Consultores relacionam os principais equívocos que prejudicam as finanças das pequenas empresas
Empreender é uma atividade tão vasta que não basta só entender bem o ramo do negócio. Quando se fala no financeiro é preciso ir além da anotação das entradas e saídas de recursos.
É preciso encontrar tempo para controlar, planejar e analisar. Afinal, erros nessa área não passarão despercebidos numa época em que os custos já subiram e as vendas caíram.
O ideal é que o próprio empreendedor busque qualificação para controlar melhor a saúde financeira da empresa. Há cursos gratuitos no Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), modelados para ajudar os empreendedores em diferentes questões.
Veja que atitudes evitar ao fazer a gestão financeira da empresa:
- Não ter controles rígidos
É necessário fugir do ato de apenas olhar o saldo da conta bancária da empresa e, se estiver no azul, deixar por isso mesmo.
“Isso significa ter um fluxo de caixa do mês e dos períodos seguintes, um controle de contas a pagar e outro de contas a receber”, diz Mauricio Mezalira, consultor de finanças do Sebrae-SP.
Segundo ele, a anotação simplificada de entradas e saídas falha porque o empreendedor não consegue controlar se recebeu as vendas de fato, se tem cobranças em aberto e quais são os compromissos futuros.
O controle é o primeiro passo para ter uma gestão financeira eficiente. Além disso, é preciso criar uma rotina de registro de novas informações e de planejamento financeiro.
Para a pequena empresa, o uso de planilhas financeiras ou mesmo softwares de gestão é uma regra neste ano.
O controle leva ao planejamento financeiro, que é olhar para os anos seguintes.
O controle leva ao planejamento financeiro, que é olhar para os anos seguintes.
Segundo Dariane, do Proced-FIA, esse planejamento deve ser feito mesmo antes de abrir uma empresa.
- Misturar o bolso com o caixa da empresa
Para sair dessa, precisa determinar um pró-labore mensal e ter disciplina. Isso vai ajudar a controlar o próprio orçamento pessoal, inclusive.
“Ao misturar as contas, acaba desfalcando o capital de giro com despesas pessoais, como com a mensalidade escolar dos filhos”, diz.
O consultor financeiro André Massaro diz que, no fundo, as medidas que devem ser adotadas no controle das finanças pessoais e da empresa são bem parecidas.
Na teoria é bem simples: gastar menos do que se recebe, estabelecer um orçamento e controlar os custos.
Para que dê certo, é preciso conhecer a situação financeira pessoal real, colocando tudo no papel, sem deixar tudo na cabeça. Só assim é possível descobrir se os gastos equivalem aos ganhos e se há descontrole.
- Nunca ter tempo para cuidar do dinheiro
“É um sinal de que as coisas estão erradas na empresa. Quero dizer que quando o empreendedor busca eficiência do jeito errado, nada acontece como ele planejou.
Exemplo é quando agenda reuniões em diferentes locais da cidade, com intervalo de uma hora. Se uma atrasa, todo o resto atrasa”, diz Massaro.
O consultor diz que o empresário sem tempo, que nunca consegue parar, na verdade tem problemas. “Ele associa estar ocupado com status e esta é uma visão bem distorcida”, diz.
Ele recomenda que o empreendedor reserve uma hora por dia para pensar estrategicamente e no longo prazo – da empresa, da vida familiar e da saúde – em vez de agir apenas quando precisa “apagar incêndios”.
Quem se preocupa com o curto prazo e não tem nenhum tipo de planejamento tem grande chance de não ter sucesso no futuro.
- Não saber fixar corretamente os preços
“Geralmente o empreendedor olha para a concorrência e define o preço sem saber qual é a margem de lucro que terá e nem o impacto das despesas e impostos. Não sabe quanto de fato ganhou em cada produto vendido”, diz o consultor.
Nessa época de recessão, saber formular o preço é uma condicionante, já que a tendência é o consumidor pedir mais descontos.
O empreendedor que não sabe fazer isso pode tomar uma decisão equivocada e dar desconto sem saber se isso é um bom negócio. “O impacto pode ser desastroso”, afirma.
A questão é que não se pode cobrar menos do que o necessário para o bem do caixa da empresa – e nem supervalorizar o produto, sob o risco de perder clientes para a concorrência.
“O problema de subir demais o preço em época de recessão é que o consumidor pode não absorver essa alta. Mas isso depende de cada setor, já que as pessoas não deixam de comprar determinados produtos, como remédios. Aumentos exigem estudo, teste e pesquisa”, diz Massaro.
- Não saber interpretar e acompanhar os números
“Quem já passou por todas as etapas precisará observar os números e interpretar, ou seja, ver quanto a empresa gerou de lucro e se ela pode se comprometer com dívidas.
Para isso, é preciso olhar para indicadores financeiros, como os custos e as despesas variáveis”, diz Mezalira, do Sebrae-SP.
Estabelecer indicadores, explica, é importante para monitorar o andamento da empresa. Um exemplo disso é determinar um percentual de lucro mensal e acompanhar se ele se realmente vai se concretizar.
“Se não ocorrer em três meses seguidos, algo está errado no planejamento ou na situação do mercado.
O importante é saber diagnosticar o problema”, diz o consultor. O acompanhamento permite correções de rota e a planejar a tomada de crédito, bem como negociar com os bancos.
“Sem isso, o empreendedor pega empréstimo sem saber se terá recursos para quitar. Com a queda na receita, usará todo o lucro da empresa para pagar as prestações no banco”, diz Mezalira.
Quem faz uma boa gestão pode perceber isso bem antes e procurar o banco com antecedência para alongar o prazo de pagamento da dívida.
- Pensar que só entender de finanças basta
“A empresa pode ficar eficiente e tem boa gestão financeira, mas se se as pessoas não compram o produto ou serviço, é preciso observar outras áreas”, diz Massaro.
Afinal, o empreendedor pode entender bastante sobre finanças, mas ainda assim ter outros gargalos como a alta rotatividade de funcionários, um mix de produtos mal escolhido, uma propaganda malfeita e atendimento ruim.
“Isso mostra que tudo está interligado e não basta só ficar de olho na planilha ou saber muito sobre matemática financeira. É preciso ter capacidade de gerir e procurar saber mais sobre recursos humanos, negociação com fornecedores, contabilidade e direito”, diz Dariane, do Proced-FIA.
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Fonte: Diário do Comércio
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