A intensidade com que a tecnologia tem avançado no meio acadêmico gera inúmeros reflexos na atuação docente. O professor precisa estar “antenado” sobre as novidades tecnológicas para poder utilizá-las, conhecer não somente para si, mas, também, saber como usar esses recursos em benefício do processo de ensino e aprendizagem.
Contudo,
a realidade no espaço universitário é marcada pela diversidade.
Basta observar o ambiente que temos hoje nas universidades para que vejamos as
diferenças. É preciso considerar que há professores experientes, que se
formaram em outros tempos, mas há também professores iniciantes, sem
experiência alguma. Todos com suas características individuais, com formações
distintas, lidando com alunos de gerações que nasceram “conectadas” às
inovações tecnológicas, imersas em um contexto de total disponibilidade da
informação.
Assim
sendo, a inserção da tecnologia no processo educacional provoca,
naturalmente, uma série de desafios aos docentes no ensino superior. Apesar
disso, acredita-se que dificuldades poderiam ser evitadas e problemas
amenizados se houvesse uma preparação adequada para o exercício da profissão, o
que nem sempre acontece.
Muitas
vezes o professor dorme profissional e acorda professor. Ou, apesar de ter tido
formação acadêmica, está mais voltado para e focado na pesquisa do que no
ensino. De qualquer modo, com ou sem preparação, é evidente que a tecnologia já
começou a ser usada no âmbito educacional, conforme apontado pela literatura.
Ela
tem mostrado seu benefício e diversos aspectos positivos. No entanto, em muitos
casos, verifica-se que não está sendo utilizada da forma mais adequada. Diante
dessa realidade, deve-se debater sobre o papel dos agentes envolvidos na
inserção da tecnologia em sala de aula, especialmente do
professor, que norteará todo o processo.
Consequentemente,
algumas questões surgem: Os professores estão aptos e dispostos a utilizar a
tecnologia? Os que já a utilizam estão fazendo de forma adequada? As
instituições têm recursos tecnológicos suficientes? As instituições oferecem
aos docentes suporte e apoio para que adotem a tecnologia disponível? Como
instituições, gestores e docentes podem se preparar para a aplicação da
tecnologia no ensino?
Inicialmente,
ao pensar na integração da TIC em sala de aula, destacam-se dois aspectos
principais: a atitude dos professores e a qualificação deles para o uso da
tecnologia. Quanto à atitude, deve-se enfatizar que é uma característica
individual, pois há pessoas mais avessas ou mais inclinadas para a adoção da
tecnologia. Entretanto, entende-se que a atitude poderá ser positiva
principalmente se o docente tiver o conhecimento dos benefícios proporcionados
pela utilização da TIC. É importante destacar as vantagens aos docentes, uma
vez que, ao conhecerem os benefícios da tecnologia, terão maior probabilidade
de adotá-la.
Nesse
sentido, identifica-se, no âmbito do ensino, que o grau de abertura do
professor é um fator essencial para adoção da tecnologia: professores mais
receptivos tendem a utilizar as tecnologias mais facilmente, contribuindo para
o aprendizado dos alunos. Alguns autores mencionam o processo de aceitação dos
recursos tecnológicos na educação, que se contrapõe às resistências encontradas
por parte dos docentes, confirmando a importância de compreender o contexto
cultural do uso das tecnologias de informação, bem como as diferenças
individuais dos docentes.
Quando
o assunto é qualificação, a complexidade parece ser maior ainda, pois ela não
depende somente do professor, envolve diversos elementos. Além disso,
verifica-se que é escasso o conhecimento sobre os atributos necessários para um
professor poder inovar em suas aulas com o uso da tecnologia. Considerando a
escassez de estudos que poderiam contribuir para a formação e para a eficácia
do uso da tecnologia na sala de aula, surgiu no contexto internacional a
estrutura conceitual Technological Pedagogical Content
Knowledge (TPACK).
Tal estrutura, também conhecida como componentes, evidencia a necessidade dos conhecimentos de conteúdo, pedagógico e tecnológico, e de todas as suas possíveis relações, buscando demonstrar algumas das características fundamentais para atuação do docente com a utilização da tecnologia na sala de aula.
O
conteúdo, a metodologia (estratégia pedagógica) e as tecnologias devem ter clara
relação e coerência com os objetivos pedagógicos e com as caraterísticas do
corpo discente, e entre si, como componentes que interagem e formam o curso. O
componente “conteúdo” é o conhecimento que deve ser transferido, compartilhado,
adquirido, construído colaborativamente e apropriado pelos alunos na forma mais
adequada, permitindo que o processo de ensino e aprendizagem ocorra. Esse
componente tem de ser constantemente revisado e atualizado para que possa
contribuir de fato para o aprendizado.
O
componente “estratégia pedagógica” refere-se às estratégias de ensino que
permitem que o conteúdo seja transferido, compartilhado, adquirido, construído
e apropriado pelos alunos, garantindo, assim, os resultados do processo de
ensino-aprendizagem. Esse componente enfatiza a importância da estratégia
pedagógica planejada e efetivamente implementada pelos professores.
O
“componente tecnológico” relaciona-se às mais diversas tecnologias, desde o
livro até a internet. Assim, a infraestrutura inclui as tecnologias de
informação e de comunicação necessárias para a prática das estratégias de
ensino e para o acesso ao conteúdo em suas formas e em localizações diversas,
bem como a interação entre os participantes do processo de ensino-aprendizagem.
Esses
componentes mantêm uma relação de exigência e de restrição entre si. Assim, o
conteúdo exige determinadas metodologias de ensino, bem como certas tecnologias
para sua discussão em sala de aula e, portanto, para a realização do curso. Ao
mesmo tempo, esse conteúdo pode ser restringido pelas metodologias utilizadas e
pelas tecnologias aplicadas, se houver incoerência no tratamento dos
componentes curriculares.
De
forma similar, a metodologia exige específicas tecnologias para poder ser
aplicada com sucesso, sob pena de elas a restringirem. Acredita-se que tal
estrutura possa auxiliar o docente a compreender a forma como a tecnologia deve
ser adotada no âmbito educacional, concedendo, assim, base para que o professor
desenvolva estratégias que permitam construir o conhecimento com o uso de
recursos tecnológicos.
Todavia,
ao lidar com a preparação docente para uso da tecnologia, é preciso ressaltar
que bons resultados não só são alcançados com uma formação inicial, como também
com sua continuidade. Ainda, essa formação deve considerar os diferentes níveis
de iniciação e de experiência dos docentes no que tange ao uso das tecnologias
na sala de aula.
Acredita-se
que esses cuidados são essenciais para que o professor sinta interesse em se
qualificar e se atualizar, adotando a tecnologia de forma efetiva. A formação
contínua, inerente à atuação docente, torna-se cada vez mais relevante com a expansão
das TICs. Desse modo, tanto a formação quanto a atualização dos
docentes requerem a compreensão a respeito da dimensão das tecnologias e
demandam, também, a constituição de políticas públicas que contribuam para a
democratização de acesso a essas tecnologias.
Evidencia-se,
ainda, a necessidade de verificar as demandas e o contexto das instituições,
pois a formação adequada não será suficiente se não houver estrutura para
praticá-la adequadamente. Diante do exposto, pode-se concluir que exercer a
docência em meio a tantas transformações é desafiador.
Afinal,
são muitas as exigências, e a necessidade de atualização é constante.
Acredita-se, porém, que os desafios serão superados à medida que a percepção
sobre o uso da tecnologia na sala de aula deixe de ser assustadora e passe a
ser atrativa, influenciando positivamente a prática pedagógica do docente e a
experiência de aprendizagem do discente.
Para
tanto, é preciso que o docente entenda que a tecnologia pode ser utilizada a
favor do seu trabalho. Assim, os benefícios não serão somente para o aluno, mas
também para o próprio docente.
Copiado: https://geneducacao.com.br/
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