A
gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte; a gente não
quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte. A gente não quer só
dinheiro, a gente quer dinheiro e felicidade; a gente não quer só dinheiro, a
gente quer inteiro e não pela metade. Você tem sede de quê? Você tem fome de
quê? (Comida — Titãs)
Os
assassinos de Marielle Franco mandaram um recado à sociedade: Cale-se! Se não
se calar, eu acabo contigo!
Uma morte
que, literalmente, revela, de forma escancarada, o Brasil e o Rio de Janeiro
pós-golpe, que crava estaca no peito da intervenção eleitoral militar, apoiada
diuturnamente pelos Marinho do Grupo Globo.
O Brasil do
golpe de 2016 e de *mi-shell temer{PSDB/Globo/Congresso/Judiciário} abriu a
caixa de Pandora e dela saíram criaturas infernais, que ocuparam o poder, as
ruas, as redes sociais e agora estão a subordinar o País a estrangeiros, ao
tempo que submete o povo brasileiro à baixa estima e à desesperança.
O golpe de
direita de 2016 não se dissocia da morte de Marielle Franco, porque são
criaturas egocêntricas e nascidas do mesmo útero, que gera racismo, egoísmo,
sectarismo e violência.
Marielle
Franco não é vítima! Sempre soube se defender e se dedicar às ações políticas
em busca de igualdade e oportunidades aos grupos sociais em situação de
fragilidade. Se enganam seus algozes e verdugos, os promotores de infausta e
infame covardia. Marielle é tudo o que eles não são: corajosa e inteligente;
politizada e bonita; solidária e instruída; e, sobretudo, humana.
A violência
endêmica e a falta de pão nas mesas de milhões de brasileiros pobres e
desempregados não serão resolvidas por militares armados, muitos deles oficiais
politicamente alienados e divorciados das razões e necessidades de grande parte
dos moradores das comunidades cariocas.
Cercar as
senzalas contemporâneas com as forças armadas é como enxugar gelo em pleno
apartheid, porque a intervenção militar é essencialmente eleitoral, além de ser
apenas mais uma de tantas que já estiveram presentes no Rio de Janeiro, sendo
que jamais resolveram nada, porque o que resolve é pão na mesa, emprego,
educação pública de qualidade, igualdade de oportunidades e implantação de
infraestrutura em todas favelas e periferias.
O Estado
presente, a servir os cidadãos. E não somente o Estado militar-policial, a
reprimir as periferias e favelas para que a classe média e os ricos possam
levar suas vidas "sem problemas", como se nada tivesse a acontecer,
enquanto o governo irresponsável e perverso governa para poucos, a cometer
incontáveis maldades e diatribes, a fim de atender apenas 30% da população,
além de entregar o patrimônio público e extinguir quase todos os programas de
inclusão social.
Fatores
esses que acarretaram, sobremaneira, o recrudescimento da pobreza e, com
efeito, da violência. Somente um cretino fundamental e idiota por vocação não
enxerga ou finge que não está a ver a origem de tanta violência e corrupção no
País, apesar que os criminosos sempre têm de ser combatidos, independente de
origem de classe e cor de pele.
O Brasil é
realmente e verdadeiramente o País da impunidade. Corruptos, golpistas e
assassinos o tomaram de assalto, porque é dessa forma que se ganha mais
dinheiro. O que resolve, cara pálida, é dignidade e respeito!
Por sua
vez, ontem, dia 14 de março de 2018, o País do golpe da direita política,
empresarial e midiática, o País mais desigual do mundo ocidental, com dezenas e
dezenas de milhões de favelados em todo o território nacional, o País que
possui Judiciário e MPF que se tornaram algozes de sua democracia e
Constituição, bem como condenam à prisão pessoas sem comprovar seus crimes,
tornou-se testemunha de um crime de assassinato dos mais bárbaros e brutais de
todos tempos, que ficará na memória do povo carioca e na história da política
brasileira e do Rio de Janeiro.
Não porque
a morte da vereadora Marielle Franco, do Psol, seja mais importante do que as
mortes de milhares de brasileiros em todo o País, que são assassinados por meio
de tenebrosas e infames covardias, mas, sobretudo, porque a vereadora e
militante de esquerda representava e representa as minorias políticas e
sociais, que são maiorias em termos populacionais, mas que são também segmentos
e setores da sociedade que não têm voz ativa e força reivindicatória no
Legislativo, no Executivo e no Judiciário.
