terça-feira, 24 de abril de 2018

A Importância do Administrador Hospitalar.


Escrevo, a pedido de amigos, sobre este instigante tema, que chega a ser polêmico, devido a sua importância e abrangência nos dias de hoje, no âmbito dos hospitais brasileiros.

Na segunda metade da década de 1980, eu tive o privilégio de atuar numa organização hospitalar, por mais de quatro anos, na função de Chefe do Setor de Logística e Finanças, ocasião em que me possibilitou constatar quão complexo é gerenciar esse tipo de organização, sobretudo em face de sua atipicidade. 



Essa experiência, aliada aos meus conhecimentos profissionais, permitiu-me compreender, com relativa facilidade, como se estabeleceu o caos em vários hospitais públicos do país. Hodiernamente, observo com profundo pesar, o sofrimento dos brasileiros usuários de tais sistemas de saúde, os quais não dispõem de recursos para pagar um Plano de Saúde. Alguns se arriscam em responsabilizar os políticos e/ou os profissionais da área de saúde pelo colapso no funcionamento dos hospitais brasileiros, em função de gestão diletante (não dispõem de plena capacidade administrativa para desenvolver determinadas atividades e tarefas, que são inerentes ao campo de atuação profissional do Administrador Hospitalar); outros afirmam que o caos decorre da crise econômica e da falta de recursos financeiros para viabiliar um adequado planejamento estratégico, objetivando a sustentabilidade, a modernização e a contínua otimização organizacional do hospital como um todo, de modo a atender a crescente demanda de usuários e o imperativo tecnológico do setor, que se desenvolve de maneira vertiginosa. 

Não obstante o caos estabelecido no setor de saúde no Brasil, gerando profundos sofrimentos aos menos aquinhoados financeiramente, ressalto haver exceções: temos o caso do hospital Municipal M’Boi Mirim, localizado no Jardim Ângela, uma das áreas mais carentes da cidade de São Paulo. Administrado pelo Hospital Israelita Albert Einsten, completou 01 ano de funcionamento no início de abril deste ano, é considerado um ótimo exemplo de como os princípios de gestão privada podem – e devem – ser aplicados no setor público. Atende cerca de 17.000 pacientes/mês. A grande cartada foi a adoção de uma espécie de terceirização de suas operações. Na prática, a Prefeitura repassou a administração do hospital M’Boi Mirim a 02 instituições privadas, o Albert Einsten e a organização social Centro de Estudos e Pesquisas Doutor João Amorim (Cejam), entidade dedicada à melhoria da saúde pública. Nenhuma delas ganha pelo trabalho. Na gestão do contrato dessas instituições com a Prefeitura, existem metas de quantidade e qualidade de serviços, além do gerenciamento dos contratos de trabalho de cerca de 1.200 pessoas que trabalham no regime de CLT, como na iniciativa privada. A parceria em tela constitui-se numa excelente alternativa para driblar as amarras burocráticas que drenam a eficiência do poder público. 



Um estudo do Banco Mundial comparou o desempenho de hospitais públicos paulistas sob os dois modelos: o puramente público e os administrados por contratos de gestão com organizações sociais. Nos 27 hospitais terceirizados do estado os pacientes permanecem menos tempo internados e o custo do leito é menor do que nos hospitais públicos ditos puros. 
O mais importante, a taxa de mortalidade também é menor. 

Outros pontos positivos observados:
a) Flexibilidade de contratação e demissão, que, no caso, influi diretamente na qualidade dos serviços;
b) Corpo Clínico sempre completo;
c) Salários mais atraentes (o dobro do mercado de trabalho);
d) Elevada profissionalização dos executivos da direção do hospital (o Processo Seletivo é puramente técnico; não há indicação por parte do Prefeito);
e) Inexistência de ingerência política e/ou desvios de recursos, favorecendo a eficiência e a transparência; e
f) Relatórios Técnicos são gerados nos mesmos moldes dos utilizados pelos hospitais privados mais eficientes do país, possibilitando eficaz gerenciamento a partir de centenas de indicadores de desempenhos.

Vê-se, pois, que não é nada fácil administrar um Hospital, principalmente se seus altos executivos não possuírem o devido preparo na área de Administração Hospitalar, a qual o Conselho Federal de Administração regulou como um campo conexo do Administrador (um Responsável Técnico que representa seguramente a garantia de que o hospital dá à sociedade, de que seus serviços administrativos estão sendo executados sob a supervisão de um profissional habilitado e competente).


