A impunidade em crimes de corrupção não vem de hoje e, infelizmente, convivemos com ela todos os dias. É só vermos os jornais para, vez ou outra, nos depararmos com os escândalos que envolvem diversos membros da classe política brasileira. No entanto, a falta de ética não é uma exclusividade do ambiente político.
Ela também pode ocorrer nas empresas, podendo passar despercebida por muito tempo… até a bomba estourar.
Tão perto de nós, a falta de ética no trabalho se constitui numa situação presente nas empresas. Pelo menos é o que nos levam a crer estatísticas numa recente pesquisa da KPMG sobre corrupção empresarial, realizada com 500 altos executivos. O levantamento aponta que 55% dos empresários disseram ter sido vítimas de fraudes nos últimos 15 meses, enquanto 62% acreditam que sua empresa poderia fazer parte de um ato corrupto.
Mas o que contribui para que os profissionais cometam atos fraudulentos? O administrador Antonio Gesteira, sócio-diretor da Forensic Services e Consultoria de Riscos da KPMG no Brasil, indica que um dos motivos da fraude no ambiente de trabalho está relacionado à pressão por resultados, metas agressivas e o retorno financeiro associado a atingir um determinado número do orçamento.
“Em alguns casos, a motivação para cometer uma fraude, além do risco de perder o emprego, pode vir acompanhada da possibilidade de ganho financeiro. A ausência de controles internos nas empresas promove a adoção de práticas de corrupção, suborno ou até mesmo adulteração de resultados nos sistemas contábeis, financeiros e de tributos. A fraude, na maioria dos casos, depende não só de uma, mas de um grupo de pessoas, considerando os aspectos da delegação de poder e conflito de segregação de funções”, destaca Antonio Gesteira.
Fraudes mais comuns nas empresas
Sendo, infelizmente, um tipo de crime comum no mundo dos negócios, a fraude pode ocorrer das mais variadas formas e ter diversas finalidades. A especialista Flavia Oliveira, da AFO Advocacia, aponta que “as principais fraudes no ambiente de trabalho são praticadas em concordância entre subordinados e chefia para vantagens pessoais”. Ela cita oito tipos de fraudes:
1. Plano ou acordo com um concorrente em relação a preços, licitações, descontos, promoções, abatimentos e termos e condições de vendas;
2. Planos ou acordos com concorrentes para repartir clientes, demarcar territórios, controlar ou limitar a produção ou as pesquisas;
3. Planos ou acordos com concorrentes com a finalidade de se abster de fazer negócios com determinada empresa ou restringir seus negócios com essa empresa;
4. Acordos de vendas casadas;
5. Contratos com exigência de exclusividade;
6. Vendas abaixo do custo;
7. Fraudes contábeis, como manipulação, falsificação ou alteração de registros ou documentos, de modo a alterar os registros de ativos, passivos e resultados; apropriação indébita de ativos; supressão ou omissão de transações nos registros contábeis; registro de transações sem comprovação e adoção de práticas contábeis inadequadas;
8. Suborno de fornecedores para a compra de materiais ou aprovação de materiais no controle de qualidade.
Consequências e combate
Como a maioria das práticas criminosas, a fraude numa empresa, mais cedo ou mais tarde, vem à tona. E, em decorrência disso, quem protagoniza essas ações acaba respondendo por isso, tanto perante a justiça, como diante da própria empresa, por meio da demissão por justa causa. No entanto, algumas companhias optam por não tomar medidas legais ou mesmo qualificar como justa causa a demissão do profissional. “Muitas vezes, as empresas não usam a justa causa com medo da exposição negativa”, afirma o especialista Paul Peter Boilesen, expert em combate a fraudes.
Percebe-se, então, que com a fraude, tanto perde o profissional quanto a empresa. A imagem de ambos fica comprometida e há também que se arcar com os danos financeiros e de relações de negócios, que podem ser devastadores. Daí vem a importância do combate e prevenção a essa prática. “A principal forma de combate às práticas fraudulentas é pela cultura empresarial, disseminando de forma consistente campanhas contra as pequenas atitudes, às fraudes mais comuns e cotidianas, assim criando um ambiente que inibe tais ações”, esclarece Fernando Segato, sócio da Hallx Auditoria, Consultoria e M&A (Saiba mais no box ao lado).
O incentivo a uma construção ou reforço da cultura corporativa é essencial para a promoção da ética e da transparência das relações e práticas empresariais. Companhias e profissionais bem sucedidos são reconhecidos tanto por sua competência como pela honestidade de suas atitudes e é isso que possibilita a construção da confiança e do reconhecimento por parte dos clientes e da sociedade como um todo.
Combatendo as práticas fraudulentas
Com base nas dicas dos especialistas, veja uma lista com algumas atitudes que podem evitar que empresas e profissionais se envolvam em fraudes:
- Estabelecimento de normas de conduta e de ética;
- Prevenção e detecção da fraude por meio da criação de canais anônimos de denúncia;
- Atitudes de transparência partindo da alta gestão;
- Implantação de programas de ética e de controles internos envolvendo todos os profissionais presentes nas relações da companhia;
- Intolerância a “jeitinhos”;
- Manter o compromisso de todos por meio de educação continuada;
- Aplicações de sanções a quem praticar essas ações.
Dica de filme
Enron apresenta a ascensão e queda da corporação do ramo de petróleo e gás natural, principalmente pelas fraudes.
Por:Mayara Chaves, http://www.administradores.com.br/
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