Outro dia ouvi uma ex-modelo dizer: "Eu sempre me comportei no trabalho, por isso nunca fui assediada". Ah, então só as mulheres de má-conduta - seja lá o que isso signifique - são molestadas? Errado.
Os assediadores (aqueles que perseguem e subjugam) preferem moças com atitude recatada e aparência indefesa. Covardes que são, temem ser humilhados, por isso se afastam das decotadas, expansivas e espalhafatosas.
Numa entrevista com uma delegada de polícia, soube que os estupradores também têm esse perfil: eles fogem das mulheres ousadas que, na sua fantasia, os podem diminuir. Aquele papo de "tudo aconteceu porque ela estava usando uma saia muito curta" é estúpido e falso. Invertem-se os papéis de algoz e vítima, coisa bastante comum nesse mundo feito de homens e mulheres machistas. Mas esse é assunto para outro dia. Vamos suavizar a conversa?
Excetuando-se os assediadores do mal (que podem ser de ambos os sexos), fala a verdade: não é uma delícia ser paquerada no trabalho? A sensualidade paira no ar e arrepia a espinha num gesto durante o cafezinho, num roçar de braços no elevador, numa troca de olhares por cima do micro.
Muitas vezes não passa de um clima, uma atmosfera, um prazer sutil. Sentir-se desejada, não só pelo seu homem, aumenta a autoestima e não machuca ninguém. A coisa, porém, pode esquentar e é aí que entra (ou deveria entrar) a responsabilidade, o critério, o bom senso.
Tenho algumas amigas que se casaram com colegas de trabalho e estão felizes, tenho outras que, no meio do caminho, perderam o amante, o emprego e o amor próprio, e outras ainda cujo romance não agradou nem doeu, tornando-se um leve desconforto ou uma lembrança ligeiramente agradável.
Só uma coisa é certa: sempre haverá consequências. Ingenuidade pensar que não.
Eu, por exemplo, me arrependo de um monte de coisas - mesmo elas tendo contribuído para o meu amadurecimento, eu preferia ter amadurecido de outra forma. Me arrependo de ter repetido a oitava série por pura vagabundagem, me arrependo de ter causado rugas no rosto da minha mãe, me arrependo de ter comprado um par de óculos caríssimos que não uso, me arrependo também de ter tido um caso no trabalho (eu era secretária na época e não, não foi com nenhum chefe).
Eu me apaixonei, ele não. O caso terminou e aí fiquei eu, tendo de conviver oito horas por dia, cinco dias por semana, com alguém que eu não gostaria de ver por, pelo menos, um ano. Foi horrível. Foi humilhante. Foi patético. Me fez fazer coisas ridículas. Me fez engordar. Me fez tentar esquecê-lo com homens ordinários de quem eu fingia desesperadamente gostar - fingia para mim mesma, o que é pior.
Se fosse hoje, eu permaneceria no paraíso intermediário do gesto durante o cafezinho, do roçar de braços no elevador, da troca de olhares por cima do micro.
Mas a gente nunca sabe o que pode perder se não arriscar, não é?
Entre o risco e a cautela, eu fico com os dois.
Por: Stella Florence - http://www.mulher.com.br/
Interessante..
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