EU NEGATIVO vs. EU POSITIVO
Mais uma armadilha. Essa não fica nem um pouco atrás. Simplesmente é uma das campeãs da autossabotagem. O “eu” acompanhando do “não”. Além disso, o “eu” ao lado de qualquer outra palavra no sentido negativo, expressando objeção, contrariedade e negação: nenhum, nada, jamais e nunca. Palavrinhas perigosas perto de nós e dos nossos sonhos. Vamos entender? Durante nosso desenvolvimento, especialmente na fase da infância, o “não” é simplesmente a palavra que mais escutamos. Não pode, não toque, não suba, não faça, não mexa, não fale, e por aí vai. Não, não e não. Depois na adolescência é sempre o caos, motivo de revolta. Não vai pro cinema, não pode fazer isso, não permito aquilo, e às vezes, ainda acompanhado de alguns gritinhos, castigos e chantagens. Trata-se de uma tentativa de nos educar, de nos ensinar, de nos proteger e de fazer de nós pessoas melhores e preparadas para a vida. Tudo isso por meio do controle. Certo ou errado, é o que fazemos. Vamos checar os maiores problemas do eu negativo.
UMA VIDA DE NEGAÇÃO
O perigo é que somos acostumados a ouvir tudo na negação, em vez da afirmação. Passamos a pensar também de maneira negativa, ou seja, o que não ser, o que não fazer, o que não dizer, o que não comprar, etc. O que não somos, não temos e não fazemos. Além disso, vivemos recebendo julgamento por todos os lados de nossos pais, família, professores, amigos, colegas, técnicos, mídia e todos ao nosso redor apontando nossos defeitos e limitações.. nossos erros e nossas falhas com algo ou alguém: seu cabelo não é bonito, você não é inteligente, você nunca vai conseguir, você não tem chance, você não tem jeito, você não sabe disso, jamais fará aquilo, não é bom o bastante, e por aí vai. Não obstante, “o não” vem também para os nossos resultados: sua postura não é boa, sua caligrafia não presta, seu desempenho não é o suficiente e mais. Além das milhares de frases afirmativas com conteúdo negativo: você é feio, burro, chato, desagradável, desajeitado, complicado, irresponsável, ignorante.
É um comportamento que, por vezes, vem como uma simples piada (costumamos rir da “desgraça” alheia), como um tom deboche ou desaprovação, como um julgamento apressado ou como uma crítica pesada. Independente de como seja, crescemos e internalizamos muitas dessas coisas que frequentemente escutávamos e escutamos, passando a acreditar em boa parte delas. Algumas pessoas até geram bloqueios e traumas graves por conta disso, desde timidez e insegurança até baixa autoestima e fobias. Mas aí já é uma outra história, voltemos ao que interessa. Às vezes nada disso é por mal, é apenas o nosso hábito humano e mesquinho de julgamento e crítica do que é bom ou ruim, do que presta ou não presta, do que é certo ou errado, do que é feio ou bonito, do que é justo ou injusto. E é claro, de acordo com nós mesmos, e de nossas percepções deturpadas de mundo.Trata-se de um hábito destrutivo que escutamos, aprendemos e replicamos como um padrão de geração por geração, de forma tão natural que nem ao menos percebemos. Quando alguém fala sobre o assunto, até dizemos: “Mas que horror! Eu não julgo ninguém, detesto isso!”. Infelizmente não é verdade. Algumas pessoas um pouco menos, outras excessivamente, mas ninguém está protegido deste hábito, por melhores que sejamos. Com toda essa pressão, acabamos por focar e exaltar os defeitos, problemas, limitações e dificuldades dos outros e de nós mesmos. Esquecemos de valorizar o mais importante: os pontos e aspectos positivos – habilidades, talentos, conhecimentos, atitudes, comportamentos, caráter, entre outros fatores
OS NÃO “BONS CONSELHOS”
Um outro fator que interfere bastante na nossa forma de pensar e enxergar a nós mesmos e ao mundo está relacionado ao que as pessoas nos dizem que deveríamos fazer. Aquelas famosas frases que falamos e ouvimos sempre: “se eu eu fosse você…” e “eu acho que você deveria…”. Esquecemos de um pequeno detalhe – se fôssemos outra pessoa, não seríamos nós mesmos e, provavelmente, faríamos exatamente o que ela fez e faz. De repente, os famosos “bons conselhos” chovem por toda parte: você não deveria escolher essa profissão, você não deveria educar seus filhos assim, você não poderia ter dito isso, você não devia comprar isso ou gastar seu dinheiro desse jeito, você não deveria ficar com essa pessoa, e mais e mais. Adoramos ser vistos como os bons conselheiros, aqueles que sabem, que ajudam, que têm experiência. Escutamos e repetimos como papagaios todos os dias para nós mesmos e para os outros o que achamos que é melhor. A palavra é essa: “achamos”. Mas como dizem… “de boas intenções o inferno está cheio“.
