segunda-feira, 11 de maio de 2020

O Dia das Mães para Quem não Podia ser Mãe

Ontem foi uma overdose de mães nas redes sociais que eu decidi deixar esse post pra hoje. 

Desde que minha mãe partiu para o céu, em 2007, o dia das mães virou um drama. Um tabu. Sempre fomos muito grudadas, e eu era uma daquelas filhas que realmente mimava a mãe. Mesmo. Pensava no presente por semanas. Dava um jeito de descobrir o que ela queria e ela sempre me agradecia com um suspiro feliz de “Não precisava, filha”. 

Quando ela ficou doente, cinco anos antes de morrer, o dia dela era todos os dias. Tava com vontade de comer tapioca? Bôra achar onde vende. Quer passear? Só se for agora. A minha terapeuta, nesses anos difíceis, dizia-me sempre que  a doença – qualquer uma delas – era uma grande oportunidade de aproximar as pessoas. E realmente foi.  Não havia mais espaço para briguinhas, disse-me-disse, nada era deixado para depois. Não havia depois. Tanto que, quando ela morreu, meu coração estava tranquilo. Não tínhamos pendências, mágoas a resolver, nada.  Só gratidão, lembranças boas e, é claro, muita saudade.
Quando minha mãe partiu eu tinha 30 anos. Jovem que até então não tinha pensado em gravidez seriamente, mesmo estando em um relacionamento estável. Tinha muito por conquistar, cursos sempre inadiáveis a serem feitos, viagens, baladas. 

E um marido que já tinha 2 filhos e nenhuma vontade em se aventurar na paternidade novamente.  

Havia muitos obstáculos a serem superados. E quando o mais difícil deles foi transposto – o marido que aceitou ser pai de novo – apareceu mais um. Depois de mais de um ano de tentativas e vários exames feitos, o diagnóstico: O médico disse, em alto e bom som: “Você não pode ser mãe!” . 

Confesso que ele não foi seco, não foi duro, me deu alternativas, mas eu não escutei nada direito depois dessa bomba. Na minha cabeça só martelava um “COMO NÃO POSSO? Eu NASCI para ser mãe!”. Lembro que voltei para casa chorando, chorando liguei para o meu marido e chorando fiquei por várias semanas.
Meses depois, começou a batalha da fertilização in vitro. Agora meu marido além de querer ser pai, ia ter de pagar – e caro – por esse filho. Um pacote de 3 tentativas foi proposto pela clínica. Hormônios, injeções, ultrassom. Retirada de óvulos.  Fomos para a primeira tentativa. E doze dias depois, eu tinha de fazer o exame de sangue para saber se estava grávida. 


Caía em uma segunda-feira, depois do dia das mães. Fui convencida pela minha irmã a comprar um teste de farmácia no próprio domingo. 

Uma chance, segundo ela, de passarmos um dia das mães feliz. 

Era o nosso segundo dia das mães sem a nossa mãe. Cedi. Esperei meu marido sair para levar os filhos dele que iam passar o domingo com a mãe, fui até uma farmácia e comprei o exame. 

O resultado? NEGATIVO. 

Chorei, chorei, chorei, e chorei muito mais quando ele chegou da rua com rosas vermelhas para me presentear pelo dia das mães. A primeira tentativa fracassara.
Adiei por um mês a segunda tentativa. Queria descansar a cabeça e, principalmente, não contar para ninguém quando fôssemos tentar mais uma vez. Minha ansiedade já era difícil demais de dominar. Não podia cuidar da ansiedade dos outros também.  

A segunda tentativa foi marcada para o dia 25 de junho de 2009.

A data nunca saiu mais da minha cabeça porque, ao acordar para ir à clínica, vi que o mundo estava paralisado e chocado pela morte de Michael Jackson. “Melhor assim”, pensei. “Todos ocupados demais para perceber a minha ausência.” 

Saí de férias e de cena. Decidimos ir para a praia depois que saísse da clínica com três embriões na barriga. E assim foram mais 12 longos dias de espera pelo próximo exame de gravidez. Que deu positivo. Um positivo tão tímido no exame da farmácia, que me fez adiar a comemoração para o dia seguinte, data marcada para o exame de sangue. 

Mas a confirmação veio. Eu estava grávida! E o ultrassom confirmou que de apenas um bebê. Coloquei três embriões na barriga e apenas um vingou.

Por isso, ainda embriagada pelo dia das mães, quero agradecer à medicina que desde o nascimento da primeira bebê de proveta, Louise Brown, em 25 de julho de 1978, tem feito milhares de mulheres como eu: felizes, realizadas e completas.  Não só mulheres que não podiam engravidar. 


Casais formados por pessoas do mesmo sexo que quiseram ter seus filhos, mulheres que embarcaram em produções independentes porque os maridos não toparam a paternidade. E sobre essa luta pela felicidade que só uma criança às vezes pode trazer, divido com vocês um SBT Repórter sobre fertilidade que fui convidada a fazer o ano passado. 

Quando eu contava aos meus entrevistados a minha história, ele se abriam mais porque sabiam que eu entendia perfeitamente cada passo dessa luta. E por isso meu filho, Samuel, também aparece na reportagem.

Copiado: Rita Lisauskas. https://emais.estadao.com.br/

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