Quando aquele jovem professor entrou na sala de aula pela primeira vez, um frio petrificante tomou conta de todo o seu corpo.
Com um olhar ainda assustado, típico de quem tem a responsabilidade de conduzir o processo, ele respirou fundo e, com a voz ligeiramente trêmula, soltou um tímido boa noite para todos os presentes.
-Boa noite! – responderam todos.
A primeira interação com aqueles que, apesar de ainda estranhos naquele momento, havia acontecido. Mas o maior desafio estava por vir.
Ele sempre havia desejado conduzir uma sala de aula, mas nos seus sonhos, na sua vasta imaginação tudo parecia tão mais simples e fácil.
Jamais havia imaginado que o frio na barriga pudesse interromper sua sequência de pensamentos.
Suas mãos pareciam suadas, mas era apenas uma sensação, não havia uma única gota de suor. Sua voz e pensamentos pareciam descompassados. “Que loucura!”- pensava o jovem que repetia para si mesmo que precisava se acalmar.
Cada minuto passado era muito intenso. E cada minuto era, de fato, cronometrado, pois não conseguia tirar os olhos do relógio.
Queria estar ali, desfrutando aquele tão esperado momento, mas ao mesmo tempo desejava que, de alguma forma, tudo passasse rapidamente para que pudesse entender melhor o porquê de tudo aquilo que estava sentindo.
No fundo ele sabia. Toda responsabilidade era sua.
Ele era o líder a partir do momento que disse (-Sim!) e pisou na sala de aula.
Naquele instante, liderança e timidez brigavam.
A timidez era a responsável por sabotá-lo diante da sua sonhada oportunidade, mas a liderança balanceava e o fazia continuar firme.
Engraçado que ele havia se planejado para falar durante horas, mas como às vezes ocorre com aqueles que ainda são iniciantes, seu planejamento, digamos assim, foi por água abaixo. Seu imaginado material para ser exposto em 3 horas durou, basicamente, a metade do tempo.
E a primeira grande lição que o primeiro dia o havia reservado era essa: precisamos sempre de um plano B.
Por mais confiança que se tenha, por mais treino que se faça, sempre tenha um plano B na manga.
E seu plano B foi falar e respirar mais calmamente, já que não se podia tirar nenhum coelho da cartola (e não era porque ele não teria capacidade, mas é que lhe faltava a experiência).
Durante a sua fala tentava encarar alguns, estimular para que participassem também daquele momento (no fundo não queria a atenção somente focada nele, não naquele dia, justamente, no seu primeiro dia).
Mas sem experiência, sem jogo de cintura e sem maturidade, essas coisas não fluem da forma desejada.
Tentava entender “qual era a de cada um” presente naquele espaço. Mas nervoso ainda se sentia julgado e cada olhar na direção do fundo dos seus olhos, parecia uma enorme incógnita.
E seu cérebro não ajudava. Aquela voz interior gritava forte dentro da sua cabeça em meio à sua tentativa de ordenar os pensamentos.
“Ei! Será que estão gostando de você?” “Reparou que aquele ali da esquerda cochichou algo com o colega do lado? Será que é sobre você?” “Aquela do fundo anotou alguma coisa...Será que é para reclamar depois?”
E, assim, apesar de anos se preparando é como se sentisse um impostor. Afinal, ele sabia que poderia ser bem melhor do que estava sendo naquele momento. Se julgava e se sentia um pouco para baixo.
Aquele não era ele, não era o líder que ele havia planejado e sonhado.
Mas nada como a primeira vez para acabar com qualquer romantismo do momento e para acabar com qualquer idealização.
A teoria de falar diante do espelho consigo mesmo era muito diferente da prática de estar diante de mais de 40 pessoas.
E esta foi, com certeza, uma outra lição que seria aprendida depois de muito tempo por ele: a atenção do outro (ou a falta dela) não era somente a sua responsabilidade.
A sensação de julgamento o tempo todo é, na maior parte das vezes, apenas uma “neura” pelo momento de insegurança.
E o tempo foi passando...e passando. E, finalmente, aquela longa noite havia chegado ao fim. “Ufa!” – foi a frase que soltou baixinho para si mesmo.
Ainda ficou ali sozinho, alguns minutos na sala vazia, repassando e pensando em tudo que havia vivenciado.
Aquele jovem voltou para a casa e naquela noite não conseguiu dormir bem. Não por um sentimento de culpa, não por ser incapaz.
É que quando se é jovem e se começa em situações que envolvem grandes responsabilidades, vários fantasmas povoam os pensamentos.
Mal sabem eles que são, na maioria das vezes, apenas fruto da imaginação.
Mas lá no futuro, lá na frente vão rir de tudo.
Vão olhar para trás e falar: "foi de uma intensidade desnecessária".
Mas, na verdade, foi necessária sim. É isso que os farão crescer para que, quando maduros, possam aconselhar e ajudar outros jovens nesse processo de iniciação do primeiro “grande” emprego das suas vidas.
Quem sabe um dia, lá no futuro, quando tudo se tornar natural, falem ou mesmo escrevam e publiquem por aí, na internet, um texto, simplesmente para aconselhar dizendo: “Está tudo bem, meu(minha) jovem, não se cobre tanto...”
Copiado: Patrick Pedreira - Professor e autor do livro "Carreira sem atalhos"
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