Poderosos, imponentes e muitas vezes assustadores, estão
sempre atraindo as principais atenções por onde passam. Mas não é só na
natureza ou nos zoológicos que você pode encontrar estes mamíferos intrigantes.
No mundo corporativo, os hipopótamos estão frequentemente nas salas dos andares
mais altos, com os currículos mais invejados ou nas cabeceiras das mesas de
reunião. Temidos ou admirados, a verdade é que os hipopótamos corporativos,
chamados "HiPPOs", já viveram dias melhores.
A comparação com os hipopótamos é derivada do acrônimo
" HiPPO" ( Highest Paid Person's Opinion ou "parecer da pessoa
mais bem remunerada") e diz respeito àqueles que detém o poder da decisão
final.
Os hipopótamos do mundo animal possuem uma ótima audição,
visão e olfato e uma das maiores bocas (entre os mamíferos só perdem para as
baleias). Tendem a ser territorialistas e avançam sobre qualquer um que invada
seu habitat. Qualquer semelhança com os HiPPOs corporativos pode não ser mera
coincidência.
Por muitas décadas, se tornar um "hipopótamo" foi
o objetivo de vida de milhões de profissionais. Afinal, deter o poder da emitir
a opinião final era sinônimo de atingir o topo da carreira. Como nos filmes de
Hollywood em que, aconselhado por ministros e secretários, o Presidente dos Estados
Unidos ouve a todos e diz solenente: "we'll do it my way". E ponto
final.
Na atualidade, entretanto, parecem haver mais desvantagens do que
vantagens em ser um hipopótamo. Por quê? Porque estamos vivendo na era da
revolução digital. E o que uma coisa tem a ver com a outra? A resposta é
simples.
Com a tecnologia, dados e metadados circulam livremente em
quantidades absurdas a todo tempo e por todos os lados, capazes de combater a
opinião de um HiPPO e desmoralizá-lo em poucos segundos.
Como utilizar os dados, então, a seu favor? É aí que entram
em cena os Geeks, ou "nerds", que são os especialistas, que
compreendem os números e sua utilidade. São aqueles que utilizam-se de dados
estatísticos concretos para emitirem seus pareceres. Se, por muitos anos, foram
vítimas de preconceito e taxados de antissociais, hoje possuem, provavelmente,
o perfil profissional mais valioso do mercado.
O mais famoso geek mundial atende pelo nome de Nate Silver,
um estatístico americano que previu o resultado das duas eleições do Presidente
Barack Obama nos 50 estados americanos, ao contrário de diversos analistas
políticos. Seu trabalho de análise quantitativa alia teoremas estatísticos com
novos fatos à medida em que vão surgindo, para calcular as probabilidades
condicionais de resultados.
Parece simples e infalível, mas não é. Em seu
livro, "O Sinal e o Ruído", Nate traz várias situações em que muitas
vezes o "ruído", ou uma falsa premissa, pode levar à uma
interpretação errônea de "sinal" e comprometer o resultado final.
Então, se nem os Geeks conseguem garantir um resultado 100%
preciso, qual é, então, o grande desafio dos HiPPOs no mundo atual?
Possivelmente ter a sabedoria e humildade para unir sua experiência aos dados
estatísticos, sem deixar de lado sua sensibilidade de gestor estratégico.
Pois, embora os dois riscos sejam reais, ser traído pela
intuição é mais comum do que ser traído por dados estatísticos. Escolher o
caminho mais seguro é tarefa diária de qualquer liderança.
Por isto é importante escutar especialistas e aprofundar os
estudos estatísticos, e não utilizar o peso da opinião para negar os dados, mas
sim para alimentá-los. E vice-versa. Podemos arriscar dizer, então, que o par
ideal para um HiPPO é encontrar seu Geek para sacramentar um casamento
perfeito.
No mundo atual, em que vivemos uma revolução digital, HiPPOs
e Geeks podem e devem conviver em harmonia. Ao contrário do que podem parecer à
primeira vista, não são inimigos naturais e possuem infinitas possibilidades de
cooperação. Juntos, podem tornar-se imbatíveis, liderar qualquer cadeia
alimentar e dominar o ambiente em que estão inseridos.
Na defesa dos HiPPOs, é importante lembrar que o
"peso" de suas decisões vem acompanhado na maior parte do tempo de
uma visão mais global e estratégica da organização. Esta visão não garante, no
entanto, que seu parecer leve em conta as especificidades técnicas do assunto
em questão.
Por este motivo, a opinião de um Geek pode ter tanto ou mais
peso do que a de um HiPPO na decisão final. Afinal de contas, uma opinião sem
dados torna-se meramente um palpite. E, no mundo atual, é preciso muito mais
para convencer um board de executivos, por exemplo, e não transformar uma
reunião de conselheiros em um festival de "palpiteiros" sem credibilidade.
É por estas e outras que, ao contrário do que possa parecer,
a vida de um hipopótamo nos dias de hoje não é nada fácil...
Nenhum comentário:
Postar um comentário