Como a ética se relaciona com a administração das organizações?
Primeiro, vamos entender qual é o conceito de ética.
A origem da própria palavra nos ajuda. Do grego éthos, ética pode ser entendida como os costumes, usos e princípios que regem uma comunidade.
Aristóteles usa o termo êthos referindo-se ao caráter, ao modo habitual de ser, mais pessoal do que social. Ressalta que a ética não diz respeito tanto ao saber, mas ao saber viver; a agir bem, a viver uma vida boa. Em resumo e de forma simplificada, portanto, ética significa pensar e agir bem.
Na administração, essa afirmação reveste-se da maior importância. Não seria exagero ver a ética como sobrevivência da empresa e parte essencial da avaliação de sua sustentabilidade.
Na prática, como desenvolver um raciocínio ético na administração?
Três abordagens são propostas para isso: individual, organizacional e macro.
Individual - cada profissional deve agir com correção e competência. Robert Solomon, autor de "A melhor maneira de fazer negócios: como a integridade pessoal leva ao sucesso corporativo", propõe um rol de dezenas de virtudes, de hábitos bons que toda pessoa deve possuir se quiser ser bem-sucedida nos negócios sem perder a dignidade.
Pode-se dizer que uma pessoa é o seu comportamento moral. De uma forma simples, três critérios básicos servem de referencial: qualquer ação deve ser boa; a intenção ou a finalidade com que se pratica essa ação deve ser boa; as circunstâncias e as consequências da ação devem ser boas. Se um só desses critérios falhar, certamente estará faltando ética à pessoa.
Organizacional - um sistema de valores - definido pelos proprietários ou executivos da instituição - deve ser claramente exposto a todos os colaboradores da empresa para que se crie uma conduta ética favorável ao desenvolvimento moral individual e dos negócios. Há necessidade de um documento escrito para que se solidifique o clima ético de um estabelecimento ou empresa?
Sim e não. Sim, especialmente quando se pensa em uma organização de grande porte. Não, quando a empresa é pequena e conta com poucos funcionários. Nesse caso, o tom ético é vivido e irradiado a partir do próprio dono ou administrador principal.
Macro - questões de caráter social, tecnológico, legal e de relações internacionais passam a constar das agendas dos executivos, em qualquer parte do mundo. Por quê? Dentre várias hipóteses, para que os gestores - de um modo geral - estejam mais sensíveis aos benefícios institucionais que advêm do bem comum promovido pela ética e das correspondentes responsabilidades. As organizações devem estar atentas para o melhor meio ético de desenvolver sua atividade econômico-mercantil.
O foco da ética na administração de empresas
A importância da ética na administração de empresas, ou ética empresarial, ficou mais evidente depois de uma série de escândalos que denotaram procedimentos imorais em relação à administração dos negócios, envolvendo organizações de grande porte e de alta rentabilidade.
Transparência e sustentabilidade são termos que surgiram desse afã de fazer o bem na administração dos negócios. Eles traduzem o princípio de alcançar os lucros e mesmo a lucratividade dentro de padrões morais mais elevados.
O importante dessa fase pós-escândalos é que parece existir um consenso sobre a importância da ética nos negócios.
Os aspectos éticos foram introduzidos no discurso dos executivos e, hoje, faz-se urgente a necessidade de constarem da pauta das suas preocupações, decisões e ações.
A vida das empresas, atualmente, envolve mais a opinião pública do que há dez anos. A adoção de estratégias, como fusões, aquisições, downsizing e privatização, já não se restringe ao âmbito da administração dos negócios ou do cenário executivo. Tais estratégias são amplamente discutidas na imprensa e nas redes sociais.
A sociedade começa a se organizar para cobrar a conduta ética em todos os âmbitos e setores da economia e do governo. Dentro da empresa, a alta administração é mais fortemente observada. Espera-se uma coerência e uma consistência entre o que é dito e o que é vivido, o que é solicitado e o que é feito. Quando a administração se apoia em princípios éticos claramente estabelecidos, os padrões morais são respeitados, as energias dos empregados se concentram no trabalho e o resultado é um ganho de produtividade.
Essa equação deve e costuma levar ao equilíbrio dos negócios: uma produtividade crescente assegura que se cumpram as metas estabelecidas, que se respondam às demandas e pressões globais, sem deixar de atender ao imediato e ao local, respeitando o meio ambiente.
No longo prazo, a ética é sempre rentável para a empresa. No curto e no médio prazo, pode não ser para o negócio, mas aí está o desafio do administrador: imprimir uma visão estratégica tal que os objetivos da organização sejam alcançados no mais curto prazo possível, dentro dos limites morais.
O importante é resolver a equação tridimensional, em que se busca o ponto ideal entre os custos ocultos e os explícitos e entre os benefícios ocultos e os explícitos. Uma organização ética procura alcançar o bem para si próprio, para a sociedade e para a humanidade como um todo.
Administração com ética
O conceito de administração pressupõe uma dimensão econômica da vida, em que a empresa e o mercado desempenham um papel fundamental. Além disso, a ética empresarial conduz à ética econômica, em que se define o sistema capitalista, principal ambiente para a administração de empresas ou de negócios e outros sistemas que vão absorvendo o conceito, por sua ampla gama de aplicações possíveis.
Aristóteles parece ter sido o primeiro filósofo a mencionar com clareza o valor moral da riqueza, o que nos leva a compreender a eticidade dos negócios e, por extensão, da administração: “O que nos impede, portant
o, de chamar feliz ao que age de acordo com a vida perfeita e está suficientemente provido de bens externos, não por algum período fortuito, mas durante toda a vida?”
o, de chamar feliz ao que age de acordo com a vida perfeita e está suficientemente provido de bens externos, não por algum período fortuito, mas durante toda a vida?”
Aristóteles já considerava evidente que: “...a felicidade também necessita de bens exteriores, pois é impossível, ou não é fácil, fazer o bem quando não se conta com recursos (...) então, a felicidade parece necessitar também de tal prosperidade e, por essa razão, alguns a identificam com a boa sorte, enquanto outros a identificam com a virtude.”
Apoiados nessa base filosófica, os negócios passam a ser um dos campos de maior riqueza na administração. Em última análise, sua missão é oferecer à sociedade os bens, os serviços e as ideias que os cidadãos - consumidores - necessitam para atingir o seu fim último, a felicidade a que se referia Aristóteles.
Para isso, a relação de troca - e tudo o que dela deriva - pode e deve estar permeada pela ética. Todas as especialidades da administração, sem exceção, podem desenvolver-se com ética.
Copiado: http://www.fnq.org.br
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