Segundo
o Aurélio, ética é o conjunto de regras e valores ao qual se submetem
os fatos e as ações humanas, para apreciá-los e distingui-los. Em
relação ao trabalho, vamos associá-la, apreciá-la quando for o caso e,
principalmente, distingui-la. Outros dicionários afirmam que a ética é
parte da filosofia que estuda os deveres do homem para com Deus e a
sociedade.
Permita-me
simplificar esse conceito, à luz da experiência pessoal e profissional
ao longo de mais de quarenta anos. Ética é a ciência aplicada pelos
seres humanos que procuram ser justos e razoáveis com todo mundo, da
melhor forma possível, além de não pensarem exclusivamente em si
mesmos.
Por
essa razão, ética não é um conceito facilmente aplicável nas grandes
corporações até mesmo porque o capital não consegue se multiplicar na
velocidade que precisa se adotá-la como bandeira. Se assim o fizesse, a
distribuição de renda seria diferente, as relações desumanas no trabalho
teriam outra conotação e os profissionais de valor seriam mais do que
um simples número no quadro de empregados da organização.
Você
conhece algum profissional que consiga ”cumprir os deveres com Deus e a
sociedade” em alguma empresa? Se o fizer ao pé-da-letra, ele
simplesmente é excluído do meio, a empresa vai à falência, e o líder
entra em descrédito perante o acionista ou superior imediato, num mundo
repleto de valores equivocados.
Apesar
de todas as recomendações dos especialistas com as mais variadas
teorias sobre o assunto, as empresas continuam falhando abruptamente na
condução dos negócios. O capital humano nunca foi páreo para a ambição
desmedida do lucro e quando a ambição ultrapassa os limites do razoável,
a ética e o respeito aos indivíduos são literalmente atropelados pelo
poder que não conhece limites.
Muito
se fala na necessidade de modificar as relações entre capital e
trabalho com intuito de proporcionar ambientes mais justos e fraternos,
porém o abismo entre o discurso e a prática é imenso.
A
sobrecarga de trabalho é um exemplo típico da imposição do poder. A
opção pela redução da força de trabalho e a avidez do capital pelo lucro
em progressão geométrica elevam o custo social, sem pudor.
Antes
de prosseguir, lembro que as empresas são feitas de pessoas e as
pessoas erram, porém, numa sociedade extremamente competitiva, o mínimo
erro torna-se imperdoável. Erros fazem parte do crescimento, mas no
mundo corporativo atual, o erro será parte do crescimento numa outra
empresa, nunca onde se comete.
Não
existe espaço para a redenção. O erro é a chance que as organizações
esperam para descartar os indivíduos a fim de elevar a produtividade e o
lucro por empregado, importantes na divulgação dos resultados.
As
relações entre capital e trabalho são absolutamente frias e, por
consequência, as relações entre chefes e subordinados também. É mais
cômodo exercer a pressão do que a liderança efetiva para se obter
resultados.
As
incertezas do mundo atual não permitem questionamentos nem espaço para
diversidade, aliás, são poucos os líderes que conseguem conviver com
diferenças, em princípio, salutares para o crescimento das organizações.
O mundo foi construído com base nas diferenças étnicas, religiosas e
culturais. Nelson Rodrigues afirmava que toda unanimidade é burra, mas
poucos entendem essa máxima.
Por
questão de sobrevivência, muitos profissionais se sujeitam a trabalhar
em empresas de valores duvidosos, contrários às necessidades pessoais de
cada um, onde o discurso vale apenas para a sociedade e a ética
restringe-se aos manuais da organização.
Infelizmente
não existe emprego ideal, mas existe trabalho ideal, caso contrário, o
mundo seria cruel. O que nos move para frente é a certeza de que existem
pessoas de bem, apesar da nossa tendência inequívoca de pensar
diferente.
Parafraseando
um dos executivos mais sensatos que conheci no mundo profissional, ”a
ética é o freio da ambição”. Os seres humanos são capazes de coisas
incríveis por dinheiro e poder e, na maioria das vezes, a ambição será
mais forte que a ética, para desespero dos menos favorecidos
politicamente.
Todavia,
não se deve perder a esperança, nunca. As relações na vida pessoal e
profissional são difíceis, mas o mundo evolui rapidamente. Existem
líderes e também organizações sensatas que conseguem conciliar os
interesses, pois transcendem a ambição e o lucro em nome daquilo que se
convém chamar de ética, aliada ao respeito aos indivíduos.
Em
razão de tudo que penso, escrevo e desejo para os que convivem comigo,
confio sempre na justiça divina, a despeito de toda falta de bom senso e
intolerância na face da Terra. Deitar a cabeça no travesseiro com a
sensação do dever cumprido, desprovido de culpas e mágoas, não é para
homens comuns.
Como diria Otto Lara Resende, devemos almejar firmemente a utopia, afinal, o mundo não precisa seguir permanentemente infeliz.
Pense nisso e seja feliz!
Colunista:
Jerônimo Mendes - http://www.qualidadebrasil.com.br
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