Os novos tempos caracterizam-se por uma rígida postura ética e persistente busca pelo estado da arte na área de Gestão. Assim sendo, a profissionalização da Administração Hospitalar é um instrumento imprescindível para a adequação dos serviços de saúde às necessidades da sociedade, dado que é fácil constatar a existência de um corpo de conhecimentos formais, capazes de possibilitar um melhor entendimento desses serviços, e de facilitar a compreensão e a solução de vários dos complexos problemas administrativos dos hospitais brasileiros.


Considerando-se os seguintes Valores éticos para um hospital:


Assistência 

Respeito aos direitos do paciente: defesa dos direitos do paciente;

• Melhoria contínua: aprimoramento, educação continuada, atualização;
• Competência técnica: competência e desenvolvimento científico com ética;
• Atenção integral: cura e reabilitação; promoção à saúde;
• Foco na assistência: foco na finalidade da instituição (atividade-fim);
• Excelência na atenção à saúde: beneficência do paciente e excelência na assistência;
• Atendimento humanizado: cuidados especiais; foco primário na pessoa como razão de ser; solidariedade humana (humanização);


Administração 

Espírito de equipe: cooperação, diálogo e trabalho em equipe;

• Gestão eficiente: viabilidade econômica, eficiência na gestão, proteção da saúde do paciente;

Compromisso social 

Justiça: eqüidade, igualdade, justiça, solidariedade, respeito aos direitos legais;

• Responsabilidade social: metas e objetivos para além da viabilidade econômica, defesa dos direitos humanos, atendimento voltado às necessidades da comunidade, participação da equipe na tomada de decisões, proteção da saúde ambiental, benefício social, preocupação com a saúde da coletividade;
• Compromisso: ética, compromisso profissional, integridade, coerência e congruência..........

Percebe-se que o Administrador Hospitalar chega a ser imprescindível ao eficiente funcionamento de um sistema hospitalar, principalmente porque os profissionais da área de saúde não são preparados para lidar com atividades e tarefas, tais como:
a) Determinantes organizacionais do Hospital moderno;
b) Ferramentas de suporte e de gestão;
c) O novo paradigma da gestão de pessoas;
d) A gestão da qualidade nos hospitais brasileiros; instrumentos utilizados na prática diária da gestão da qualidade; a acreditação em Saúde;
e) Administração dos bens patrimoniais do hospital; patrimônio operacional: quebra de paradigmas;
f) Gestão de Logística e de Suprimentos na Administração Hospitalar;
g) Orçamentos, Finanças e Custos em Administração Hospitalar;
h) Administração Financeira; sistema de programação financeira de curtos e médios prazos – programação de caixa (cash flow);
i) Planejamento Estratégico de “Expansão Organizacional/Empresarial”, objetivando crescer com sucesso e com sustentabilidade; Marketing de Organizações em saúde; Gestão Estratégica de Negócios;
j) Gerenciamento dos sistemas administrativos, tais como organogramas, elaboração de estatuto, regulamento, regimento, estudos de processos, clientes, licitações e negociações, Administração de contratos/convênios, planejamento de recursos humanos/corpo clínico, centro de estudos, controle de estagiários, e até nas questões que envolvam a adoção de aparatos contra infecções hospitalares em geral ou epidemias, como a gripe A/H1N1, que começa a assolar o país.


Dizer que os hospitais públicos não devem ser administrados como uma empresa privada é uma visão totalmente equivocada. Não se trata de confundir gestão pública com lucro, mas sim administrar os recursos públicos da melhor maneira possível em benefício do usuário do sistema de saúde. Assim, todos os hospitais têm que ser administrados como empresas, não só com a visão simples do lucro, mas também para ter sua viabilidade econômica e, com isso, assegurar a sua sustentabilidade a partir do bom atendimento à comunidade, o que hoje não ocorre, apesar de sabermos que o Brasil tem feito progressos significativos no desenvolvimento humano e de suas políticas públicas durante a última década, graças a uma série de inovações nas políticas e ações sociais, a equidade de acesso vem melhorando consideravelmente. 



