Quando falamos de “coração” pensamos em sentimento e emoção, e relacionamos com uma habilidade de resposta mais próxima do que sentimos ser “nós mesmos”. Apesar de podermos pensar que guiamos nossa vida a partir do nosso processo de pensamento, esse não é o caso. Se examinarmos a questão mais de perto, descobriremos que são nossos sentimentos que guiam nossa vida e os pensamentos dependem destes sentimentos.
Seguir o coração, ao contrário do se imagina, não significa ser mole ou emotivo. Seguir o coração significa descobrir sua essência e demanda uma grande dose de autoconhecimento. Seguir o coração não é uma alusão romântica apresentada nos minutos finais dos filmes de cinema, mas um ato de descoberta e coragem que exige muita dedicação.
Nossa personalidade é formada por uma soma de personagens e máscaras. No dia-a-dia representamos os nossos papéis no teatro da vida. O jeito que somos em casa não é o mesmo que somos no trabalho. E no churrasco com os amigos também não somos do mesmo jeito que na empresa conversando com o patrão. Desempenhamos um papel diferente para cada momento da nossa vida. São as nossas máscaras sociais, os diferentes papéis, os personagens do nosso cotidiano.
A palavra “personalidade” é muito significativa. Ela se origina da palavra grega persona. Persona significa “máscara”. Nos dramas gregos, os atores usavam máscaras, faces falsas. Essas faces falsas eram chamadas personae. E foi dessa palavra que se originou a palavra “personalidade”. Ela é perfeita. Significa que você está agindo com uma face falsa. Ela não é você. Você está se ocultando por trás da face falsa, porque não pode revelar a sua verdadeira face.
A coisa fundamental a ser entendida é que você não pode conhecer sua própria natureza, seu próprio coração, seu próprio ser, por causa de sua personalidade, por causa de uma entidade falsa que você criou ao seu redor. Vivemos encerrados dentro de personalidades. As personalidades são falsas. Elas são, simplesmente, máscaras, fachadas a serem mostradas aos outros. Mas esse hábito torna-se tão arraigado que você se esquece completamente de sua face original. Mostrando suas falsas faces aos outros, aos poucos você se identifica com elas e começa a pensar que elas são as suas faces. Então, sua face original, sua face real, permanece oculta.
Para seguir seu coração primeiro você deve manter sua face verdadeira por perto, é inegável que desempenhamos diversos papéis, mas temos que tomar muito cuidado para não nos tornarmos os personagens. Observe o ator, ele interpreta diversos personagens, mas se mantém intacto quando a cortina fecha.
Agora que descobrimos que somos meros atores da vida, devemos deixar de ser coadjuvantes e passar a desempenhar o papel principal. Assuma o controle da sua vida. Pare de representar. Seja você mesmo.
Você acha que Sócrates, Leonardo Da Vinci, Galileu Galilei, Darwin, dentre outros, seguiram o caminho de alguém ou fizeram seu próprio caminho? Apesar de irem contra todo o conhecimento e regras da época, eles mantiveram-se firmes em seus propósitos, seguiram seu coração e mudaram o mundo. Todos eles pagaram um alto preço por isso, foram perseguidos, ridicularizados, acusados, julgados, presos e até mortos, no caso de Sócrates (acusado de ateísmo e de corromper os jovens com a sua filosofia).
Mas mesmo assim deixaram seu legado para a humanidade.
E você, qual o legado vai deixar para a humanidade?
No filme “As Confissões de Schmidt”, Jack Nicholson interpreta Walter Schmidt, um homem de 60 anos que precisa enfrentar a aposentadoria e a recente viuvez para reanalisar sua própria vida de forma a evitar que ela seja um completo fracasso.
No final do filme, em um monólogo sobre suas reflexões e descobertas, Schmidt (Nicholson) lamenta ao constatar que quando morrer, e as pessoas que o tiverem conhecido também tiverem morrido, seria como se ele nunca tivesse existido, já que ele não havia deixado nenhum legado para perpetuá-lo na história.
O que você pretende fazer da sua vida para ela faça a diferença? Não se trata somente de ter filhos e netos, mas do exemplo que deixará para eles. A filosofia de vida que criará para evitar uma vida medíocre.
Neste momento histórico vivemos sob o domínio da mediocridade. A década de 60 do século passado entrou para a história universal como uma das épocas de maior brilho intelectual do século, representados por André Breton, Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Louis Althusser, Jacques Lacan, Michel Foucault, Paulo Freire entre outros, que pensavam o mundo a partir de perspectivas multidimensionais; já o final do século XX entra como o período mais medíocre, aquele que marcou a completa inexistência do surgimento de grandes expoentes intelectuais e o retrocesso ao pensamento unidimensional no mundo.
Com a globalização surgiu um novo tipo de analfabeto. O analfabeto psicológico. Aquele ser mediano, com preguiça de pensar, que alimenta sua mente com as informações já digeridas e manipuladas pelos mais diversos meios de comunicação.
Segundo Eunice Homem de Mello, jornalista, psicopedagoga, Mestre em Língua Portuguesa e professora universitária na FMA, o analfabeto psicológico, talvez seja o mais grave, ele é apontado por C. Wright Mills em “A sociedade de massas” como o homem-massa, originário da cultura de massa, voltada às leis do mercado, ou seja, ao lucro imediato. Uma sociedade que vende cultura e para isso precisa agradar o consumidor, seduzi-lo, poupando-lhe o esforço de pensar. Apresenta-lhe tudo pronto para ser consumido, sem exigir-lhe nenhum esforço físico e muito menos intelectual. Cuidando apenas do espectador médio, do ouvinte médio, do leitor médio, oferece-lhe produtos culturais médios… Não há estímulo à sensibilidade, à imaginação, à reflexão e à crítica. Não há descoberta, criatividade, liberdade… Apenas alienação!
O grande desafio deste milênio é reaprendermos a pensar criticamente, nos libertando das “soluções prontas”, desafiando nossas verdades e crenças para assim trilhar novos caminhos.
Não siga exemplos, siga seu coração e seja um exemplo.
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