O título deste texto pode parecer um pouco estranho, quando lido de forma rápida e à primeira vista.
Entretanto vou tentar provar exatamente o inverso, mostrando quão antagônicas são aquelas duas palavras e como elas, direta ou indiretamente, fazem parte das nossas Vidas.
Se você, leitor ou leitora, for procurar o dicionário o significado de RESISTÊNCIA, certamente encontrará vários significados que se aplicam a inúmeras áreas, como a psicologia, a eletricidade, a engenharia, a ciência dos materiais, a biologia, a física, etc.
No contexto destas linhas quero empregar RESISTÊNCIA como a força que se opõe ao movimento, inércia.
E inércia, por sua vez, significa preguiça, falta de ação, torpor.
Nesta linha de ideias, uma pessoa resistente nada mais é do que uma pessoa teimosa, obstinada, que vive na sua zona de conforto e que não quer aceitar as mudanças que continuamente ocorrem, seja dentro de si mesma, seja no ambiente onde está inserida.
E mudanças estão ocorrendo em todos os momentos. Eu, particularmente, tenho a plena noção que o mundo onde nasci não é o mesmo onde vivo e nem será o mesmo quando eu der meu último suspiro.
Para mais, se você for um baby boomer com eu, perceba como você vem mudando com o passar do tempo. Você passou pela infância, pela adolescência, pela vida adulta, até alcançar a “terceira idade”.
Nesta trajetória, as células do seu corpo mudaram inúmeras vezes, seu cabelo mudou de cor, você mudou seu status de solteiro (a), você se tornou pai/mãe, você virou avô/avó...
Quem afirma que “é tudo igual” é porque não tem a noção do ciclo criação-maturidade-morte, o qual pode ser aplicado a qualquer aspecto de nossa vida.
Qualquer indivíduo tem a obrigação (isso mesmo, obrigação) de se conscientizar que as mudanças estão sempre presentes, quer se queira ou não.
Este fato pode ser traduzido por duas frases célebres e famosas.
A primeira, do filósofo grego Heráclito (544 – 484 a.C.) que afirmou: a única coisa imutável é a mudança. A segunda, atribuída ao químico francês Lavoisier (1743 – 1794), que afirmou: na natureza nada se cria, tudo se transforma.
Mudança implica em transformação, conversão, substituição, troca.
E, se apesar desta evidência, você acha que nunca muda, deixo-lhe a pergunta: você se considera a mesma pessoa de 10 anos atrás?
A coisa é tão rápida que, enquanto digito este texto, milhares de células do meu organismo morreram e foram substituídas por outras.
Isto significa que, ao terminar de digitá-lo, não serei mais o mesmo.
Resistir, criar resistência, ser teimoso e não admitir este s fatos é morrer um pouco a cada dia.
Devemos, isto sim, cultivar dentro de nós mesmos uma verdade: não nascemos prontos e não morreremos prontos. E será neste intervalo de tempo, entre nascimento e morte, que termos a nossa existência, o fato de existir, de viver.
Existência nada mais é do que a própria Vida ou o modo de ser, a realidade do Ser Humano. É a qualidade de tudo que é real ou que existe.
Mas, atenção. O que é real hoje, no atual momento, no presente, daqui a pouco será passado, já foi, já era.
Tendo em sua mente o conceito de que nossa existência é impermanente, fica mais fácil entender que as mudanças são processos dinâmicos, e não estáticos, como muitos podem pensar.
Arthur Schopenhauer, em seu texto O vazio da existência, afirma:
Toda nossa existência é fundamentada tão somente no presente – no fugaz presente. Deste modo, tem de tomar a forma de um constante movimento, sem que jamais haja qualquer possibilidade de se encontrar o descanso pelo qual estamos sempre lutando. É o mesmo que um homem correndo ladeira abaixo: cairia se tentasse parar, e apenas continuando a correr consegue manter-se sobre suas pernas; como um polo equilibrado na ponta do dedo, ou como um planeta, o qual cairia se o sol se cessasse com seu percurso.
Num mundo como esse, onde nada é estável e nada perdura, mas é arremessado em um incansável turbilhão de mudanças, onde tudo se apressa, voa e mantem-se em equilíbrio avançado e movendo-se continuamente, como um acrobata em uma corda.
Para expressar melhor o fato pelo qual estamos sempre mudando, uso a metáfora da fênix, o passar da mitologia grega que, ao morrer, entrava em autocombustão e, após algum tempo, renascia das próprias cinzas.
Aqui quero abrir um parágrafo a respeito dela porque sua crença existiu em vários povos.
Para os gregos, há uma comparação da fênix com o Sol, que se põe (“morre”) todos os dias no horizonte para renascer no dia seguinte, tornando-se o eterno símbolo da morte e do renascimento da natureza.
Os egípcios relacionavam a fênix à estrela “Sótis”, ou estrela de cinco pontas, que é pintada ao seu lado.
Para os chineses, a fênix, representada como uma ave maravilhosa, representava a felicidade, a virtude, a força, a liberdade e a inteligência.
Já para os cristãos, no início da era cristã, a fênix foi o símbolo do renascimento e da ressurreição.
O interessante é que em todas as épocas, mitologias e crenças, o significado é preservado, ou seja, a perpetuação, a ressurreição, a superação e a esperança que nunca tem fim.
Perceba, caro leitor, ou leitora, que ela REnascia, isto é, ela repetia seu nascimento, repetia sua existência, como uma nova fênix.
E será que não é exatamente isso que ocorre quando vamos dormir? Nós nos “suicidamos” durante o sono para renascermos mais fortes e melhores no dia seguinte?
- Não seria isso uma RExistência?
Repetir a existência de outra forma, com mais abertura ao novo, com a consciência mais ampliada e, principalmente, trocando a zona de conforto por uma zona de “desconforto”?
Nesta RExistência, certamente, amplia-se o poder de nosso livre arbítrio, visto que mudar também significa fazer novas escolhas.
Também não devemos esquecer que mudar exige tempo, análise, ousadia, flexibilidade, coragem, vontade, aprendizado constante, questionamento e energia, apenas para citar alguns requisitos que a mudança exige daqueles que querem fazer da sua vida uma eterna RExistência.
René Descartes, filósofo, físico e matemático francês (1596 – 1650), em seu Discours de la méthode (1637), escreveu: “je pense, donc je suis”, ou seja, “penso, logo existo”.
Entretanto, originalmente, o texto era: “puisque je doute, je pense; puisque le pense, j’existe”, isto é, “se duvido, penso; se penso, existo”.
Não podemos negar que nossa existência está ligada ao nosso pensar e, por consequência, ao nosso livre arbítrio e nossa capacidade de fazer escolhas.
Se nos “abrimos” a esta nova visão – não mais a de resistência, mas a de RExistência - , estaremos, sem dúvida alguma, ampliando nossa consciência e fazendo um uso muito melhor do nosso livre arbítrio.
Poderemos, assim, tomar decisões mais livres sob os auspícios de uma vontade livre, consciente e sem vícios.
E, quando você se defrontar com alguma situação onde a mudança se faz necessária, deixo-lhe um conselho: não resista, RExista.
Por: Luiz Roberto Fava - https://www.linkedin.com/in/luizfava/
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