Incompatibilidades e problemas financeiros estão entre as principais causas de divórcio. Há quem sugira, inclusive, que dinheiro é o maior motivador de separações: um estudo realizado pela Universidade do Kansas, nos EUA, e divulgado pelo jornal britânico Daily Mail em julho, mostrou que casais que brigam por causa de dinheiro têm maior tendência a se divorciar. Entre os 4.500 casais acompanhados durante anos, o principal motivo de divórcio foram os conflitos por causa de dinheiro.
De acordo com especialistas, esse estresse muitas vezes envolve uma série de mentiras envolvendo dinheiro, as chamadas “traições financeiras”. Para muita gente, elas podem ser mais danosas que a traição “tradicional” – o adultério – uma vez que não há apenas desgaste emocional, mas também patrimonial para toda a família. No fim das contas, o que fica é a mesma mensagem: a evidência de que falta diálogo e, sobretudo, confiança no relacionamento.
Para Roberta Omeltech, consultora financeira especializada em atender mulheres e casais, a mentira não deveria ter lugar nas relações amorosas, embora seja largamente praticada. “O que eu percebo é que falta muita comunicação entre os casais. As pessoas não conversam. Muitas vezes as relações, na verdade, são de fachada. O casal posta maravilhas nas redes sociais, mas não passa de aparência”, diz Roberta, que acredita que a falta de diálogo deriva, na realidade, de uma falta de confiança.
“Você só conversa com quem você confia. Você compartilha com as pessoas que você sabe que torcem por você. É preciso construir uma relação de confiança, em que a pessoa saiba que quem está do lado dela é uma pessoa companheira. E cada um tem que querer isso e estar disposto a conversar”, acrescenta.
Ou seja, no fim das contas, a falta de confiança com dinheiro é só uma amostra de uma falta de confiança mais ampla. As brutais diferenças na forma de lidar com o dinheiro também podem ser sintomas de uma incompatibilidade incontornável. Vale questionar: é com essa pessoa que você deveria construir uma família? Veja nas páginas a seguir quais as principais traições financeiras entre casais, segundo Roberta Omeltech.
1. Mentir sobre o quanto ganha
Segundo Roberta, a traição financeira mais comum entre casais é um esconder do outro o quanto ganha de fato. Há quem tenha uma conta conjunta e só direcione a ela uma parte do salário, alegando ser toda a sua renda, sem que o outro saiba que o restante do dinheiro está “escondido” em outra conta. “Esses casais não se veem como uma unidade familiar, em que o dinheiro é do casal. Há quem diga ‘mas eu estudei mais, agora terei que sustentar o outro?’ Fica parecendo mais uma competição”, observa Roberta.
2. Ter investimentos escondidos
Em geral, a mentira sobre o salário vem acompanhada de outra: a poupança secreta. Afinal, aquela renda que entra a mais e que o outro não sabe, seja ela eventual ou recorrente, pode ser facilmente direcionada a uma aplicação financeira. “Há pessoas que têm dinheiro na poupança e não contam para o cônjuge, por medo de que o outro queira usar aquele dinheiro”, explica Roberta. Um caso, portanto, em que nenhum dos dois se mostra confiável.
3. Mentir para não gastar dinheiro
A consultora conta que muitas vezes um dos cônjuges ou namorados quer poupar por algum motivo e, em vez de dizer isso ao outro, mente para economizar. “Há casos em que um quer viajar e o outro inventa que está doente, que precisa fazer hora extra ou qualquer outra mentira para não gastar dinheiro com a viagem. Mas na verdade, essa pessoa quer é guardar dinheiro”, conta.
Ela diz que algumas histórias são mirabolantes: de estar impedido de tirar um passaporte e mentir sobre cortes na empresa, até dizer que o chefe pediu dinheiro emprestado para pagar a matrícula da escola do filho. “O lado que poupa considera o gasto supérfluo”, diz Roberta. Há também o caso daqueles que não querem gastar com nada e inventam desculpas: como dizer que o carro está com defeito para não ter de rodar com ele e não gastar combustível.
4. Inventar desculpas para responsabilizar o outro
A consultora conta que quando o namoro vira noivado é comum que comecem os conflitos sobre quem paga o quê. Para não abrir a carteira, muita gente inventa desculpas como “sua família come mais, então você tem que pagar um percentual maior no bufê do casamento” ou ainda “minha família faz questão que eu case na Igreja, então meus pais pagam a festa e os seus o apartamento”. Nem sempre essas histórias são verdadeiras ou justas, e muitas vezes acabam envolvendo o resto da família e complicando mais a situação.
5. Mentir para usar o cartão de crédito do outro e depois não pagar
Outra coisa que pode tirar as pessoas do sério é aquele cônjuge ou namorado que mente para usar o cartão de crédito do outro e depois enrola para pagar. “A pessoa diz que o cartão dela está bloqueado, usa o cartão do outro e depois dá um jeito de não pagar a fatura. Diz, por exemplo, que naquele mês teve um desconto salarial maior, pede para o outro segurar a fatura, e depois aquela dívida cai no esquecimento e acaba sendo paga pelo titular do cartão”, explica Roberta Omeltech.
O endividamento é algo que pode afundar uma família. Um dívida escondida, então, pode ser ainda mais devastadora. Sem contar sobre a dívida para o resto da família, o endividado pode ficar ainda mais desesperado, e certamente não poderá contar com a colaboração dos seus, podendo aumentar ainda mais o saldo devedor. “Muitas vezes as pessoas escondem as dívidas porque já sabem que o outro não vai querer ajudar. Elas começam, então, a inventar motivos para não fazer certas coisas”, diz Roberta.
7. Mentir para os filhos sobre a real situação financeira da família
Algumas mentiras extrapolam a relação do casal e esbarram no restante da família. Roberta Omeltech lembra que muitos pais não conseguem dizer “não” para os filhos. Assim, além de deixá-los mimados e inaptos a lidar com dinheiro no futuro, podem acabar afundando a família em dívidas quando o momento financeiro é delicado. Isso pode acarretar uma série de brigas, principalmente se um sabe dizer “não” e o outro simplesmente não consegue.
8. Esconder o próprio consumismo
Segundo Roberta, pessoas mais consumistas, que já beiram a compulsão por compras, muitas vezes escondem isso do parceiro. De acordo com a consultora, comprar demais e esconder as compras do outro é relativamente comum, e ocorre tanto com mulheres quanto com homens. “Chega um momento em que a pessoa não consegue mais esconder o que compra e precisa buscar ajuda profissional, seja de um consultor financeiro, seja de um psicólogo”, observa Roberta.
Ela explica que, nesses casos, faz-se fundamental buscar a raiz dessa necessidade de consumo, pois uma compulsão nessa área pode ser uma forma de compensação para outros campos da vida que não estão indo bem, como o próprio relacionamento. Além disso, há o risco de esse mecanismo de compensação abrir as portas para outras compulsões, como comida ou cigarro.
Pessoas ou mesmo casais em descontrole financeiro, diz Roberta, muitas vezes têm o mau hábito de se comparar a outras pessoas e casais de seu círculo social, e querem ter tanto quanto ou mais do que eles. “Vira uma vontade de ostentar”, diz a consultora
Por: Julia Wiltgen é editora assistente de finanças pessoais de EXAME.com - http://exame.abril.com.br
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