Com o objetivo de identificar futuros profissionais problemáticos dentro de suas estruturas e evitar que eles ganhem postos de confiança, empresas de diferentes tamanhos e segmentos têm optado por testar a honestidade de funcionários e candidatos. Inspirada em técnicas de investigação e inteligência, a avaliação é realizada no Brasil por companhias de origem israelense especializadas em segurança. Para ter sua ética avaliada, o profissional passa por testes on-line e, em alguns casos, entrevistas presenciais, nas quais responde questões sobre temas delicados como consumo de drogas, hábito de jogar e até um possível histórico de roubo ou suborno.
Após três anos atuando em uma grande rede varejista brasileira, um executivo teve que colocar à prova sua ética e integridade para a empresa. O profissional, que preferiu não se identificar, pleiteava uma promoção quando descobriu que, para ascender na companhia, precisava passar pelo teste que avaliaria sua honestidade. Ao aceitar responder às perguntas, ele já sabia que teria de revelar questões íntimas. "Eu já tinha feito uma prova parecida quando fui contratado. Perguntaram até se eu tinha conhecidos que consumiam substâncias ilícitas", conta.
O profissional assinou um documento em que se comprometia a fazer o teste e que garantia que a empresa não usaria os resultados e nem os divulgaria internamente. "Mas quem é reprovado, além de não ser promovido, fica malvisto na empresa."
Embora tenha conseguido a promoção, o executivo afirma que se sentiu desconfortável com a avaliação. Após responder um questionário on-line com mais de cem perguntas - que precisou refazer em seguida porque o computador "afirmou" que ele não estava sendo sincero - o executivo deu detalhes de algumas respostas a uma entrevistadora. "Ela quis saber, por exemplo, se eu acusaria um colega que não estava sendo produtivo no trabalho. Ao saber que eu não me intrometeria, ela me acusou de omisso e conivente."
Para as empresas que aplicam o teste, a avaliação é parte de uma análise que identifica falhas internas, previne perdas e melhora procedimentos. Segundo Ronen Ben Efraim, sócio-diretor da Global Advising Security Solutions, empresa que aplica uma versão do teste chamada Integrity Meter no Brasil, 95% do risco que as empresas enfrentam pode ser relacionado ao público interno, especificamente com vazamento de informações. "Características como confiabilidade e integridade pessoal, além de possível envolvimento em atividades criminais e espionagem industrial, podem ser mensurados", afirma Ronen.
O interesse por esse tipo de serviço, segundo ele, está crescendo. "É um teste coerente com o detector de mentiras, capaz de expor tentativas de ocultação. No momento em que o software identifica omissões ou conflitos, intensifica as perguntas naquele assunto até chegar a uma conclusão", explica. Na opinião de Ronen, o método não causa constrangimentos aos participantes.
Fernando Fleider, sócio da ICTS Global, empresa de consultoria e gestão de riscos que também faz a análise de integridade, afirma que é avaliada a capacidade de um profissional aderir eticamente aos valores de uma organização. De origem israelense, a ICTS Global atua no Brasil há 15 anos e já fez mais de 20 mil entrevistas. A intenção, segundo ele, é avaliar se o candidato tem capacidade de discernir o certo do errado e se tem tendência a cometer atos ilícitos. "Usamos técnicas de linguagem corporal, neurolinguística e análise de conteúdo."
A maior demanda, segundo Fernando, é para executivos de média e alta gerência. Ele conta que o processo é voluntário e o entrevistado só responde às perguntas que quiser. "O profissional assina um termo concordando em fazer essa avaliação. Isso evita o dano moral", diz.
Na opinião do professor de direito do trabalho da USP Estêvão Mallet, os questionamentos não devem extrapolar os temas relacionados à atividade profissional. Embora não exista parâmetro claro na CLT e no Código Civil sobre esse tipo de teste, ele afirma que as empresas devem estar atentas para não ferir direitos como o da intimidade. "A decisão compete a cada juiz. É preciso entender, porém, que mesmo antes da contratação o profissional se encontra em posição de subordinação. Ele precisa do emprego e acaba assumindo uma vulnerabilidade por causa disso", afirma.
Para Fernando Fleider, o crescimento desse tipo de avaliação mostra que funcionários e empresas estão lidando melhor com os testes. Se por um lado as companhias estão mais preocupadas com os casos de ética e querem se resguardar, por outro os profissionais estão superando um tabu da cultura latina, segundo o qual certos temas não devem ser abordados. "Para os latinos, somente o fato de alguém perguntar algo já significava suspeita. Com a evolução do debate sobre ética e gestão de riscos, essa percepção já está mudando."
Portal www.cmconsultoria.com.br - Vívian Soares - Fonte: Jornal Valor Econômico
Eu penso administrador tem um olhar diferenciado, e a sua postura (é o teste) na maioria das vezes reflete sobre o piso e os colaboradores.
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