O vampiro é, talvez, um dos mitos mais conhecidos do mundo. No inconsciente coletivo, o vampiro é um ser assombrado, assustador, capaz de matar qualquer um para alimentar sua fome insaciável por sangue humano.
Esse ser, no entanto, possui características interessantes que podem nos ajudar a refletir sobre nossa condição de seres humanos nos dias atuais, e a imortalidade é, sem dúvida, uma das características mais peculiares capaz de nos ensinar muito sobre os cuidados que precisamos ter ao buscar nossos objetivos.
Por ser imortal, um vampiro não tem com o que se preocupar. Para ele, quando o assunto é tempo, não existe pressa, plano para o futuro ou sequer ideia de sua finitude. Um vampiro não espera pela aposentadoria, pelas férias ou pelo dia em que será possível morar em uma bela casa, por exemplo, pois o amanhã sempre existirá. Para ele, a única preocupação é com o presente, independentemente do que o futuro (infinito) possa lhe reservar. Todo vampiro é míope.
Alguns adolescentes possuem a “Síndrome de Vampiro”, pois, embevecidos de jovialidade, querem consumir o mundo de uma só vez, e não compreendendo a evolução temporal da vida, acreditam que serão eternamente jovens. A despeito da idade, muitos adultos também se comportam como vampiros quando o assunto é planejar e organizar seus objetivos financeiros, pois se esquecem de considerar a variável tempo em suas decisões, até perceberem que um dia, de repente, já é tarde demais.
Todas as nossas ações possuem consequências. Os juros são a consequência direta de nossa decisão por consumir ou poupar algum recurso. Quando consumimos algo no presente para pagar no futuro, arcamos com os juros dessa decisão. Por outro lado, se optamos por poupar recursos para comprar um bem no futuro, os juros também estarão presentes, entretanto, como remuneração. A diferença entre essas duas decisões é a forma como os juros trabalham para a realização de nosso objetivo.
Ao consumirmos algo no presente sem termos os recursos necessários, pagamos a pena pela nossa impaciência. Os juros que incidem sobre nossa visão de curto prazo são muito maiores do que aqueles que nos remuneram quando poupamos para consumir no futuro; a pressa também nos torna míopes em nossas decisões financeiras.
A incidência dos juros para quem decide poupar primeiro e consumir depois é muito mais modesta, mas pelo menos nos gratifica ao invés de nos penalizar. A decisão baseada no longo prazo merece ser recompensada. Por isso, não é estranho percebermos em nossa sociedade, pessoas impacientes endividadas e pessoas controladas com recursos investidos.
As pessoas endividadas são muitas vezes dotadas da “síndrome de vampiro”, ou seja, não conseguem ter clareza temporal de quando realizarão seus sonhos. Passam uma vida inteira tomando atitudes impacientes e de curto prazo, envolvidas em dívidas intermináveis que reduzem sua renda cada vez mais. Infelizmente, essas pessoas que não se preparam para os tempos difíceis da velhice, acabam tendo que viver uma realidade de restrições e de frustração. “E, atemorizado, escondi na terra o teu talento.” (MT: 25,25).
No final da década de 1960, o psicólogo americano Walter Mischel realizou um experimento denominado: teste do Marshmallow, que se baseou em reunir um grupo de crianças em busca de uma recompensa (marshmallow), deixando-as sozinhas em uma sala, em frente a um pedaço do doce e com a seguinte proposta: comerem um pedaço naquele momento ou esperar um pouco para ganhar dois pedaços.
O teste, além de revelar que o controle temporal por recompensas se destaca em crianças a partir dos quatro anos de idade, mostrou, anos mais tarde, que as crianças que conseguiram esperar mais pela recompensa tiveram melhor desempenho escolar e profissional do que aqueles que a anteciparam.
Com isso, fica claro que a parcimônia e o equilíbrio no consumo são fundamentais para a construção de uma vida de realizações; uma pessoa que consegue planejar seu consumo de acordo com suas condições terá mais oportunidades para usufruir de boas experiências ao longo da vida.
Ao contrário, uma pessoa que se deixa conduzir pelo inconsciente do consumo de curto prazo tende a ter uma vida de infelicidade e lamento, opta por viver o dilema do vampiro, sem perspectivas nem projetos; imerso na escuridão e sem perceber o tempo passar.
O vampiro está fadado à mesmice. Sem contemplar o futuro, nem a beleza de suas conquistas; se satisfaz com lugares obscuros e sem qualquer chance de harmonia ou alegria. Em busca da eternidade; se comporta como um ser egoísta, que busca a qualquer custo se manter vivo a partir da morte de suas vítimas; e sem suportar que o espelho reflita sua imagem, acaba se escondendo sob uma cortina de desespero e inquietação, vivendo uma vida (eterna) de sofrimento.
Quando olhamos para nossa condição financeira, nos deparamos com essas duas alternativas: a primeira se baseia no enfrentamento dos desafios de uma vida finita, planejando algumas renuncias no presente a fim de colhermos (com frutos) no futuro. A segunda se assemelha à escolha do vampiro, que vive o presente sem se importar com o futuro, mesmo que isso gere consequências terríveis.
As duas alternativas são individuais, mas de uma coisa precisamos ter clareza, se optarmos por viver como vampiros, não teremos uma vida infinita, ao invés disso, correremos o risco de perceber, tarde de mais, que o tempo é um bem precioso, e acima de tudo, irrecuperável.
Por:Vanderson Silva - http://www.administradores.com.br/
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