No Brasil, a maioria das empresas é familiar. Geralmente, a história começa assim: um casal inicia um pequeno negócio e os filhos crescem observando o esforço dos pais e aos poucos vão sendo inseridos na empresa.
Ao passo que família e empresa crescem, aumentam as chances de sucesso e os conflitos são parte inquestionável das relações humanas e empresariais. Mas como resolvê-los com sabedoria e até tirar proveito dos conflitos na empresa?
Este conteúdo da série Negócio na prática traz algumas sugestões para você solucionar esse tipo de problema. A especialista em negócios Michele Andreza de Freitas Carvalho, com colaboração de Antonio Carlos de Matos e Armando Lourenzo Moreira Junior, explica como colocar em prática ações para deixar a sua empresa e a sua família em perfeita harmonia.
O que é empresa familiar
A empresa familiar é um empreendimento que pertence a uma ou mais famílias, que é administrado por membros familiares e que geralmente emprega outros parentes no negócio.
Podemos destacar ainda outras características da empresa familiar, como:
Centralização na tomada de decisões.
Decisões baseadas na emoção em vez da razão.
Os problemas da empresa podem impactar na relação familiar e vice-versa.
Superproteção de funcionários que trabalham na empresa desde o início do negócio.
Dificuldade em se preparar para resolver conflitos.
Como surgem os conflitos
A maioria dos problemas na empresa familiar envolve disputas por dinheiro ou poder e está diretamente ligada à relação entre os membros da família.
Os tipos mais comuns de conflitos surgem quando:
Os pais acreditam que todos os filhos devem trabalhar na empresa e um ou mais dos filhos não têm interesse nem aptidão para o negócio.
Um dos irmãos se sente preterido nas decisões da empresa em relação aos demais ou sente que trabalha mais que os demais e deveria ser mais valorizado.
Filhos que não trabalham na empresa desejam opinar nos negócios e outros membros da família discordam.
Os filhos constituem suas próprias famílias, agregando novos membros na relação empresa x família, os quais começam a opinar ou trabalhar na empresa.
As novas gerações desejam alterar a forma como a empresa é administrada e implantar inovações, mas os mais velhos acreditam que “em time que está ganhando não se mexe”.
Parentes (tios, primos, sobrinhos) são escolhidos para trabalhar na empresa por causa do grau de parentesco, e não pela competência em contribuir com o negócio.
Há divergência na escolha do sucessor do fundador da empresa.
Como resolver conflitos
Ao aceitar os conflitos (familiares ou não) como parte do dia a dia dos negócios e tirar o melhor proveito deles, as empresas tendem a crescer e se perpetuar. Veja algumas dicas sobre como resolver os conflitos nas empresas familiares.
1. Achar o ponto em comum
Toda empresa tem uma razão de existir, na maioria das vezes é gerar dinheiro e lucro para os sócios (excetuando-se aqui as que têm finalidade social).
Se todos estiverem interessados em fazer a empresa ganhar mais dinheiro, os problemas serão analisados a partir do resultado final que se espera.
Por exemplo: a discussão sobre empregar ou não parentes, ao passar pelo crivo “gerar mais dinheiro e lucro”, auxilia a decidir que parentes podem ser contratados em função do que deverão produzir e contribuir para que a empresa cresça e ganhe mais dinheiro -- caso contrário, serão demitidos, como qualquer outro empregado.
2. Melhorar a comunicação
Podemos dizer que a melhor maneira de a família se preparar para resolver conflitos é conversar e discutir com racionalidade sobre como resolvê-los antes que aconteçam.
Infelizmente, o cérebro humano parece programado para adotar a postura do “sempre fiz assim e sempre deu certo” ou “não vou discutir sobre isso porque não vai levar a lugar nenhum”. Mas essa falta de disposição em ouvir opiniões diferentes e julgá-las sem preconceitos pode levar a empresa a não reinventar seu modelo de negócio e, muitas vezes, quebrar.
Melhorar a comunicação na empresa é fundamental. As pessoas precisam saber que podem se expressar e confiar umas nas outras. É preciso estabelecer momentos específicos para conversar; a periodicidade e a forma de registrar os combinados depende do tamanho e da estrutura da empresa.
3. Fazer um Acordo Familiar
O Acordo Familiar é um conjunto de regras e normas que determina como será a relação entre a família, os sócios e a empresa.
Cada família deve definir os itens que constarão em seu Acordo Familiar.
Por exemplo:
- Estabelecer quem vai trabalhar ou não na empresa.
- Definir a responsabilidade de cada um – inclusive na resolução dos problemas.
- Esclarecer o nível de autonomia dos membros.
- Saber como será a utilização dos bens da empresa.
- Definir remuneração em caso de doença ou pensão em caso de falecimento.
- Estabelecer um processo de sucessão.
- Outros quaisquer que os membros julgarem necessários constar em seu acordo familiar.
É importante que:
- A família discuta cada problema que pode surgir ao longo da existência da empresa e defina em conjunto como resolvê-los.
- Documente por escrito essas decisões prévias para consultá-las sempre que preciso.
- Que todos os membros da família assinem o acordo familiar.
É importante lembrar que os familiares que não trabalham na empresa não recebem salário (pró-labore), mas legalmente têm direitos sobre a empresa. Por isso pode ser importante incluí-los nas grandes decisões do negócio, tanto nas definições do Acordo Familiar quanto do Conselho Familiar.
4. Constituir um Conselho Familiar
O Conselho Familiar é um grupo de pessoas se reúnem periodicamente para tomada de decisões sobre determinados assuntos. O conselho pode conter ainda pessoas externas à empresa, como outros empresários e consultores terceirizados.
- Participantes do conselho: podem ser incluídos todos os membros da família ou alguns que representam o interesse de todos e pessoas externas à empresa, como outros empresários e consultores, visando transpassar a visão familiar sobre os assuntos em discussão.
- Periodicidade: é importante decidir quando o conselho vai se reunir e por quanto tempo, levando em consideração o objetivo dessas reuniões.
- Objetivo: através do conselho, muitas empresas familiares decidem o código de ética da empresa, fazem o planejamento estratégico (definindo metas de curto, médio e longo prazo), avaliam como está o cumprimento das metas estabelecidas, definem os critérios para ingresso de membros da família na empresa, decidem o processo de preparação de herdeiros e de sucessão na gestão da empresa. É também o momento de resolver problemas, conflitos e crises da empresa.
5. Incluir terceiros na resolução de conflitos
Ao surgirem conflitos, é possível optar por buscar ajuda de terceiros, ou seja, pessoas que não são membros da família e não fazem parte da gestão do negócio para mediar os conflitos, como consultores terceirizados, empresários parceiros, coachs em liderança.
O papel desses mediadores é auxiliar as partes interessadas a chegar a um consenso.
6. Coloque em prática
Para colocar as dicas em prática, pode ser interessante que a empresa faça um diagnóstico da origem dos conflitos e pense, em conjunto, sobre como resolvê-los. Inspire-se no quadro abaixo e aplique a metodologia à sua empresa.
Como prevenir e resolver conflitos familiares
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Características da empresa familiar
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Como surgem os conflitos
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Como resolvê-los
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