segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Os Danos da Pornografia pode te Causar

 Os danos da pornografia não se limitam somente aqueles que trabalham nela, você também sai prejudicado. E muito!

A morte de 5 estrelas pornô em menos de 6 meses, acendeu um alerta sobre a indústria pornográfica mundial e os danos psicológicos e físicos de se trabalhar em uma indústria em deterioração que já não pagam mais como nas décadas de 80 e 90, devido a pirataria e outros tipos de plataformas que fornecem conteúdos dos mais variados gratuitamente na internet. 
O estresse mental, o estigma social, cenas cada vez mais degradantes e nenhum tipo de apoio psicológico levam muitas mulheres jovens que entram na indústria se tornarem depressivas e dependentes em álcool ou drogas. Segundo a Pink Cross Fundation, uma ONG sem fins lucrativos, fundada pela ex atriz pornô Shelley Luben, a expectativa de vida de uma atriz pornô é de 36 anos, enquanto a média nacional americana é de 78 anos. 
A taxa de infecção por gonorreia e clamídia é 10 vezes maior entre atores pornográficos, 70% de atores e atrizes são dependentes de álcool ou drogas e aproximadamente 20% dos atores tem alguma DST.
O debate que se acendeu nos últimos meses, fala sobre péssimas condições de trabalho em uma indústria que destrói seres humanos, os tornando produtos altamente rentáveis em uma indústria que movimenta milhões. Usando a mesma técnica mercadológica de marketing da indústria do tabaco, o monopólio da Mindgeek (empresa que detém os maiores sites pornográficos do mundo) sutilmente leva o expectador a consumir seus produtos sem uma análise mais profunda nos danos que ela causa não somente naqueles que diretamente estão envolvidos nela, como no caso dos atores e atrizes, mas no consumidor final: a sociedade como um todo.
A pornografia comercial começou a tomar forma quando Hugh Hefner, introduziu a revista Playboy, em 1953 juntando uma revista de sexo e estilo de vida. Hugh Hefner vendeu uma fantasia. O sonho de cada homem era ter a vida dele. 
Ele tornou a venda da carne feminina chic e conceituada e tornou o soft porn aceitável no mundo todo. Hoje o soft porn está em filmes, novelas, seriados e no nosso dia a dia como algo comum.
Em 2008, a empresa Hitwise catalogou 40.634 sites que distribuíram pornografia online. Em 2009, o Media Research Center (MRC) examinou as pesquisas mais populares do YouTube para a palavra “pornografia”, produzindo 330 mil resultados. O estudo relatou os 157 melhores vídeos, todos com um milhão de visualizações ou mais.
Se analisarmos,a nossa sociedade de tornou um grande consumidor de pornografia. Ano após ano ela vem contribuindo e mudando a forma como encaramos e como lidamos com o sexo, pois ela tem feito o papel de educadora sexual. 
Se não falarmos com as crianças e adolescente sobre sexo saudável e consensual, a pornografia vai tomar pra si essa função. O que ocasiona o que vemos hoje, a pornificação das relações interpessoais.
A pornificação de uma sociedade leva ela a níveis desastrosos de abusos sexuais, estupros e violência contra mulheres e meninas. O lado sombrio da indústria vai muito além dos danos que ela causa pra quem atua diretamente nela. O debate liberal que se concentra somente nos danos dos trabalhadores da indústria, ignora por completo os danos que ela causa também nos consumidores. 
Por desinformação ou por não querer mudar o status quo que a pornografia se tornou,ou seja por uma falsa liberdade sexual propagada ou por achar que ela é algum tipo de arte, muitas pessoas acreditam que uma mudança nas condições de trabalho dos profissionais, mais direitos e melhores salários (que acredito que deveria ter) ou a criação de pornografia feminista ou ética, esses efeitos seriam menos desastrosos. Mas, ignoram que no capitalismo e patriarcado, qualquer mudança que se faça no sistema vigente trará somente frutos para aqueles que detém o poder e não aqueles que são subjugados por ele.
Diversos estudos ao longo das últimas décadas tem mostrado que a pornografia se inseriu na nossa sexualidade de maneira sorrateira, de maneira quase imperceptível. Se queremos combater a violência sexual, é extremamente necessário, combater e falar sobre os malefícios da pornografia.
Quando um menino perde sua virgindade, ele provavelmente já viu mais pornografia que qualquer adulto teria visto há 20, 30 anos atrás.