Na saúde, a consolidação do financiamento público e organização do setor num sistema nacional, Sistema Único de Saúde SUS e uma ênfase maior na atenção básica têm sido muito importantes para essas melhorias. Contudo, persistem desafios significativos relacionados à improficiência administrativa e baixa qualidade dos serviços prestados. Aumentar a eficiência e a efetividade na utilização de recursos de saúde para conter a escalada de custos, talvez seja o maior desafio enfrentado pelo sistema de saúde brasileiro.

Administrar um hospital está entre as tarefas mais complexas que se conhece. Os custos são crescentes e as novas tecnologias, que em geral não significa a substituição da mão-de-obra, devem ser agregadas a todo o momento. Por outro lado, ninguém alega que médicos ou enfermeiras, por exemplo, devem deixar de passar por cursos de formação pelo fato de eventualmente esses cursos serem de má qualidade. O que se vê são ótimos profissionais de outras áreas “virarem” péssimos “administradores hospitalares” (e o usuário do sistema de saúde pagar muito caro por isso), pois flertam perigosamente com a irresponsabilidade. 



Assim, reafirmo que a profissionalização da administração hospitalar é um instrumento imprescindível para a adequação dos serviços de saúde às necessidades da sociedade brasileira, pois se constata que há um corpo de conhecimento formal capaz de possibilitar um melhor entendimento desses serviços, e de facilitar a compreensão e a solução de vários dos problemas complexos da organização hospitalar.

Quando um hospital possui Administradores profissionais (com registro no Conselho Regional de Administração – C.R.A.), são suas as responsabilidades na conduta administrativa eficaz da organização, o que assegura melhor desempenho e eficácia legitima perante a comunidade. O fato é que a administração hospitalar não é tarefa para amadores ou aventureiros políticos que assumem, sem preparo, uma função que ultrapasse suas capacidades, suas habilidades técnicas e seu preparo intelectual.


Os hospitais, e todos os serviços de saúde, precisam mudar, e os profissionais de administração devem redescobrir o gosto pelo bem feito e a dimensão ética do seu trabalho. Eles precisam desenvolver a habilidade de tomar decisões e a capacidade de avaliar resultados, de coletar e interpretar dados, de eleger prioridades, de liderar pessoas e de se comunicar plenamente. Compreende-se, por conseguinte, que há premente necessidade de se efetivar uma gestão profissional de saúde no Brasil, o que inclui teoricamente as dimensões administrativas, técnica e financeira. No entanto, compreende-se que as três dimensões sejam indissociáveis, o que conduz a não simplesmente negar os caminhos que vem sendo construídos pela realidade apresentada pela Administração do Sistema de Saúde no País, mas a entender que o caminho está apenas parcialmente traçado, faltando ainda o amadurecimento do campo de visão social, no que diz respeito à necessidade de se determinar e direcionar verdadeiramente as verbas para possibilitar ao Administrador Hospitalar a prestação de um serviço de atendimento à saúde de forma digna à sociedade brasileira. 



As mudanças do perfil e da prática do Administrador Hospitalar  frente às recentes perspectivas conjunturais, contribuem para a emergência de novos conceitos em administração nas instituições de saúde. O controle inadequado dos estoques, além da existência de vários estoques paralelos dentro das unidades de saúde, e os métodos ineficientes de dispensar os medicamentos aos pacientes hospitalizados contribui para desperdícios, perdas e desvios significativos. O planejamento inadequado, a centralização excessiva das decisões de compra, e uma estrutura legal altamente rígida resultam numa inconsistência entre os materiais necessários e aqueles que estão realmente disponíveis. A aquisição e manutenção de equipamentos e da planta física estão entre os elementos mais custosos de qualquer sistema de saúde. A ineficiência nessa área pode, portanto, ser uma fonte significativa de aumento de custos. 

Nos últimos anos, o Ministério da Saúde e secretarias estaduais e municipais de saúde tentaram criar um planejamento mais racional de compra e distribuição de equipamentos. No entanto, ainda se observa que a maioria das unidades ainda tem sérias dificuldades para manter suas instalações e equipamentos, com repercussões desfavoráveis para a qualidade e eficiência do atendimento. Até hoje as unidades de saúde, em sua maioria, não têm sido responsabilizadas pela gestão diletante de seus equipamentos e instalações. 

Assim, “a Administração não se restringe aos aspectos puramente administrativos e burocráticos, não devendo se distanciar das discussões que envolvem a prática do gerenciamento de ações administrativas ou técnicas nas unidades de saúde”.


Por: Adm. Alessandri Silva - http://www.administradores.com.br

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