sexta-feira, 15 de junho de 2012

Desespero Versus Integridade


Não deve ser fácil envelhecer. Tenho acompanhado a história de diferentes idosos no meu círculo de relacionamentos e, salvo engano de minha parte, conta-se nos dedos os que se mostram felizes com o passar dos anos.

Duvido que alguém deseje envelhecer por livre e espontânea vontade e também não me lembro de alguém que tenha comemorado feliz e radiante a chegada dos 70, 80 ou mesmo 100 anos.

Como eu mencionei certa vez, os filhos promovem a festa para reunir os amigos e amenizar um pouco a tristeza do passar dos anos, de uma condição imposta pela natureza a contragosto. Nosso maior consolo é o fato de estarmos todos na mesma condição.

De maneira geral, a “melhor idade”, termo meramente comercial na atualidade, é uma mistura de amor e ódio, angústia e serenidade ou, ainda, desespero versus integridade, nas palavras de Erik Erikson, psiquiatra de origem alemã, naturalizado norte-americano.

A velhice é uma companheira indesejável, da qual, mais dia, menos dia, faremos de tudo para noslivrar, mas, contra nossa vontade, teremos que abraçar. Para a maioria das pessoas, é o começo do fim que ninguém deseja saber quando começa.

A partir dos setenta anos, um pouco mais, um pouco menos, ocorre aquilo que Erik Erikson chamou de Desespero X Integridade. Ao olhar para trás, uma autoavaliação honesta pode lhe dizer em qual estado a pessoa se encontra, embora, em caso de desespero, seja difícil admitir.

Integridade é um estado de graça. Você fez o que fez, chegou aonde chegou com lágrimas, suor e sacrifício, tornou-se uma referência para os amigos e um exemplo de vida para os filhos. Na prática, todo mundo quer estar ao seu lado, pois você é sinônimo de alegria e vitalidade. Você ilumina o ambiente.

Por outro lado, imagine que nada disso aconteceu. O egoísmo tornou-se o melhor companheiro desde o dia em que você passou a dedicar boa parte do tempo para acumular bens e para manter as aparências. Na prática, você ficou intransigente, prepotente, insensível, afastou-se dos amigos e não viu os filhos crescer.

Aos oitenta anos, você olha para trás e começa a se arrepender das bobagens que cometeu, entretanto, o tempo é um inimigo ferrenho. Ele não reduz a velocidade para consertar o estrago provocado em anos anteriores, então, vem o desespero.

Nessa idade, por mais que você queira consertar os relacionamentos, eliminar as mágoas, reconstruir as pontes, além de ser perdoado, as coisas não tão simples. Há pouco tempo para corrigir uma vida inteira de equívocos e desentendimentos.

Quer mudar tudo isso? Comece agora, nesse exato momento. A dignidade humana, tão necessária na velhice, é construída nas primeiras fases da vida, portanto, aqui vão algumas dicas para reflexão:

Pare de desperdiçar tempo e energia com discussões infrutíferas, coisas banais, relacionamentos infelizes, ausências prolongadas e distanciamento dos amigos, cujo tempo perdido não se pode mais recuperar;

Prepare-se para uma velhice saudável, cultive relacionamentos duradouros, aproxime-se dos amigos, respeite seus filhos e colegas de trabalho, vizinhos e conhecidos ainda que não haja reciprocidade; a parte que lhe cabe não depende dos outros;

Quanto maior o seu nível de compreensão e tolerância com as esquisitices da velhice, maior a aceitação da sua personalidade quando estiver nela; como diria um grande amigo, cuidar dos mais velhos é investir no futuro.

Por fim, o que você vai precisar de verdade na velhice é da companhia dos filhos e dos amigos, portanto, lembre-se: ninguém gosta de ficar ao lado de pessoas duras de coração, mesquinhas, intransigentes, de relacionamento difícil.

Acredite ou não, o bem estar na velhice está diretamente relacionado com o nível de integridade nos dias de hoje, a menos que você consiga conviver pacificamente com o desespero.

Pense nisso e seja feliz!

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