Cruéis e competentes
A primeira imagem que
nos vem à cabeça quando ouvimos a palavra psicopata é a de um serial killer, um
homem bomba ou algum tipo perverso de criminoso.
Esse é, no entanto, só um lado da moeda.
Em entrevista a EXAME.com, o psicólogo norte-americano Kevin Dutton afirmou que nem todos os
psicopatas são violentos ou perigosos. Pelo contrário. Em doses moderadas, suas
principais qualidades são fundamentais para o mercado de trabalho e podem até
salvar vidas. É o caso dos chamados “psicopatas funcionais”.
O autor do livro "The Wisdom of Psychopaths" defende que psicopatas
têm muito a nos ensinar e já saem na frente na disputa por uma vaga no mercado
de trabalho.
Veja o que você pode aprender com um psicopata.
Crueldade
Segundo Kevin Dutton, a capacidade de separar razão
e emoção com nitidez torna o psicopata mais habilidoso no momento de tomar
decisões difíceis, principalmente em postos de liderança.
"Não importa quantos MBAs você tenha feito, se não tiver a crueldade
necessária para demitir alguém que tenha um baixo desempenho, estará dando um
tiro no próprio pé", argumenta.
O mesmo acontece, por exemplo, com advogados que defendem criminosos. Para o
psicólogo, esses profissionais têm o dever de tentar justificar atos atrozes, o
que não significa que eles defendam tal conduta no dia a dia.
Frieza
Manter
a calma em momentos decisivos é outra vantagem do controle emocional,
principalmente para o profissional que precisa mostrar tanto preocupação quanto
distanciamento de seu cliente. É o caso dos cirurgiões-médicos e dos soldados.
“Ambos trabalham com margens milimétricas de erro, entre a vida e a morte”,
compara Dutton.
O psicólogo cita um estudo realizado pela Universidade Nacional de Yang-Ming
(Taiwan) que observou pessoas comuns e cirurgiões experientes assistindo a
sessões de acupuntura.
Quando os voluntários do primeiro grupo assistiram a vídeos de agulhas sendo
inseridas no corpo humano, áreas do cérebro ligadas à dor acenderam “como
árvores de Natal”. No caso dos experts, houve apenas um lampejo dessa
atividade.
De acordo com Dutton, a atividade cerebral do psicopata o coloca no segundo
grupo. “O que os médicos adquirem com a experiência, os psicopatas têm desde o
início”.
Destemor
A ausência de medo torna
o psicopata mais propenso ao risco e mais consciente ao traçar uma estratégia,
explica Dutton.
Um estudo realizado na Universidade de Stanford, em 2005, comprovou como a
coragem na hora de investir pode trazer ganhos financeiros. No experimento,
pesquisadores simularam um jogo com dois grupos: um de pessoas sem danos
cerebrais e outro de psicopatas.
Inicialmente, cada participante recebeu 20 moedas de um dólar. No fim de cada
turno, cada jogador era questionado se arriscaria perder um dólar no “cara ou
coroa”. Se vencesse, a recompensa seria de 2,5 dólares.
O resultado surpreendeu. Apenas os psicopatas arriscaram todas as suas fichas,
enquanto pessoas sem dano cerebral optaram pelo conservadorismo - e pelo
prejuízo.
Camaleão social
Psicopatas são verdadeiros
“camaleões sociais”, define o pesquisador de Oxford. Segundo ele, a facilidade
de lidar com mudanças rápidas e adaptar-se a novas funções é cada vez mais
cobrada na dinâmica do mercado de trabalho.
“Nos últimos anos, o ambiente corporativo, com restruturações, fusões e
aquisições, se tornou ainda mais atrativo para os psicopatas”, destaca.
Ler pessoas
Atentos a cada detalhe,
psicopatas são ótimos leitores de personalidades e possuem um ótimo “radar de
vulnerabilidade”, diz Dutton. O mais surpreendente é que, apesar de não
conseguirem sentir emoções, eles as identificam melhor do que as pessoas
normais.
Segundo um psicopata entrevistado por Dutton em seu livro, muitas pessoas não
prestam atenção no que dizem e se tornam presas fáceis. “Uma vez fora, as
palavras não voltam. E um psicopata vai captar tudo”, afirma. “Assim como em
uma terapia, o psicopata mergulha dentro da pessoa”.
Carisma e persuasão
Poucos
profissionais são tão comunicativos, atenciosos e carismáticos quanto os
psicopatas. Segundo Dutton, a habilidade de “estender o tapete vermelho”
àqueles que você negocia é mais eficiente do que o caminho do confronto.
Ao aliar charme e pensamento estratégico, diz Dutton, o psicopata pode chegar
aonde quiser - e pelo caminho da persuasão. “Um bom psicopata sempre tem uma
boa narrativa”, acrescenta.
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