz consequências destrutivas
para a carreira das mulheres e impedem o protagonismo feminino nas
organizações.
Por que as empresas
devem contribuir para o desenvolvimento de suas lideranças femininas?
Por outro lado, diante desse contexto, as empresas
também precisam fazer a sua parte e podem ajudar a combater a síndrome da
impostora. Reconhecer o talento e a competência das mulheres e valorizar o seu
êxito é fundamental e deve ser feito de forma concreta, ou seja, por meio de
incentivos reais — como salários, cargos e planos de desenvolvimento.
Para isso, as organizações precisam ter uma cultura
que considere importante a representatividade feminina em diretorias e
conselhos e que priorize a diversidade e a inclusão. Os benefícios de uma
postura desse tipo atingem não apenas os colaboradores, mas também os negócios,
como vêm mostrando diferentes estudos recentes.
Uma pesquisa do Boston Consulting Group (BCG) constatou, por exemplo, que aumentar a diversidade nos cargos de liderança leva ao desenvolvimento de maior inovação e a um melhor desempenho financeiro. Em um levantamento com mais de 1 mil empresas de 12 países, a McKinsey, outra consultoria americana, apurou que empresas que se preocupam com a diversidade de gênero são 21% mais lucrativas do que as que não têm essa preocupação.
Como fazer isso? Ações concretas, como programas de
empregabilidade e de desenvolvimento de lideranças e na
educação corporativa para ajudar a criar uma cultura organizacional com foco em
igualdade de gênero, inclusão racial, de PcDs e outros grupos de diversidade
nas empresas.
Bônus: faça o Teste
de Clance para descobrir se você é afetada pela síndrome da impostora
Com o intuito de ajudar as pessoas a identificarem
o quanto elas são afetadas pela síndrome do impostor, a estudiosa Pauline Rose
Clance, uma das autoras do artigo que primeiramente descreveu o fenômeno,
desenvolveu uma escala.
O Clance Impostor Phenomenon Scale (CIPS), aqui no
Brasil conhecido como Teste de Clance, não serve para dar um diagnóstico, mas
tem validade científica e, portanto, o seu resultado é confiável para uma
avaliação individual.
O Teste de Clance é um questionário simples com 20
afirmações que devem ser respondidas com o número que melhor indica o quanto
cada uma é verdadeira. De acordo com a pesquisadora, para ser fiel à realidade,
é preciso marcar a primeira resposta que vier à mente ao ler cada uma das questões.
Copiado: treediversidade.com.br
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