Um estudo que analisou 304 cenas dos filmes mais assistidos mostrou que 88% das cenas contêm agressão física (principalmente palmadas, engasgos, bofetadas, etc.) e 49% das cenas contêm agressão verbal e que a violência é centrada nas mulheres e ela é propagada por homens.
Gail Dines, professora emérita de sociologia e estudos femininos no Wheelock College de Boston, estuda o impacto da pornografia há mais de 25 anos.
Em um artigo de 2017, Dines disse que a domesticação da internet, que começou em torno de 2000, tornou a pornografia “gratuita, acessível e anônima — os três fatores-chave para aumentar a demanda e o consumo”.
A tempestade perfeita está aqui, onde temos uma geração jovem de crianças que têm acesso a pornografia hardcore e violenta em seus celulares aos 9, 10 e 11. Eles estão crescendo viciados em pornografia; Isso está moldando seu modelo sexual. E em algum momento, eles vão passar da visualização para atuação.
O impacto disso é que esses meninos vão crescer acreditando que o sexo é violência e as mulheres são objetos com o único propósito de dar prazer a eles.
Andrea Dworkin e Catharine MacKinnon definem a pornografia como “a subordinação gráfica sexualmente explícita das mulheres através de imagens e / ou palavras” (1988, p.36). Elas mostram três formas em que esta definição geral pode ser atendida, por exemplo, “as mulheres são apresentadas desumanizadas como objetos, coisas ou mercadorias sexuais”.
A objetificação sexual é outra característica comum da pornografia. 
Refere-se ao retrato de seres humanos — geralmente mulheres — como coisas sexuais despersonalizadas, como “peitos, bocetas e ânus”, não como seres humanos multifacetados que merecem direitos iguais aos homens. Ela mostra que o não de uma mulher pode ser facilmente mudado com muita insistência, ou pouca resistência física. Que mulheres se fazem de difíceis, mas acabam cedendo depois. Com essa alienação sexual, homens abusam de mulheres e meninas. 
E meninas e mulheres não se dão conta de que foram abusadas por também ter no inconsciente que elas não podem dizer não ou não podem reclamar para não serem taxadas de frigidas ou frescas, pois na pornografia todas as mulheres estão sempre dispostas para o sexo, porque com ela seria diferente? 
Ela não quer ser diferente das mulheres que o seu parceiro sente desejo e se masturba, ela quer também ser desejada, nem que pra isso suas vontades sejam colocadas em segundo plano. E esse ciclo de abuso tem se perpetuado por muito tempo.
Uma pesquisa indicou que 25 % a 30 % de estudantes universitários nos Estados Unidos e Canadá admitem que existe alguma probabilidade de que estuprariam uma mulher se pudessem fugir disso. ( Malamuth, Haber e Feshbach, 1980)
Cerca de 20 % a 30 %mostra uma excitação sexual substancial por representações de estupro em que a mulher nunca mostra sinais de excitação, apenas aborrecimento. (1985, p.95)
Cerca de 50 %para 60 %mostram algum grau de excitação por uma descrição de estupro em que a vítima é retratada como se ficasse sexualmente excitada no final.
A pornografia tem criado gerações de predadores sexuais.
Em 2014, a neurocientista Valerie Voon de Cambridge realizou um estudo comparando os cérebros daqueles com comportamentos sexuais compulsivos (CSB) aos cérebros de indivíduos saudáveis. Sua equipe de pesquisa mostrou 19 sujeitos com CSB e 19 sujeitos sem CSB, tanto filmes pornográficos quanto vídeos esportivos. 
As varreduras funcionais de ressonância magnética de sujeitos em testes com uso de CSB mostraram que o estriado ventral, o cingulado anterior dorsal e a amígdala reagiram para ao ver material pornográfico da mesma maneira que o alcoolatra reage ao ver uma propaganda de bebidas. 
Essas regiões do cérebro estão envolvidas no processamento e antecipação de recompensas e motivações, e processando o significado de eventos e emoções.
A revista Human Brain Mapping publicou um estudo em 2002, demonstrando que, embora muitos homens e mulheres tenham regiões similares do cérebro ativadas durante a visualização da pornografia, apenas nos homens existe uma ativação significativa do tálamo e do hipotálamo. 
O hipotálamo é responsável pelas unidades primárias de alimentação, água e sexo, bem como motivação e controle hormonal. Isso significa que, quando os homens são ativados por pornografia, seus corpos experimentam a excitação sexual, não apenas como um desejo, mas como uma necessidade de sobrevivência.
