Há alguns dias, contava a um amigo que minha visão da vida é como se tivéssemos sempre vivendo em embaixo da água num oceano enorme.
Ali, vemos poucas coisas, conhecemos quase nada que está a nossa volta, temos dificuldades para se movimentar e para respirar.
Eventualmente, em determinados momentos, subimos na superfície das águas para respirar mais aliviado, para recuperar o fôlego, para observar o sol, para sentir o vento, para desfrutar do conforto do oxigênio abundante, mas logo depois, em seguida, precisaremos mergulhar novamente e voltar a nadar submerso.
Aliás, acho que a vida acontece mais debaixo d’água do que ali em cima.
Não se trata de pessimismo na forma como vejo a vida. Penso que ela é naturalmente complexa, e por vezes, insuportavelmente difícil.
Para alguns mais, para outros menos, mas enquanto não levarmos a sério essa realidade, esteremos propensos a ignorar um lado peculiar da dor, aquele que pode também somar ao amadurecimento.
Blindar-se é, de certa forma, retardar a maturidade.
Tirar de alguém o direito de passar por algum sofrimento é o modo mais inocente de torná-lo fraco.
Se não olhar nos olhos da dor, este alguém estará susceptível a distorcer as marcas da vida e entregar-se a uma vitimização.
Aquilo que conhecemos da trágica realidade inerente da vida, nos coloca frente a verdade mais humana da nossa percepção de si.
Não falo sobre priorizar um sadismo por esporte, nem de negligenciar quanto a fatalidade do cruel, mas de considerar na miserabilidade, um encontro de razões profundas com aquilo que passamos.
O grande pulo do gato, é passar pela dor sem deixar com que a miséria inevitável nos desmoralize ou não deixar com que a maldade, injustiça e a barbárie nos torne ressentidos, amargurados, cínico e covardes.
Então, como podemos responder a isso?
Não é fingir, mas entender que por mais desfavorável que tenha ficado a vida, podemos enfrentar certos desafios de maneira prática e franca.
Podemos olhar para esse contexto sombrio alimentando habilidade potenciais com alguma fé e coragem, sintetizando alguma subjetividade descartável por um caminho mais funcional.
Somente isso pode nos dar a dimensão correta da vida diante das catástrofes.
Por fim, a proporção do mundo, suas contingências inevitáveis e sua combinação de acontecimentos aleatórios, será sempre esmagadoramente assustador.
No entanto, se ao invés de procurarmos felicidade, pudéssemos conseguir alimentar alegria na turbulência, energia na inquietação e sentido na desordem, talvez pudéssemos evitar a euforia e ganhar a dimensão da satisfação de aproveitar a paisagem sem contabilizar os caminhos.
Não é curioso como a nossa identidade passa, até então, pelo forma como decodificamos as nossas demandas pesadas da vida, ou melhor como olharmos para nós, para o outro e para o mundo enquanto a vivemos?
Pense nisso com carinho.
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