A ideia de uma semana de 4 dias de trabalho pode parecer estranha a princípio. Isso ocorre porque, em meados da década de 20, a montadora estadunidense Ford instituiu que os seus funcionários trabalhassem 5 dias na semana. Logo, ele acabou criando tendência.
A
ideia da Ford, na teoria, era aumentar a produtividade e reduzir o absenteísmo ao
oferecer aos funcionários dois dias de descanso semanais. Com isso, a eficácia
do trabalho também aumentaria por conta dos índices de felicidade mapeados.
Na
prática, existem diferenças consideráveis entre as duas modalidades. Porém,
como tudo o que é novo, a semana de 4 dias de trabalho traz consigo alguns
questionamentos.
Como
a equipe vai dar conta da demanda de trabalho? Ela está dentro da lei? A empresa
cortará parte do pagamento dos colaboradores? Como fica a produtividade?
E
por falar em produtividade, muitas vezes ela é associada ao número de horas trabalhadas pelo
colaborador. Contudo, para ser produtivo, o que o profissional necessita é de
uma liderança que tenha o seu bem-estar como foco.
Como surgiu a semana de 4 dias de
trabalho?
A
semana de 4 dias de trabalho já é uma tendência em pauta há bastante tempo. O
assunto é amplamente debatido entre organizações não-governamentais e agências
focadas em melhorias e bem-estar para os colaboradores em geral.
No
entanto, foi com a pandemia do COVID-19 que o assunto realmente entrou em
evidência. Nesse período, os colaboradores e a liderança foram obrigados a
permanecer em casa por conta do isolamento social.
Logo,
o isolamento trouxe reflexões e questionamentos sobre alguns pontos importantes
no que diz respeito à dinâmica do trabalho:
- · A produtividade estaria mesmo conectada ao número de horas trabalhadas?
- · Qual seria o impacto ambiental de milhões de veículos fora das ruas nesse período?
- · Houve alguma economia em termos de contas de energia elétrica, água e outros insumos?
- · Estar no escritório realmente significa estar trabalhando?
Esses
mesmos pontos já eram debatidos muito antes da pandemia. O empresário e
filantropo Andrew Barnes, em seu Ted Talk intitulado “The 4 Day Week”,
fala sobre produtividade.
Ele
diz que “os britânicos são produtivos apenas durante duas horas e meia do dia”.
Para os canadenses, o número é ainda menor: uma hora e meia. Portanto, reduzir
o número de dias trabalhados em troca de maior foco e produtividade seria uma
boa barganha, segundo ele.
Barnes
é o fundador da Perpetual Guardian, uma empresa neozelandesa do ramo de gestão
patrimonial. Em 2018, a empresa lançou um projeto piloto com o objetivo de implementar a
semana de 4 dias. O projeto é um sucesso desde então. Porém, a Nova Zelândia
não foi o único país a aderir à semana de 4 dias.
Quais os principais países que aderiram à semana de
4 dias?
Os
principais países que aderiram à semana de 4 dias são, em sua maioria, países
europeus. Lugares como a Dinamarca, a França, a Espanha e até mesmo o Reino
Unido estão entre os maiores entusiastas do encurtamento da semana.
Mas,
foi na Islândia que a nova tendência encontrou seu maior adepto. Entre os anos
de 2015 e 2019, o país conduziu um experimento nacional com a intenção de
provar seu ponto. Para isso, 1% da população passou a trabalhar em escala
4×3.
O
experimento resultou em alguns pontos consideráveis, tal como os sindicatos
negociarem para que a redução das horas trabalhadas fosse permanente após o
término do experimento. No entanto, sem prejuízo nos salários.
Além
do sucesso na Europa, a semana de 4 dias cruzou as fronteiras. Os Emirados
Árabes Unidos, por exemplo, foram o primeiro país a estabelecer a semana de 4
dias em escala institucional. Isso significa que as entidades governamentais e
até o banco central aderiram à essa nova realidade.
Apesar
dos dados globais apresentados, não foram apenas países que aderiram à semana
de 4 dias. Muitas empresas privadas escolheram implementar essa nova
modalidade.
