Marta Avancini
Num tempo em que a concorrência entre as instituições de ensino superior se acirra, a questão da sobrevivência das organizações coloca-se como preocupação central para muitos gestores. O que faz a diferença nesse contexto? A infra-estrutura, a gestão ou o relacionamento entre alunos, professores e funcionários?
Uma pesquisa realizada pelo sociólogo Gilson Borda, que resultou na sua tese de doutorado, defendida na Universidade de Brasília, contém algumas idéias que podem ajudar as instituições a se posicionarem nesse contexto. A partir de questionários e entrevistas aplicadas a 351 alunos de duas instituições de ensino superior particulares do Distrito Federal, Borda concluiu que um bom professor vale mais do que instalações luxuosas. O resultado é válido para 80% dos estudantes que participaram do estudo e está relacionado, segundo o autor do trabalho, a uma mudança das relações que estão em curso no mundo contemporâneo.
Além de alunos, que responderam a um questionário com questões semi-abertas, foram entrevistados 14 gestores e profissionais das duas instituições. Uma delas existe há mais de 40 anos e localiza-se no Plano Piloto (área central de Brasília); a outra é pequena, nova e fica numa cidade-satélite (periferia). O autor conta que optou por investigar instituições com perfis diferentes para obter mais abrangência de resultados.
"Na segunda metade do século passado prevaleciam o capital econômico e o capital intelectual como valores das organizações. No cenário atual, o capital social está ganhando cada vez mais espaço como fundamento da relação de confiança que uma organização estabelece com as pessoas", diz Borda, explicando que capital social diz respeito às relações das instituições com clientes, prestadores de serviço, funcionários ou a comunidade em geral. Na opinião dele, a importância do capital social só tende a aumentar.
E, nesse processo, os professores desempenham um papel fundamental, afinal, são eles que convivem com os estudantes no dia a dia, constituindo-se na face mais visível da instituição. "O professor consolida ou não a confiança que o aluno mantém com a instituição de ensino", sintetiza o pesquisador. Ele considera que a sobrevivência das instituições está relacionada ao estabelecimento de relações de confiança, sobre as quais se constrói a credibilidade.
Para Borda, esse resultado implica o rompimento de algumas idéias preconcebidas, como a de que a imagem se constrói apenas por meio de uma comunicação eficiente. "A espiral de confiança é construída à medida que são reforçados os valores fundamentais", explica o pesquisador. Ele constatou um grau de satisfação maior dos alunos da instituição mais nova e menor, onde os resultados indicam a existência de maior engajamento dos professores. Por isso, ele reitera que o capital econômico e tudo que se associa a ele (investimento em infraestrutura, por exemplo) está vinculado ao capital social (o bom ou mau relacionamento com alunos, por exemplo).
Novamente, os docentes são fundamentais nesse processo: o estudo aponta que a qualificação dos professores é o principal fator de atração de uma instituição.
Para Fábio José Garcia dos Reis, diretor de operações do Centro Unisal, em Lorena, no interior de São Paulo, o reconhecimento da importância do professor numa instituição educacional é algo que se constata ao longo da história e continua valendo até hoje. "Os professores tornam-se referência pelas suas publicações, pelo relacionamento com o mercado, pela sua capacidade de elaborar novos projetos e serviços e pelas diversas conversas com os alunos na orientação para o estudo, pesquisa ou trabalho", afirma.
Para Roberto Lobo Leal e Silva Filho, diretor da consultoria Lobo & Associados, o professor é o "DNA da instituição". "Não adianta ter um salão de mármore se os professores forem omissos", sintetiza. Entretanto, ele considera que o professor tem peso maior ou menor dependendo do perfil da instituição. "Nas instituições de massa, o valor da mensalidade pode ser um forte fator de atração", analisa. Mas mesmo nessas instituições, ressalva o consultor, não se pode esperar a oferta de um ensino de qualidade somente com professores horistas.
Reis se contrapõe, enfatizando que a credibilidade não está relacionada, necessariamente, ao tempo de dedicação do professor, embora reconheçam que é importante ter muitos docentes vinculados a fim de se levar adiante projetos de pesquisa, ensino e extensão. "É ideal, mas o alto custo torna isso inviável para muitas instituições privadas."
Ao realizar a pesquisa para a sua tese de doutorado pela Universidade de Brasília, o sociólogo Gilson Borda pediu, em questionário distribuído aos alunos, que eles enumerassem, de forma classificatória (1º, 2º, 3º lugar), o que mais os atraiu no momento de escolha de uma instituição de ensino superior.
Para 86,6% dos participantes, a qualificação e a titulação dos professores foram marcadas como um dos cinco atrativos mais importantes para a escolha da instituição, distribuídos da seguinte forma: 32,5% dos alunos consideram a qualificação dos professores como o item mais importante; 20,7% como o segundo item; 13,6% como terceiro; 9,3% indicaram como quarto item e 10,5% marcaram como quinto fator. Apenas 1,9% dos participantes enumeraram a qualificação e a titulação dos professores como item menos importante entre os expostos.
Em sua tese, Borda observa que a marca da instituição também é um fator de referência para a credibilidade. "Em um momento inicial, caso o aluno não conheça o professor, ou não tenha informação suficiente sobre ele, é [a instituição educacional] quem pode validar o docente e sua formação", escreve. Em outros casos, especialmente se a instituição está em fase de desenvolvimento de sua imagem institucional, é o professor, pelo seu bom currículo, que gera valor e atratividade para a marca.
Contribuição: Adm. Fernando Viana - Consultor Empresarial / fernando.viana@ola.org.br
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