O Boletim Focus tem mostrado um cenário cada vez mais atraente para a economia brasileira em 2018. O analista mediano de mercado antevê um 2018 com alta de 2,5% a 3,0% do PIB, inflação de preços ao consumidor abaixo da meta de 4,5%, Selic ainda próxima ao mínimo de 7%, e contas externas relativamente equilibradas. O emprego deve aumentar, o rendimento real também, ainda que talvez menos que este ano, e o crédito deve voltar a se expandir. O consumo das famílias vai crescer, ajudando na eventual recuperação do investimento, que pode surpreender positivamente, ainda que partindo de uma base muito deprimida.
As indicações também são de alguma melhora nas contas públicas: pequena redução no déficit primário, por conta da recuperação cíclica das receitas tributárias, e uma queda mais significativa do déficit operacional, como resultado de um custo mais baixo de financiamento público. A cereja do bolo será uma razão dívida pública bruta / PIB estável, em função da melhora do resultado nominal, da aceleração do crescimento e do pagamento antecipado de parte da dívida que o BNDES tem com o Tesouro.
A consolidação de expectativas mais favoráveis para a economia no próximo ano não parece ter ajudado, porém, a reduzir a bruma que tampa a visão sobre o que será do Brasil em 2019. Creio que isso é o resultado de indefinições em torno de três dimensões fundamentais.
Primeiro, a econômica. O país deverá entrar 2019 em ótima forma, pelo menos em um sentido conjuntural. O PIB deverá estar crescendo 4% ou mais em termos anualizados, a inflação e os juros vão estar baixos, e o desemprego em queda, ainda que alto para padrões históricos. Haverá espaço para uma gradual desaceleração, que evite um sobreaquecimento, enquanto o governo trabalha as reformas no Congresso para fortalecer os fundamentos e elevar o potencial de crescimento do país.
O risco, porém, é o governo apostar que consegue manter o crescimento elevado sem adotar reformas. Será (mais) um erro histórico. A volta do crescimento será insuficiente para equacionar a difícil situação fiscal, por conta da pressão crescente das despesas com previdência. Se alguma reforma acontecer nessa área este ano, será insuficiente e o novo governo terá de fazer uma nova rodada de mudanças legislativas. Além disso, terá de aprovar uma nova regra de correção do salário mínimo que pressione menos as contas públicas. O teto de gastos da Emenda Constitucional 95 também se tornará limitante e a disputa por recursos públicos mais feroz.
Sem reformas que equacionem a situação fiscal, será difícil uma retomada mais forte e consistente do investimento. E sem isso e sem reformas que elevem a produtividade, o potencial de crescimento vai permanecer baixo. Nesse caso, em algum momento o risco país vai subir, o real se desvalorizar e o Banco Central subirá os juros para conter o nível de atividade.
O risco de complacência vai depender de como vai evoluir a segunda dimensão de incerteza, a externa. Se esta continuar tão benigna como nos últimos anos, o risco de que o governo fuja de reformas impopulares vai aumentar. Se o apetite dos investidores pelo risco diminuir, a pressão sobre o preço dos ativos pode vir mais cedo e o risco de complacência será menor. Se a virada externa for muito dramática, a própria retomada cíclica pode ser abortada.
A maioria dos analistas prevê que a cena externa continuará favorável nos próximos anos. A visão majoritária é que a política monetária do Fed e do Banco Central Europeu ficará mais apertada, mas sem comprometer o quadro atual de farta liquidez. Não se espera que isso mude muito com o possível fim do NAFTA e a eleição de um governo populista no México – pelo contrário, isso pode até ter consequências positivas para o Brasil, que se tornaria relativamente mais atraente. Uma eventual saída dos EUA da Organização Mundial do Comércio seria mais dramática, mas também insuficiente para azedar o cenário externo.
É bom, porém, não exagerar no otimismo. A história mostra que o cenário global sempre pode trazer crises. Em especial, com a aceleração do crescimento global, que vem se mostrando cada vez mais disseminada, é de se esperar que em algum momento os juros longos comecem a subir também, especialmente se os bancos centrais reduzirem sua interferência na formação desses preços. Isso pode ocorrer mais cedo do que se espera, dependendo de como se processar a troca de comando no Fed.
Por fim, temos as eleições brasileiras de 2018. Eu trabalho com duas possibilidades. A mais provável, no meu entendimento, é que o radicalismo dos candidatos de esquerda e direita continue se acentuando, abrindo um grande espaço no centro, de onde surgiria o candidato vitorioso. A recuperação da economia favorece esse cenário. O outro cenário é que o centro atraia a maioria dos votos, mas por isso mesmo também atraia muitos candidatos e isso acabe pulverizando os votos e abrindo espaço para os candidatos extremos.
A eleição de um candidato de centro em princípio seria mais favorável à adoção de reformas e à manutenção de uma política macroeconômica responsável, especialmente em 2019, primeiro ano de governo. Mas a política é menos linear do que isso. Acredito que a significância das reformas de 2019 vai depender também da pressão que exista sobre a economia.
Isto posto, acredito que para as coisas terem uma solução mais favorável em 2019 os desafios que vão então se colocar precisam ser discutidos já em 2018. E para isso é preciso começarmos a desenhar melhor como 2019 pode vir a ser.
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