segunda-feira, 12 de setembro de 2022

O Caminho de Volta...


"Já estou voltando."

Só tenho 50 anos e já estou fazendo o caminho de volta. 

Até o ano passado eu ainda estava indo... 

Indo morar no apartamento mais alto, do prédio mais alto, do bairro mais nobre. 

Indo comprar o carro do ano, a bolsa de marca, a roupa da moda. 

Claro que para isso, durante o caminho de ida, eu fazia hora extra, fazia serão, fazia dos fins de semana eternas segundas-feiras.  

Até que um dia, meu filho quase chamou a babá de mãe!  

Mas, com quase cinquenta, eu estava chegando lá. Onde mesmo? 

No que ninguém conseguiu responder. 

Eu imaginei que quando chegasse lá, ia ter uma placa com a palavra fim.  

Antes dela, avistei a placa de retorno e, nela mesma, dei meia volta. 

Comprei uma casa no campo (maneira chique de falar, mas ela é no meio do mato mesmo). 

É longe que só a gota serena! Longe do prédio mais alto, do bairro mais chique, do carro mais novo, da hora extra, da babá quase mãe. 

Agora tenho menos dinheiro e mais filho. 

Menos marca e mais tempo. 

E não é que meus pais (que quando eu morava no bairro nobre me visitaram quatro vezes em quatro anos), agora vêm pra cá todo fim de semana?  

E meu filho anda de bicicleta, eu rego as plantas e meu marido descobriu que gosta de cozinhar (principalmente quando os ingredientes vêm da horta que ele mesmo plantou). 

Por aqui, quando chove, a Internet não chega. 

Fico torcendo que chova, porque é quando meu filho, espontaneamente (por falta do que fazer mesmo), abre um livro e, pasmem, lê. 

E no que alguém diz: "a internet voltou!", já é tarde demais, porque o livro já está melhor que o Facebook, o Instagram e o Snapchat juntos. 

Aqui se chama "aldeia" e tal qual uma aldeia indígena, vira e mexe eu faço a dança da chuva, o chá com a planta, a rede de cama. 

Aos domingos, converso com os vizinhos. 

Nas segundas, vou trabalhar, contando as horas para voltar... 

Aí eu me lembro da placa retorno e acho que nela deveria ter um subtítulo que diz assim: "retorno – última chance de você salvar sua vida!"  

Você, provavelmente, ainda está indo. 

Não é culpa sua. 

É culpa do comercial que disse: "Compre um e leve dois".  

Nós, da banda de cá, esperamos sua visita.  

Porque sim, mais dia menos dia, você também vai querer fazer o caminho de volta..."

CUIDE DO SEU TEMPO, CUIDE DA SUA FAMÍLIA E DOS AMIGOS. 

Que possamos encontrar a placa de retorno e valorizar o que realmente é importante!!!

Por: Teta Barbosa, jornalista, publicitária e mora em Recife

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