Para ajudar os estudantes a entender como funciona a graduação em administração e qual a realidade da profissão, o G1 examinou ideias que costumam ser associadas à carreira. Professores da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV) contam o que é mito e o que é verdade em relação à profissão.
Administração é a carreira com a maior procura no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Nos últimos 15 anos, o número de formados por ano cresceu de 35.149 para 99.216, um aumento de 182%.
Veja abaixo cinco mitos e fatos sobre a carreira:
Quem não sabe o que cursar vai fazer administração?
A professora Graziella Comini, coordenadora do curso de administração da FEA-USP, afirma que é um mito acreditar que os alunos procuram esta carreira por estarem indecisos.
“A gente tem visto que os jovens chegam com ambição para serem empreendedores, desenvolverem um negócio próprio e terem espírito de ação”, diz. “São pessoas práticas, que querem ver a engrenagem rodando.”
O professor Henrique Heidtmann Neto, chefe do centro de graduação da FGV-EBAPE do Rio de Janeiro e presidente da Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (Angrad), concorda que não existe esta conexão entre indecisão e carreira de administração.
“O ‘não saber escolher o curso’ é um problema geral, porque são jovens que prestam vestibular muito cedo”, opina. “Mas a carreira permite que a pessoa defina uma área mais específica que queira seguir depois, ao longo da graduação.”
Graziella explica que, de fato, administração é um curso generalista, que navega por várias áreas do conhecimento. Mas, seja qual for a área que o estudante decidir seguir, o objetivo da universidade será torná-lo um gestor.
É preciso fazer especialização depois da faculdade?
Como o curso de administração é mais generalista, não forma especialistas. “Por mais que existam as disciplinas optativas, cada vez mais elas são transversais. O aluno vai ter um pouco de conhecimento sobre cada tema”, afirma a professora Graziella.
Justamente por isso, ela explica que é praticamente obrigatório fazer cursos de especialização após a formatura. Ela costuma observar entre seus alunos que, depois de dois anos de concluírem a graduação, começam a sentir necessidade de aprofundar o conhecimento.
Stefan Spengler, de 25 anos, está no penúltimo semestre da graduação na PUC-SP e conta que percebe a preferência das empresas por pessoas jovens.
“Não dá para parar de estudar. Você concorre com a pessoa de vinte e poucos anos, porque o mercado quer cabeças diferentes, que estejam ligadas às novas tecnologias”, diz.
“Não dá para parar de estudar. (…) O mercado quer cabeças diferentes, que estejam ligadas às novas tecnologias.”
Stefan conta que o curso de administração tem a vantagem de abrir muitas portas no mercado – mas, sem foco, o profissional pode ficar perdido. Ele vê como essencial fazer uma especialização. “Já decidi que quero fazer MBA de mercado financeiro em Barcelona”, diz. O estágio o ajudou a escolher a área em que pretende atuar: após trabalhar por dois anos em um banco de investimentos, Stefan decidiu que quer ser um trader autônomo (cargo em que operaria com recursos próprios).
Uma pesquisa feita em 2015 pelo Conselho Federal de Administração (CFA) aponta que 73,37% dos administradores fizeram especialização, como MBA, e 11,62% cursaram outra graduação.
O mercado é amplo e dá para trabalhar em vários lugares?
De acordo com a professora Graziella Comini, o administrador tem a possibilidade de trabalhar em diferentes áreas – não necessariamente como gestor de uma empresa. “Muitos seguem na área financeira, de consultoria estratégica”, diz.
“Da padaria até a multinacional, as empresas precisam de um gestor, uma pessoa com essa visão estratégica, que defina o rumo da organização. Desde o cargo mais amplo, que seria uma diretoria, até em áreas como logística, de gestão de pessoas, de trademarketing.”
“Da padaria até a multinacional, as empresas precisam de um gestor, uma pessoa com essa visão estratégica, que defina o rumo da organização.”
A existência de tantos segmentos facilita que o formando consiga um emprego. “A perspectiva de mercado é muito boa, principalmente para quem tem uma especialização”, diz Henrique Heidtmann Neto.
E é importante lembrar que não existem oportunidades apenas em empresas privadas: é possível seguir a carreira no setor público ou em ONGs, por exemplo.
O sonho do estudante de administração é sempre trabalhar em multinacional?
Em uma sala de aula da faculdade de administração, não existem apenas aqueles que sonham em trabalhar em uma grande multinacional. A professora Graziella conta que cada vez mais recebe alunos que querem ir para a área social ou para o ramo de empreendedorismo. “É um perfil que quer ser protagonista e um grupo que tem se tornado bastante heterogêneo”, conta.
O professor Henrique cita também o fenômeno das startups – mas ressalta que nem todas as pequenas e médias empresas têm um caminho de sucesso. Aproveita para conscientizar o jovem de que ser dono do próprio negócio exige dedicação e disponibilidade constantes, para trabalhar durante a semana inteira.
É verdade que a carreira é longa?
Apesar da alta empregabilidade e da média salarial acima do padrão, os profissionais podem ser descartados com facilidade. A competição com os jovens é grande. “Em geral, a pessoa trabalha até os 60 ou 63 anos, depois disso tem de sair. Em outras profissões, a pessoa mais velha é mais madura, o que pode ser vantajoso. Nas corporações, não: concorre-se com gente muito nova”, diz Graziella.
“Precisa estar no pique e aproveitar muito. Não é uma carreira tão curta quanto a de um atleta, nem tão longa quanto a de um professor”, afirma. Por isso, alguns profissionais recorrem à carreira acadêmica para poderem prosseguir trabalhando.
“Não é uma carreira tão curta quanto a de um atleta, nem tão longa quanto a de um professor”
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