Eis a
questão principal e primordial, que remete ao passado e se reafirma no presente
as injustiças sociais, os preconceitos bárbaros e a negação sistemática da
humanidade de grupos sociais que lutam para ter reconhecidos seus direitos à
plena cidadania por parte de setores hegemônicos, a começar pelas polícias, as
forças armadas, o Judiciário, o MPF, que, indubitavelmente, são e sempre foram
os capitães do mato, os feitores da grande burguesia — a proprietária
inconteste da casa grande de índole e alma escravocrata, bem como aliada dos
capitalistas estrangeiros.
Marielle
era uma militante política experiente e forjada na luta diária das ruas e dos
lares abandonados pelo Estado, que é, irremediavelmente, patrimonialista e, com
efeito, só serve aos interesses dos senhores e das senhoras dos centenários
"engenhos", que tratam as minorias sociais e políticas como apenas
mão de obra barata, com identidades ocultas pela opressão e repressão, assim
como seus sonhos e desejos são sabotados pela pobreza e ignorância seculares, o
que permite ao sistema de capitais e às quadrilhas e máfias calarem a boca da
população brasileira, além de matarem, a ferro e fogo, lideranças humanistas e
importantes, como a cidadã e socialista Marielle Franco.
Poderia
escrever artigo sobre sua biografia, mas muitas pessoas já o fizeram. Por isto,
atenho-me à sua representatividade social e política das mais raras e
completas, porque Marielle Franco, além de ser uma vereadora de esquerda e
militante que, corajosamente, lutava na linha de frente dos combates da vida,
ela era, sobretudo, uma mulher que "vem de longe" desde os tempos da
escravidão.
Marielle
foi morta por causa de sua paixão. A paixão dos justos e dos combatentes dos
direitos humanos e das igualdades entre as pessoas. Pois é, poder acreditar,
existe ainda gente imprescindível para humanizar a humanidade, como forma de se
aproximar de Deus. Ser Sua interface.
A
vereadora, que não estará fisicamente mais presente nas ruas do Rio de Janeiro,
mas espiritualmente entre aqueles que admiravam-na. Ela foi covardemente morta
porque sua representatividade era por si só a própria sociedade oprimida em
toda sua essência e amplidão, pois ativista em quase todos os setores e
segmentos sociais.
Pois,
observemos. Marielle era de esquerda, socialista e militante das causas
sociais. Não sofismava e agia com desenvoltura no plenário, nas comissões e
junto à sociedade, principalmente no que tange aos interesses das comunidades,
a exemplo das favelas da Maré e de Acari, dentre outras.
Além disso,
na Comissão da Intervenção da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, a vereadora
Marielle exigia que os militares do Exército fizessem relatórios quando nas
comunidades, uma forma, segundo ela, para evitar violência e arbitrariedades,
que sempre ocorreram em intervenções anteriores contra pessoas inocentes e
trabalhadoras.
Negra,
mulher, nascida em favela. Socióloga, feminista e ativista desde muito jovem. A
vereadora assassinada covardemente era lésbica, casada e mãe de Luyara, filha
de 19 anos, além de ser motivadora de movimentos sociais e participar de
inúmeros eventos políticos, artísticos e de promoção da igualdade.
Seu
pensamento político e ideologia, além da coragem, a levaram a ser uma pessoa
que estava inserida em quase todas minorias, pois mulher, negra, lésbica,
esquerdista e nascida em uma favela.
Apesar
dessas quase intransponíveis realidades, Marielle Franco ascendeu politicamente
e se tornou uma pessoa muito importante para a sociedade carioca e brasileira,
verdade esta comprovada pela comoção que sua morte causou e pela repercussão
nacional e internacional sobre as condições que ocorreram o atentado infame
contra sua doce pessoa ao tempo que corajosa e determinada.
Denunciou as
mortes, agressões, covardias e arbitrariedades de policiais militares,
principalmente em Acari, e pagou com a vida. Contudo e apesar de tudo, a vida
segue e as pessoas que pensam como a Marielle Franco não têm outra opção do que
continuar a trilhar os caminhos que levem às igualdades e aos direitos para
todos os brasileiros, de forma que o Brasil se torne uma Nação igualitária,
justa, democrática e civilizada.
Marielle
Franco: Presente!
Por: DAVIS SENA FILHO - https://www.brasil247.com
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