O que isso quer dizer? Que mesmo com as melhores propósitos por trás, costumamos emitir opiniões, palpites, julgamentos, desaprovações e críticas em relação às atitudes, aos comportamentos e às escolhas de vidas das outras pessoas; entretanto, levando nós mesmos em consideração e não a elas próprias. Esquecemos de pensar, respeitar e refletir com empatia sobre a vida do outro. Infelizmente o que fazemos é carregar no nosso discurso o nosso próprio mundo, junto com nossas características pessoais, valores particulares, experiências, percepções, sentimentos e pontos de vistas próprios. Por isso, é preciso ter muito cuidado com conselhos, pode ser que eles não sejam bons de fato para nós mesmos. Verdade seja dita, os conselhos são, muitas vezes, mais egoístas do que altruístas. Temos que aprender a filtrar, refletir, analisar e ponderar, sem deixar nos influenciarmos. Temos que saber blindar a mente contra qualquer conselho que seja contrário e diga “não” aos nossos sonhos, objetivos, paixões e metas de vida. Ao invés de encorajarmos as pessoas a fazerem o que achamos ser melhor para elas, seria muito mais sábio encorajá-las a fazerem o que elas acham melhor para elas.
(AUTO)CRÍTICA EXACERBADA
Chegamos nós em outra grande armadilha, a criação e o cultivo da (auto)crítica exacerbada. Vamos voltar às raízes e origens. Na nossa sociedade, infelizmente, a prática mais comum é aquela que aponta os erros, que pune, que castiga, que julga, que critica e que recrimina. Acabamos por exaltar nossos erros e fracassos de maneira tal, que pouco saboreamos as nossas conquistas e glórias. Vivemos praticamente na seguinte máxima: “Quando alguém faz algo errado, precisa de uma grande lição. Quando alguém faz algo certo, não fez mais que a obrigação”. Já sentiu isso? Dessa maneira, passamos também a agir de forma exigente demais com nós mesmos e com os outros. Tendemos a nos cobrarmos demasiadamente, a nos colocarmos para baixo repetidamente, a nos recriminarmos inconscientemente. Ao mesmo tempo, vivemos com medo do julgamento alheio frente à nossa imagem, nossas atitudes, nossos resultados… Medo de desapontar, de errar, de fracassar, de ser rejeitado, de receber crítica ou desaprovação, de não corresponder às expectativas dos outros, de não causarmos uma boa impressão e por aí vai.
Talvez você ainda não tenha se dado conta da real dimensão dessa armadilha. O que fazemos frequentemente conosco? Repetimos incansavelmente: “já tentei, não consigo fazer isso”, “eu não sou bom o suficiente nisso”, “eu não consigo aprender tal coisa”, “jamais conseguirei o que quero”, “nunca serei feliz assim” e coisas do tipo. Mas pare e pense. O que acontece quando falamos isso em relação a algo que é extremamente importante para nos tornarmos quem desejamos? Por exemplo, se meu sonho é ser palestrante e eu sempre repeti que tenho um bloqueio e não consigo falar em público? Travamos, paralisamos, nos boicotamos. E aí é onde chegamos na autossabotagem, deixamos de fazer o que deveríamos para alcançar o que desejamos por medo, insegurança ou receio. E podemos até nos defender, dizendo: “mas o que posso fazer se é a verdade? Eu simplesmente não sei, não consigo, é algo impossível!”. Você ainda pode acrescentar dizendo que é culpa da genética, da sua falta de habilidade, da sua hiperatividade, da sua falta de talento, que você não tem o dom e de qualquer coisa do tipo. Se você já parte desse pressuposto, meu caro, dificilmente conseguirá qualquer coisa que seja. Isso é um fato.
EU NEGATIVO X EU POSITIVO
Veja bem, não importa de onde você vem, para onde deseja ir, das dificuldades que enfrentou e enfrentará, do que tentaram lhe convencer e de quantos “nãos” você já levou. As pessoas bem sucedidas no que escolheram ser, ter e fazer não costumam aceitar um “não” passivamente como resposta para seus objetivos. Elas evitam ao máximo utilizá-lo. Tanto para os outros, como para si próprias. Elas sabem reconhecer suas limitações, claro. Entretanto, potencializam tanto suas habilidades, qualidades e talentos que simplesmente abafam o “eu negativo”. Ela faz de tudo para não ceder espaço para que ele se instale. Onde existe um fracasso, ela enxerga um aprendizado. Onde existe uma limitação, ela vê uma superação. Onde existe um obstáculo, ela encara como desafio. Onde existe um risco, ela vê uma oportunidade. O eu positivo é justamente o contrário do negativo, óbvio. Ele é o responsável pela motivação, pelo entusiasmo, pelo brilho nos olhos, pela vontade, pela garra, pela determinação e perseverança. Ele é otimista, cheio de crenças positivas e expansivas. Ele é o que faz com que cheguemos mais perto dos nossos sonhos. Ele nos instiga, repete a para nós mesmos: você vai conseguir, você é capaz, você vai conquistar. Não quero lhe dizer aqui que focar no eu positivo e ser otimista é o suficiente para conseguir o que quiser e que tudo vai resolver como um passe de mágica. Não é essa a questão. O que defendo é que ele exerce um papel crucial no nosso desempenho, nossos resultados e nossa vida, isso não há como negar.
