Para quê ISO 9001
Desde seus primórdios, a norma ISO 9001 como à conhecemos mudou muito, porém sempre seguindo o mesmo princípio: qualidade do produto e satisfação do cliente.
O maior problema é que, com a crise político-econômica que vivemos no momento, o que vejo é que muitas organizações acabam por deixar de lado esses conceitos tão básicos.
Acabam por esquecer que as diretrizes para alcançar esses princípios são de extrema importância para chegar ao objetivo principal de todo acionista, o lucro.
Sejamos claros e objetivos, o documento em papel entregue pelas certificadoras atestando que uma empresa segue as diretrizes da ISO 9001 é uma simples chave comercial.
Aquele que chamará a atenção dos seus clientes, ou ao menos àqueles que conhecem ou exigem essa certificação.
Não é segredo que esse “papel” abre portas para diversos segmentos de modo a ajudar que essas empresas abocanhem uma fatia do mercado que antes não possuíam e poderem assim eliminar boa parte da sua concorrência.
O Circo
O meu ponto é, qual é a grande dificuldade de realmente aderir a causa de um Sistema de Gestão da Qualidade bem implementado?
O Sistema virou um grande “só acredito vendo”, mas muitos ainda não se esforçam para chegar lá e realmente ver acontecer.
O que geralmente vemos são Representantes da Direção sofrendo para manter o sistema em ordem e funcionando, muitas vezes sem a ajuda de muitos.
E se fizermos uma pesquisa sobre todas as organizações que hoje possuem a certificação, disponível em lista no site do INMETRO?
Como será que estaria a proporção de: empresas certificadas porque precisam do papel versus empresas certificadas porque gostam e acreditam no princípio?
50-50? 80-20? 99-1?! Tire suas conclusões.
Afinal, eu defendo a ideia de que temos que honrar o escopo ou aplicação da norma (1.2 ou 1 na nova versão):
“Todos os requisitos desta Norma são genéricos e se pretende que sejam aplicáveis a todas as organizações, independentemente do seu tipo, do seu porte e do produto que fornecem. ”.
Repare, não existe nenhuma menção sobre “somente organizações que necessitem”, e essa abordagem, infelizmente, já é quase uma cláusula implícita para a realidade das empresas.
Qual número de panificadoras, lojas comerciais, livrarias ou restaurantes que vemos hoje com um Sistema de Gestão da Qualidade? Aposto que bem baixo, mas porquê?
Muito do que se vê hoje acabou por virar um tabu que não deve ser comentado no mundo das auditorias e certificações para não entregar ninguém.
A frase que menciona “uma semana antes da auditoria é sempre aquela correria” é motivo de risadas em qualquer organização, quando deveria ser o motivo de arrepios.
Modelos e mais modelos prontos de políticas da qualidade, manuais, procedimentos, registros que ao invés de ajudar só atrapalham, por que o seu desenvolvimento não foi feito em conjunto com a equipe, mas pesquisado no Google.
“Mas o papel do Representante da Direção está para morrer com a nova versão 2015, isso trará mais envolvimento”.
O que vou te dizer? Só acredito vendo.
Da mesma maneira a norma ainda acaba deixando brechas para diminuir a carga da Alta Direção, gestores e afins, o que é uma maravilha para os consultores quando descobrem uma maneira de facilitar esse trabalho, diminuindo o envolvimento dos gestores e ainda assim conseguindo passar pela difícil auditoria externa.
No meio organizacional, e isso acontece em absolutamente todos os setores na maioria das empresas, é extremamente fácil encontrar registros, documentos e procedimentos que estão lá pra Inglês ver, “Inglês” sendo o apelido dado ao auditor externo.
Mas e a Alta Direção? Infelizmente a Alta Direção que deveria ser a força contrária à resistência muitas vezes acaba por ser o empurrãozinho que faltava para derrubar tudo.
Uma frase, um desdém, uma piada, já é suficiente para que os colaboradores que ouviram descreditarem todo o trabalho de SGQ. Afinal, a mudança é cultural.
Qualquer um consegue escrever procedimentos, colocar uns gráficos bonitos na parede ou preencher uma planilha com um plano de ação. O problema é fazer as pessoas envolvidas tomarem essas atividades como essenciais ao seu trabalho.
Isso só acontece quando fortemente suportado pela Alta Direção durante todo o momento, e não apenas na Reunião de Abertura e Fechamento.
Porque então não implementar um Sistema de Gestão da Qualidade, sem necessariamente buscar a certificação?
Por exemplo, para empresas que não dependem do certificado para vender seus produtos ou serviços?
Sem a pressão de uma auditoria externa, sem o custo de suas manutenções?
Luz ao final do túnel
Já conheci empresas assim que de fato são até mais eficientes do que uma certificada simplesmente porque resolveram aderir ao Sistema e compreenderam que realmente funciona uma vez que este é levado a sério.
Elas:
- entendem a necessidade de um controle de documentos e registros,
- compreendem as vantagens de uma análise de problemas bem-feita,
- perceberam os benefícios de ações corretivas sobre produtos não-conforme
- reconheceram a real função de uma análise de risco e mudanças bem detalhadas.
Como um profissional da Qualidade eu não posso, e não vou desistir dos princípios dessas normas.
A luta é grande para nós, sempre foi, e lamento, sempre será.
Cabe somente à nós ensinar essa matemática básica e provar, com todas as ferramentas que temos, que 1 + 1 realmente é igual a 2.
Os processos só se fazem com pessoas e o envolvimento de todas é de extrema importância no engajamento no SGQ.
Sem chorar mais o leite derramado, as vantagens e benefícios são claros e é muito satisfatório encontrar organizações que aplicam esses conceitos de forma responsável e clara, tornando o objetivo da norma funcional e real, culturalmente e financeiramente.
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Inclua também as cláusulas da norma ISO 9001, a norma mãe, que trará a base fundamental para uma organização atingir o que mais querem, o lucro.
Dessa maneira, os conceitos que conhecemos de Sistema de Gestão já nascerão impregnados na cultura das organizações desde o momento de seu nascimento, garantindo um crescimento já estruturado e pronto para que, aí sim, se precisarem, possam optar por comprar um papel comercial dizendo que realmente possuem um SGQ para exibirem para o mundo e para seus clientes.
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