Além disso, outras pesquisas mostram que a exposição à pornografia está associada a atitudes mais permissivas em relação ao sexo casual, maior probabilidade de se engajar em comportamentos sexuais de risco, dominação dos homens sobre as mulheres e maior aceitação da violência sexual. 
Muitos homens consideram a pornografia como seu modelo pessoal para relacionamentos do mundo real, esses efeitos são especialmente problemáticos. A pornografia geralmente não inclui romantismo, não tem diálogo e nenhuma conexão emocional, ensinando assim a esses usuários masculinos que os relacionamentos são puramente físicos. 
Assim, esses homens são incapazes de formar relacionamentos saudáveis ​​e igualitários.
Em uma meta-análise de 46 estudos publicados de 1962 a 1995, que inclui uma amostra total de 12.323 pessoas, os pesquisadores concluíram que o material pornográfico coloca um risco maior de:
  • Desenvolvimento tendências sexualmente desviantes (aumento de 31% no risco), como pedofilia e zoofilia por exemplo.
  • Cometer ofensas sexuais (aumento no risco de 22%)
  • Aceitar mitos de estupro, como culpar a vítima (aumento de risco de 31%)
Em uma meta-análise de 24 estudos realizados entre 1980 e 1993, com um total de 4.268 participantes, os pesquisadores correlacionaram positivamente a aceitação de mitos de estupro à exposição a não-violência ou pornografia violenta.
Entre os perpetradores de crimes sexuais, a exposição de adolescentes à pornografia é um preditor significativo de violência elevada e humilhação de vítimas.
Em um estudo de 187 estudantes universitárias, os pesquisadores concluíram que a exposição precoce à pornografia estava relacionada a “fantasias de estupro” e a atitudes subsequentes a favor de relações sexuais violenta contra as mulheres. Os pesquisadores acreditam que a pornografia consumida em uma idade jovem contribui para que as mulheres sejam socializadas para aceitar a agressão sexual como um evento sexual / romântico.
A pornografia remove a empatia e promove o assédio e o abuso.
A empatia e a objetivação sexual são incompatíveis. Há evidências de que, quando os observadores aguçam a aparência física de uma mulher, ela se torna “menos humana” e “mais objeto” aos olhos do observador. Sob um olhar sexualmente objetivador, os corpos das mulheres tornam-se momentaneamente a “propriedade” daquele que observa — quer tenham consentido ou não. Desafiar esse elemento da cultura masculina é uma tarefa extremamente importante — e vital. 
O professor de jornalismo, Robert Jensen , escreveu que “a pornografia é como será o fim se não invertermos o curso patológico em sociedades patriarcais e corporativas-capitalistas”
Ele também sugere dar aos homens (e mulheres) as ferramentas críticas e educacionais necessárias para rejeitar o que ele chama de “masculinidade tóxica”. Não podemos rejeitar a cultura tóxica que a pornografia criou sem rejeitar a própria pornografia.
A pornografia não requer tradução, nenhuma explicação e nenhuma pátria em particular. É uma linguagem universal, e também pode ser um campo de treinamento para abuso. Ela da voz e está diretamente ligada com a pedofilia, tráfico de mulheres, prostituição e violência contra mulheres.
Alguns estados membros da ONU estimam que entre 60% a 90% das mulheres no comércio sexual são traficadas. As estimativas tailandesas mostram que 40% do comércio sexual é abuso sexual infantil e cerca de 90% das meninas traficadas são menores de idade.
A desigualdade global há muito incentivou a exploração sexual, mas apenas recentemente foi transmitida pela pornografia. Quantas dessas mulheres estão em filmes pornográficos vistos em todo o mundo? Pesquisas sugerem que os usuários não se importam. 
A retórica da escolha, faz com que os expectadores não queiram saber a verdade por de trás da pornografia que ele assiste. 
Por isso é importante e urgente falar sobre pornografia, não é ser anti-sexo, não é ser moralista, nem pudico combater uma indústria que lucra com a misoginia, que lucra com mulheres e crianças e que te envolve em sua teia o tornando submisso a ela.
E se pensar que quero banir a pornografia, eu responderia que sim, que eu desejaria sua abolição. Mas, no modelo atual de sociedade vigente isso se torna impossível. Então, levar uma política de redução de danos para todos, junto com educação sexual baseada em igualdade e respeito é o inicio para combatermos os malefícios que ela causa na sociedade atual. Recuse a clicar, recuse a fazer parte de algo que degradas as relações humanas.

Texto de Fernanda Aguiar - O Monge Moderno

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