Podemos praticar o eu positivo de várias formas, melhorando nossas vidas e a vidas das pessoas ao nosso redor. A primeira delas é evitando usar a negação. Uma simples mudança na abordagem e na forma de falar e expor as ideias, oferecendo palavras afirmativas de incentivo é um ótimo caminho. Por exemplo, ao invés dizer a você (ou alguém) que algo que fez não presta ou está ruim, dizer que pode melhorar e você acredita que é capaz disso, basta se esforçar um pouco mais ou fazer diferente, se aquilo é realmente importante. Segundo aspecto é aprendendo a usar a crítica de forma construtiva e positiva, revelando a você mesmo e aos outros a importância em aceitá-las, apreciá-las e praticá-las, ao invés de detestá-las, ignorá-las, recusá-las e temê-las. Por exemplo, ao invés de dizer a alguém que o trabalho que fez está uma porcaria, que não serve e está cheio de erros; seria mais interessante agradecer por ter sido feito, elencando alguns pontos que podem ser trabalhados e apontando o caminho para que ele fique melhor. Terceiro ponto é trabalhando para fortalecer o nível de autoestima, autoconfiança, segurança, respeito e amor próprio a partir da valorização e fortalecimento do que temos, fazemos e somos de bom. Temos que tomar cuidado com a nossa (auto)crítica, ao invés de nos estimularmos, podemos é acabar nos desmotivando, sabotando e comprometendo nosso desempenho. Mudar o prisma, a atitude e a abordagem pode impactar de uma maneira extraordinariamente positiva em você mesmo e nos que estão do seu redor. Acredite, teste e comprove.
MINUTO DE REFLEXÃO
Infelizmente travamos diariamente e incansavelmente uma briga interna e eterna com nosso eu positivo e negativo. E a nossa tendência natural, como vimos, é focar nas negações, claro. Isso é uma lástima. Mas e você, no que tem focado? Qual deles tem mais alimentado e deixado sobressair? Negações ou afirmações? Eu positivo ou negativo? Chega de perder tempo dizendo o que não somos, o que não fazemos ou e o que não temos. Precisamos trabalhar para ressaltar, valorizar e potencializar os nossos aspectos positivos e os dos outros, em termos de habilidades, talentos, recursos, conhecimentos, etc. Além disso, não somos nem deveríamos querer sermos bons em tudo. Ninguém é, ninguém pode ser. É importante ter foco, disciplina e direcionamento. O principal questionamento: “como posso fazer mais e melhor apenas aquilo que é realmente importante para mim?”.
DEPOIMENTO
Assim que terminei a minha primeira graduação, em Administração, enfrentei uma fase extremamente negativa. Apesar de sempre ter sido inteligente e esforçada, ter tido excelentes resultados acadêmicos, eu possuía diversos hábitos sabotadores destrutivos que desenvolvi ao longo de anos, como: insegurança, medo, baixa autoestima e falta de confiança. Sempre achava que o que eu fazia não estava bom o bastante e que eu não ia conseguir algo que eu tentasse, por mais que me esforçasse. Eu tinha tanto medo de me decepcionar ou de me frustrar comigo e com os outros que decidi por mim mesma criar um mecanismo interno macabro de sempre pensar na pior situação. Ou seja, sempre imaginar que não ia conseguir ser, ter ou fazer qualquer coisa que fosse. A minha desculpa era que se eu pensasse dessa forma eu estaria me protegendo contra a dor ou fracasso. Coitada de mim. Eu dizia que não ia conseguir um bom emprego, que não ia ter dinheiro, que não ia ter um bom relacionamento, que tudo que eu fizesse ou tentasse iria dar errado, e por aí vai. Eu repetia para mim e para os outros o discurso de como era bom pensar sempre no pior e nunca criar expectativas nenhuma em relação a nada, assim, não correríamos o risco de nos machucarmos. Espero que ninguém tenha seguido este conselho. Demorei bastante para entender como isso estava me sabotando e atrapalhando muito mais que ajudando. E a melhor forma de fazer isso foi praticando. Reconhecendo, aceitando e buscando criar outras crenças e hábitos fortalecedores no lugar.
PRATIQUE! PEQUENO EXERCÍCIO
- Conscientização: Que frases negativas você costuma repetir sobre si próprio? E quais as críticas as pessoas costumam lhe fazer sempre? Anote tudo aquilo que mais lhe afetar.
- Reflexão: como essas frases estão impactando em você? Que consequências têm gerado para sua vida?
- Ação: Mude as frases e troque-as para frases afirmativas, fortalecedoras e construtivas. Anote-as e deixe-as em algum lugar visível, repetindo diariamente nas próximas duas semanas. Faça seu monitoramento e use sempre a substituição da negação pela afirmação. Obs. Se você não acreditar nesta nova frase, difícil será convencê-lo disso.
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