No ano em que o Plano Real comemora seu aniversário de duas décadas, constatamos que a inflação inercial, infelizmente, está de volta ao Brasil.
A série histórica recente comprova que não temos conseguido ficar no centro da meta.
Em verdade, os últimos dados indicam que possivelmente iremos superar o teto estabelecido de 6,5% ao ano ainda em 2014. Isso poderá ser evitado mediante a amarga elevação da taxa de juros, com impactos sobre o já pífio crescimento do PIB (além de atrair capital estrangeiro meramente especulativo). Ou o uso de subterfúgios, como por exemplo, postergar para janeiro o reajuste de tarifas públicas e do preço dos combustíveis.
Talvez você não saiba, mas a inflação brasileira entre 1965 e 1994, ou seja, no período compreendido entre o Golpe Militar e o Plano Real, atingiu a impressionante marca de 1,1 quatrilhão por cento!
Os jovens das gerações Y e Z não vivenciaram os impactos da superinflação brasileira. Assim, sequer conseguem imaginar o que significa, na prática, inflação diária de quase 3%.
Tempos de “overnight”, aplicação financeira automática oferecida pelos bancos para amenizar a depreciação do capital.
Tempos de “gatilho salarial”, reajuste aplicado aos salários quando a inflação acumulada atingia o patamar de 20%. Tempos de sucessivos e mal sucedidos “pacotes econômicos”.
A inflação é um mal sinistro e de braços longos. Ela atinge a todos, mas é particularmente perversa com os mais pobres, que têm seu poder aquisitivo reduzido e dispõem de poucos recursos para autodefesa.
No longo prazo, ela mina a capacidade de gerenciamento e planejamento, pois passa a ser primordial aproveitar o momento: ou você compra hoje, ou pagará mais caro amanhã. Assim, restringe o horizonte de pessoas, empresas e toda uma nação.
Neste momento, preocupa-me o tratamento que tem sido dado à questão inflacionária.
A persistir a inépcia das autoridades, corremos o risco de recrudescer nas conquistas proporcionadas pela estabilidade econômica dos últimos vinte anos.
E o grande fantasma atende pelo nome de indexação – o reajuste automático de preços com base na inflação passada, gerando a inflação inercial a que me referi no início do texto.
Neste estágio, os índices passam a ser persistentemente crescentes e o final desta história, lamentavelmente, nós já conhecemos.
Fonte: Tom Coelho - http://www.qualidadebrasil.com.br/
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