terça-feira, 25 de maio de 2021

O MEDO DA MORTE - Isabel Allende


Isabel Allende vive nos Estados Unidos, há 30 anos, com o marido e dois cães. Quando lhe perguntaram sobre o principal medo que o vírus traz consigo  - a morte - , a escritora disse que desde a morte da filha Paula, há 27 anos, perdeu o medo para sempre.

" Primeiro, porque a vi morrer nos meus braços, e percebi que a morte é como o nascimento - uma transição, um limiar - e perdi o medo pessoal.

Neste momento, se apanhar o vírus - tenho 77 anos e pertenço ao grupo dos mais vulneráveis - posso morrer.  E esta possibilidade, neste momento da minha vida, apresenta-se muito clara, mas olho-a com curiosidade e sem medo.

O que esta pandemia me tem ensinado é a libertar-me de coisas. Nunca foi tão claro para mim que preciso de muito pouco para viver. 

Não preciso comprar, não preciso de mais roupas, não preciso ir a lugar nenhum, nem viajar. Agora, vejo que tenho coisas demais.

Não necessito de mais de dois pratos!

Começo a perceber quem são os verdadeiros amigos e as pessoas com quem eu quero estar."


E quando questionada sobre o ensinamento da pandemia para o coletivo, Isabel respondeu:

"Ensina-nos a fazer a triagem das prioridades e mostra-nos a realidade. Esta pandemia sublinha as desigualdades de oportunidade e recursos em que vive a sociedade em um nível global. Alguns passam a pandemia num iate e outros passam fome, nas ruas ou em casa fechados.

Também traz a mensagem de que somos uma única família.

O que acontece com um ser humano em Wuhan tem um reflexo no planeta inteiro.

Estamos todos ligados e isso é uma evidência. Na realidade, a ideia tribal de que estamos separados por grupos e que podemos defender o nosso pequeno grupo dos outros grupos é uma ilusão.

Não existem muralhas ou paredes que possam separar as pessoas.

O vírus trouxe uma nova mentalidade e, atualmente, um grande número de pessoas, entre eles criadores, artistas, cientistas, jovens, homens e mulheres, caminham para uma nova normalidade.


  • Eles não querem voltar à normalidade antiga.
  • O vírus convidou-nos a desenhar um novo futuro.
  • O que sonhamos para nós como humanidade global?
  • Percebi que viemos ao mundo para perder tudo.
  • Quanto mais se vive, mais se perde.

Primeiro, a gente perde os pais ou pessoas muito queridas, os animais de estimação, alguns lugares. E depois, lentamente, vamos perdendo as nossas próprias faculdades físicas e mentais.

Não podemos viver com medo.  

O medo estimula um futuro "turvo" para ser vivido no presente.

É necessário relaxar e apreciar o que temos e viver o agora".

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