E as principais empresas?
Além
da Perpetual Guardian, outras empresas passaram a ter uma jornada semanal de 4 dias. Sua
conterrânea neozelandesa, a Unilever, foi uma delas. Em 2020, a empresa iniciou
um experimento com duração de 1 ano para avaliar os resultados da
implementação.
E
não para por aí: a rede de fast food norte-americana, Shake Shack, iniciou
uma redução da jornada de trabalho para
32 horas semanais em 2020. O experimento manteve os salários intactos e
englobou um terço das filiais da rede.
Caminhando
na mesma direção, a Microsoft Japão conduziu um experimento da semana de 4 dias
em 2019. Ele ocorreu durante o mês de agosto e resultou em um aumento de 40% na
produtividade dos funcionários contemplados.
Ainda
no Japão, a gigante tecnológica Panasonic anunciou a oferta da jornada de
trabalho de 4 dias para funcionários interessados.
A semana de 4 dias tem algum impacto no salário do
colaborador?
Não.
Um dos principais objetivos da semana de 4 dias é o de assegurar o bem-estar do
colaborador. Logo, a redução salarial não contribuiria para incentivar o
funcionário a aderir a essa nova modalidade de trabalho de forma
positiva.
A
manutenção do salário dos trabalhadores foi, inclusive, um dos pontos-chave
levantados por Andrew Barnes ao integrar a semana de 4 dias em sua empresa
Perpetual Guardian. Assim como na Islândia, durante o período de 4 anos para
sua implementação nacional.
Como funciona a semana de 4 dias de trabalho na
prática?
Depende
da empresa. Existe uma tendência a se trabalhar de segunda à quinta, tendo a
sexta-feira incorporada ao final de semana. Nessa modalidade, a prática
da hora extra para compensar o
dia de folga adicional geralmente não ocorre. Ou seja, trabalham-se 32 horas
semanais.
Outras
empresas, como a agência digital Versa, optaram por oferecer a quarta-feira como
dia de folga aos colaboradores. O movimento ficou conhecido
como No Work Wednesday, e já tem adesão de outras companhias ao redor do mundo,
sobretudo na Austrália.
É
o caso de outra agência digital, a Redback Solutions, que também implementou o
programa de folgas às quartas-feiras. A decisão pela semana de 4 dias foi
pautada ao perceber que os colaboradores se sentiam mais fatigados à medida que
a semana chegava ao fim.
Quais os impactos na saúde mental do
colaborador?
Os
impactos na saúde mental do colaborador giram em torno do conceito de
wellbeing, ou seja, o bem-estar corporativo. O funcionário trabalha mais
animado ao sentir empatia por parte de seus
empregadores, oferecendo maior produtividade à empresa.
Além
disso, poder passar mais tempo com a família e ter tempo para lazer e
atividades prazerosas também são benefícios para uma vida mais saudável. Na
Islândia, os trabalhadores reportaram redução do estresse e do risco de
esgotamento (síndrome de burnout).
No
entanto, os benefícios não ficam apenas restritos à saúde mental dos
trabalhadores. Existem outras áreas impactadas, como a social e a ambiental,
como você verá a seguir.
Principais benefícios da semana de 4 dias
A
semana de 4 dias surge como uma alternativa às rotinas estressantes e ao
acúmulo de trabalho para as empresas. Ao desligar-se por um dia a mais, o
colaborador desfruta de uma recarga emocional e física que possibilita melhor
desempenho no seu retorno.
Somando ao desempenho, existem outras áreas contempladas pelos benefícios da semana de 4 dias. Aqui, elas estão divididas entre ambiental, social e corporativa.
Impactos na área ambiental
Com
a redução de veículos circulando durante o dia extra de folga, houve uma queda
na pegada de carbono produzida. Um estudo conduzido pelo Reino
Unido em 2021 mostra que a semana de 4 dias é responsável pela
diminuição de 21% da emissão de carbono.
