Um método de organização empresarial que prescinde de hierarquia, ou seja, em que não há relação de poder, chefes ou pessoas com ascensão sobre outras e as decisões (sobre o trabalho ou até mesmo sobre membros da empresa) são tomadas coletivamente, por consenso.
“O objetivo da organização horizontal é envolver todas as pessoas no processo decisório e na execução”, diz Joel Dutra, professor da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, a FEA-USP. Gestão Horizontal não é sinônimo de estagnação salarial ou profissional. Tampouco significa que todos os membros ganhem o mesmo.
“As pessoas crescem de acordo com a contribuição que dão para a empresa e, para que isso aconteça, é importante que haja uma estratégia clara, em cuja construção todos tenham sido envolvidos. A partir disso, os próprios pares medem a contribuição de cada um, com métricas mais ou menos objetivas. Esse é um dos grandes desafios do sistema horizontal”, diz Pedro Zanni, professor de estratégia empresarial na FGV-EAESP, sócio da Nodal Consultoria e responsável pelo planejamento estratégico da Vagas. Empresa de recrutamento online, a Vagas implementou a Gestão Horizontal de forma radical no Brasil: não há nenhum nível hierárquico, todas as decisões são tomadas por consenso e não existem metas financeiras, nem para a área comercial — Mário Kaphan, o fundador (embora não haja nada do tipo escrito em seu crachá), acredita que empresas focadas em resultado financeiro estão desperdiçando energia (a Vagas cresce 25% ao ano). O Draft contou a história da Vagas há cerca de um ano aqui. Em inglês, a Gestão Horizontal leva os nomes de flat organization, horizontal organization ou flat management (em contraposição a tradicional ou tall organization).
A abolição total de hierarquia constituiu a forma mais pura de Gestão Horizontal mas há níveis intermediários (as flatter organizations) que eliminam apenas algumas camadas de hierarquia. Esse texto da Forbes, parte de uma série que explica os cinco graus de estrutura organizacional, define e exemplifica os modelos intermediários.
Segundo Zanni, o processo de mudança de cultura empresarial na direção da horizontalidade leva tempo, é mais difícil de implementar do que o modelo tradicional mas, a longo prazo, é mais vantajoso.
“Não é fácil, mas é sensacional você ter um sistema que favorece a autonomia, a contribuição de todos, a responsabilização, a liberdade”, diz.
- Quem inventou: De acordo Dutra, da FEA, o conceito mais disseminado é o dos grupos semiautônomos, nascido na Suécia e utilizado no Brasil por algumas organizações como Volvo, Unilever e Random. “O objetivo dos grupos semiautônomos na Suécia era atrair trabalhadores com alto nível de formação para atividades operacionais. Entretanto, mostrou-se muito eficiente onde há uma maior rapidez em incorporar na operação o aprendizado e o saber dos trabalhadores”, afirma. A redução dos níveis hierárquicos contribuiu, ainda, para aproximar o processo decisório das operações e, dessa forma, acelerar a capacidade de resposta da organização para seus clientes.
- Quando foi inventado: Desde os anos 1960 há práticas de gestão mais flexíveis. O modelo chegou ao Brasil nos anos 1980, década em que Ricardo Semler fundou a Semco, uma das primeiras empresas a implementar o modelo na época.
- Para que serve: Para, por meio de autonomia e liberdade, alcançar o maior potencial de contribuição de todos, o que em métodos tradicionais de gestão é responsabilidade e direito apenas dos líderes. “Aumenta o nível de contribuição organizacional. Todo mundo tem um senso de responsabilidade maior e isso não para agradar a um chefe, mas sim para contribuir com a empresa, para que se ela se fortaleça, cresça e tenha mais lucro”, diz Zanni. Outro fator que ele aponta é que nesse tipo de organização perde-se menos energia com disputas internas: “A energia das pessoas volta-se à contribuição para o fortalecimento e crescimento da empresa e não para o crescimento hierárquico”.
- Quem usa: Startups vêm cada vez mais utilizando o modelo, muito provavelmente inspiradas pelo Google, um dos expoentes da Gestão Horizontal embora não tenha abandonado todas as camadas de hierarquia (adota um nível de estrutura intermediário). Em entrevista ao CNET, em 2007, Stacy Sullivan, chief culture officer do Google, diz que sua missão nesse cargo (ela também é diretora de RH) é, entre outras coisas, manter os valores-base da empresa: ser horizontal, sem hierarquia, em um ambiente colaborativo. E responde a uma pergunta bastante pertinente: “É difícil imaginar como é possível manter uma gestão horizontal com 12 mil empregados (57 100, dados de 2015). Quais são as características da cultura do Google em geral?”. Sullivan diz que é uma cultura guiada pelo grupo, bastante colaborativa e que encoraja pessoas a pensar de forma não tradicional, diferentemente de como elas pensavam nos lugares em que já trabalharam antes. O Netflix, assim como o Google, tem uma gestão parcialmente horizontal que ficou famosa quando, em 2009, Patty McCord, então chief talent officer (ela deixou a empresa em 2012), Reed Hastings, co-fundador e CEO da empresa e mais alguns colegas fizeram um Power Point chamado Netflix Culture: Freedom & Responsability explicando a cultura da empresa. Eles não imaginavam que fosse viralizar (12 milhões and counting) e muito menos que Sheryl Sandberd, COO do Facebook, o declarasse o mais importante documento do Vale do Silício de todos os tempos. No Brasil, as expoentes são as já citadas Semco e Vagas — esta última ganhou, ano passado, em Nova York, Management Innovation eXchange (MIX) como uma das empresas mais inovadoras do mundo em gestão. A premiação, bianual, é uma iniciativa do guru de gestão e professor na London Business School Gary Hamel, com apoio da revista Harvard Business Review e da consultoria McKinsey & Company. No Draft, publicamos alguns features e vídeos que levam a tag Gestão Horizontal como os do Instituto Chão, o da Openship, do Estaleiro Liberdade, o da Goma Oficina e o da Laboriosa 89. Há também um texto sobre o OuiShare Festival.
- Efeitos colaterais: Dutra, da FEA, diz que, de forma geral, tem observado mais efeitos positivos do que negativos. Para Zanni, da FGV-EAESP, o perfil do profissional tem que estar ajustado à estrutura horizontal. “Tem gente que prefere ter chefe e ouvir o que tem que ser feito. Isso porque, quando aumenta a liberdade, aumenta também a angústia e isso exige que as pessoas sejam mais maduras. Pessoas imaturas não vão conseguir entender o que significa ter autonomia”, afirma.
- Quem é contra: “Empresas que culturalmente têm uma lógica mais hierarquizada e teriam dificuldade de ajustar o modelo horizontal. E também organizações muito grandes, porque é mais difícil implementar a estrutura horizontal nelas, embora haja exemplos de sucesso”, diz Zanni.
Copiado: http://projetodraft.com/verbete-draft-o-que-e-gestao-horizontal/
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