Nas próximas duas semanas V.Exma terá de tomar a decisão mais importante do seu governo.
A escolha do seu Ministério e auxiliares diretos. Desta escolha depende o sucesso do seu governo.
Infelizmente, tudo que lhe ensinaram de Teoria de Gestão é equivocado.
Por isto, a primeira decepção de todo governo é o anúncio do Ministério.
Gostaria de dar um conselho, este vindo da Teoria da Administração, aquela que usamos em empresas de capital democrático, inclusive multinacionais.
Todo cargo, seja público, seja privado, é de total e irrestrita desconfiança.
Não existem estes tais Cargos de Confiança, tão comum na Gestão Pública e na Gestão Familiar.
Eu sei que é necessário colocar pessoas que você sabe que são honestas, que não irão roubar, que irão te obedecer, em quem você pode confiar, daí o termo.
Mas este é o grande problema da Gestão Pública e Familiar. Infelizmente, todo colaborador, por mais amigo que seja, precisa ser tratado com certa dose de desconfiança.
Os maiores desfalques em empresas familiares são cometidos por parentes, onde não escapam nem filhos, muito menos genros.
Bons amigos então, nem se fala. De onde surgiu este mito de que amigo do peito e parente não roubam?
A saída para esse dilema é outra.
Em vez de contratar um amigo do peito, selecione o melhor e mais qualificado profissional possível para o cargo, independente de conhecê-lo ou não.
Em seguida, cerque o contratado de controles gerenciais, fiscalização interna, auditoria externa, o que for necessário para manter o pessoal na linha.
É o que fazemos na Teoria da Administração.
As multinacionais não trazem mais um "presidente de confiança do exterior", como faziam antigamente. Contratam brasileiros, isso mesmo, brasileiros.
Dois brasileiros, Alain Belda Fernandez e Henrique de Campos Meirelles, foram presidentes da matriz americana das multinacionais em que trabalhavam, o equivalente a contratar um americano para cuidar da Petrobras.
Alíás, Henrique Meirelles foi tratado com a maior desconfiança pelos seus colegas do PT e foi sem dúvida o que mais contribuiu para o sucesso do Governo Lula.
Porque era simplesmente um dos mais competentes do mundo, para o cargo. Sabemos infelizmente que V.Exma vai trocá-lo por alguém de sua confiança, será a primeira decepção minha com seu governo.
No Brasil, o melhor administrador financeiro do país tem poucas chances de ser Ministro da Fazenda, se já não for amigo do presidente bem antes de sua eleição.
"Cargos de confiança" é simplesmente um conceito anacrônico, algo do passado pré-gerencial que só sobrevive na Teoria de Gestão.
Só na Gestão Pública é que ainda existem estes 20.000 "Cargos de Confiança", onde se pode contratar sem concurso público, companheiros e amigos sem as devidas qualificações técnicas.
A rigor, num mundo globalizado, onde temos de dominar alguns segmentos da economia mundial deveríamos estar contratando os melhores do mundo, não os melhores do Brasil.
Posso lhe indicar centenas de executivos brasileiros, já aposentados, ricos suficientes para não sair roubando por aí, que já fizeram o seu pé de meia, competentes por definição, que adorariam trabalhar no governo.
Se a V.Exma, convidar somente pessoas de sua confiança, pessoas do seu passado, companheiros de luta e de tempos anteriores, a senhora terá novas decepções, como teve com Erenice.
Espero que alguém lhe envie este conselho.
Convide pessoas profissionais, socialmente responsáveis e já bem sucedidas. Eles/elas têm uma reputação a zelar, e serão de irrestrita confiança, e V.Exma poderá ficar tranquila.
STEPHEN KANITZ, consultor de empresas e conferencista. Mestre em Administração de Empresas pela Harvard University, foi professor Titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário