Como saber o que realmente é essencial para um líder sem recorrermos aos exercícios de futurologia?
Vamos abrir mão de conceitos arraigados sobre os chamados skills de liderança e tentar olhar mais profundamente sobre o novo cenário que vivemos.
Nesse mundo interconectado e imprevisível, torna-se fundamental ampliarmos ainda mais o que nos está dado para que possamos enxergar o papel do líder dentro de um contexto do que podemos chamar de uma nova era, objetivando a construção de um futuro, de fato, sustentável para as organizações.
E para essa reflexão mais profunda, vamos voltar um pouco mais longe no tempo e retomar alguns conceitos e princípios. E quando falo longe, é longe mesmo.
Vamos dar um pulo na Grécia Antiga e ao que se denominava arqué (arquétipo). Ou seja, um fundamento, uma causa primária, uma proposição fundamental. Algo que se mantém como essência, independentemente de qualquer outra mudança ou os “achismos” tão comuns nos nossos tempos. Tendo esse conceito em mente, podemos seguir com a reflexão sobre os princípios necessários para essa liderança nesse novo mundo.
E o primeiro deles é a disposição para o autodesenvolvimento. Como no Oráculo de Apolo, “conhece-te a ti mesmo” é o princípio dos princípios.
- Como exercer a liderança sem entender como funciono?
- Quais crenças e padrões direcionam minhas decisões e ações?
- Quais obstáculos preciso superar em mim mesmo?
O princípio dos princípios se revela quando o autodesenvolvimento se torna um processo constante e diuturno em mim.
A partir daí podemos falar do segundo, o equilíbrio entre o material é o imaterial. Fomos alimentados com a crença de que o papel da liderança é focar nos resultados, performance.
Mas o que são os resultados? Normalmente os resultados são facilmente visíveis em um painel de controle da área ou da empresa, e são essencialmente quantitativos (produtividade, caixa, lucro, patrimônio, taxa de retorno etc.).
Daí vem a máxima: “diga-me como me medes que lhe
direi como vou agir”. A questão é que uma empresa é um
organismo social e, como tal, se faz presente as dimensões material e
imaterial. Aliás, o que está acontecendo é uma desmaterialização das empresas,
basta ver que a cada ano o ranking das maiores empresas revela que o valor
gerado está na marca, nas pessoas, nos serviços. Trazer a dimensão imaterial
para o dia a dia da liderança e equilibrá-la com a material é um desafio e
exige uma ressignificação do que é resultado.
Como terceiro princípio, temos a liberdade no pensar. Não há desenvolvimento humano e, consequentemente, criatividade e inovação, sem liberdade de pensar, de expressar opiniões.
O que acontece quando viajamos e deixamos uma planta sem regar? Ao chegarmos em casa ela está murcha, sem vitalidade e, algumas vezes, morta.
A liberdade é como a água em um jardim. Para que os organismos vivos cresçam, se desenvolvam e prosperem é preciso regar.
Seguindo esse processo reflexivo, temos como quarto princípio a igualdade.
O que acontece quando em uma equipe percebemos que há, como dizia minha avó,
“dois pesos e duas medidas”? Quando há diferenças no tratamento e no
reconhecimento? Quando percebemos justiça e sentimos que todos tem seus
direitos e deveres, cria-se um saudável e produtivo ambiente social.
Por fim, como quinto princípio, trago a fraternidade.
E a coloco por último não por sua menor importância, mas por ter algo de superior em nível de consciência em relação aos demais. Ela é uma evolução da individualidade humana em relação ao ego.
A fraternidade atua quando pensamos
com o coração e sentimos com a razão. Ela se materializa quando entendemos que
fazemos parte de uma grande teia e que nada adianta eu me fortalecer se o outro
está fragilizado. Na essência, todo ser humano intenciona encontros fraternos,
pois é assim que o caminho evolutivo da humanidade se faz presente.
E é com essa consciência mais ampla, ressignificada sobre o papel de liderança e os princípios norteadores de um líder que se gera um despertar.
Esse olhar mais amplo se traduz no entendimento e em ações práticas
de que eu ganho quando o outro ganha, quando a sociedade ganha, de que fazemos
parte de um ecossistema complexo, em que tudo está bastante interligado. E,
principalmente como líderes, temos total responsabilidade por ele.
Por Rodrigo Goecks,
sócio da ADIGO Desenvolvimento
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