Isso
seria equivalente a remover toda a frota de carros particulares das ruas (o
equivalente a 27 milhões de carros). O estudo também mostra que essa manobra
ajudaria o país a atingir suas metas climáticas estabelecidas.
Impactos na área social
Uma
pesquisa conduzida pela Universidade de Tecnologia de Auckland mostra um
aumento de 24% no equilíbrio entre a vida pessoal e profissional do
trabalhador. Isso significa que o colaborador pode ampliar suas redes de
relacionamento e desfrutar delas de forma mais significativa.
Outro
ponto a se considerar é a responsabilidade compartilhada dos cuidados com a
família. Com a semana de 4 dias, pais e cuidadores têm mais tempo para dedicar
às atividades parentais e para usufruir de tempo de qualidade com suas
crianças.
Impactos na área corporativa
Como não poderia deixar de ser, o setor corporativo também lucra com a semana de 4 dias. Primeiro, as empresas relataram um aumento de 18% no índice de engajamento do funcionário no quadro comparativo entre 2017 e 2021.
Além
disso, houve também redução nos índices de absenteísmo, maior comprometimento
com os prazos e entregas e melhora nas relações interpessoais e de
equipe.
A
organização não-governamental 4 Day Week também apresentou dados
importantes:
- · 63% dos negócios tiveram facilidade para atrair e reter talentos por conta da oferta da semana de 4 dias;
- · 78% dos funcionários se sentem mais felizes e relatam menos estresse relacionado ao trabalho.
Até
o momento, os benefícios e mudanças apresentadas fazem parte do escopo
internacional de trabalho. E no Brasil, a semana de 4 dias foi um sucesso?
Saiba mais a seguir!
Como funciona a jornada semanal de 4 dias no
Brasil?
No
Brasil, a jornada semanal de 4 dias ainda têm poucos adeptos. A Zee.Dog,
empresa de artigos para pets, adotou a
quarta-feira como dia de folga em 2020. Desde então, relata um aumento na produtividade
de 20%.
Outra
empresa a incorporar a prática em sua rotina foi a Crawly, uma startup de
extração de dados de Minas Gerais. A única diferença é que a semana de 4 dias
já existe desde que a empresa abriu suas portas em 2017.
Pedro
Naroga, CTO da empresa, conta que ao estender o fim de semana para três dias, o
recebimento de currículos e ofertas foi muito grande. Outro ponto é a
diminuição drástica do turnover e
da rotatividade de funcionários.
“Muito raro alguém pedir pra sair”, ele comenta.
Considerando
a legislação brasileira, como fica a semana de 4 dias no país?
Existe algum impedimento legal?
De
acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), não existe impedimento legal
para a adoção da semana de 4 dias. A lei diz que existe um teto, o de 44 horas
semanais trabalhadas. Se o empregador quiser oferecer menos, é possível.
No
entanto, é preciso ter atenção com igualdade e justiça. O valor das horas
trabalhadas precisa ser o mesmo para todos os colaboradores. Além disso, é
preciso manter os valores pagos do 13º e das férias remuneradas, sem nenhum
prejuízo ao trabalhador.
Conclusão
Como
disse Andrew Barnes, CEO da Perpetual Guardian: “estamos presos em um modelo de
trabalho do século XIX. Porém, estamos no século XXI”. Isso significa que não é
possível lidar com demandas do presente utilizando métodos do passado. É
preciso evoluir.
Essa
evolução vem quando o colaborador é o centro das mudanças e das melhorias na
empresa. Ao valorizar seu capital humano, o setor corporativo
tem resultados imediatos e significativos, como o aumento da produtividade e do
lucro.
E
não somente isso: a sociedade, como um todo, ganha com a semana de 4 dias.
Famílias podem ter mais tempo de qualidade e relacionamentos são
solidificados.
Quando
o colaborador sente que a sua rotina não é desgastante e entrega seu potencial
máximo no trabalho, todos ganham. Portanto, a implementação da semana de 4 dias
é uma tendência que ganhará cada vez mais adeptos ao redor do mundo.
Copiado:
https://www.pontotel.com.br/
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