segunda-feira, 16 de abril de 2012

Ética no Trabalho

 Segundo o Aurélio, ética é o conjunto de regras e valores ao qual se submetem os fatos e as ações humanas, para apreciá-los e distingui-los. Em relação ao trabalho, vamos associá-la, apreciá-la quando for o caso e, principalmente, distingui-la. Outros dicionários afirmam que a ética é parte da filosofia que estuda os deveres do homem para com Deus e a sociedade.

Permita-me simplificar esse conceito, à luz da experiência pessoal e profissional ao longo de mais de quarenta anos. Ética é a ciência aplicada pelos seres humanos que procuram ser justos e razoáveis com todo mundo, da melhor forma possível, além de não pensarem exclusivamente em si mesmos. 

Por essa razão, ética não é um conceito facilmente aplicável nas grandes corporações até mesmo porque o capital não consegue se multiplicar na velocidade que precisa se adotá-la como bandeira. Se assim o fizesse, a distribuição de renda seria diferente, as relações desumanas no trabalho teriam outra conotação e os profissionais de valor seriam mais do que um simples número no quadro de empregados da organização.

Você conhece algum profissional que consiga ”cumprir os deveres com Deus e a sociedade” em alguma empresa? Se o fizer ao pé-da-letra, ele simplesmente é excluído do meio, a empresa vai à falência, e o líder entra em descrédito perante o acionista ou superior imediato, num mundo repleto de valores equivocados.

Apesar de todas as recomendações dos especialistas com as mais variadas teorias sobre o assunto, as empresas continuam falhando abruptamente na condução dos negócios. O capital humano nunca foi páreo para a ambição desmedida do lucro e quando a ambição ultrapassa os limites do razoável, a ética e o respeito aos indivíduos são literalmente atropelados pelo poder que não conhece limites.

Muito se fala na necessidade de modificar as relações entre capital e trabalho com intuito de proporcionar ambientes mais justos e fraternos, porém o abismo entre o discurso e a prática é imenso.

A sobrecarga de trabalho é um exemplo típico da imposição do poder. A opção pela redução da força de trabalho e a avidez do capital pelo lucro em progressão geométrica elevam o custo social, sem pudor.

Antes de prosseguir, lembro que as empresas são feitas de pessoas e as pessoas erram, porém, numa sociedade extremamente competitiva, o mínimo erro torna-se imperdoável. Erros fazem parte do crescimento, mas no mundo corporativo atual, o erro será parte do crescimento numa outra empresa, nunca onde se comete.

Não existe espaço para a redenção. O erro é a chance que as organizações esperam para descartar os indivíduos a fim de elevar a produtividade e o lucro por empregado, importantes na divulgação dos resultados.

As relações entre capital e trabalho são absolutamente frias e, por consequência, as relações entre chefes e subordinados também. É mais cômodo exercer a pressão do que a liderança efetiva para se obter resultados.

As incertezas do mundo atual não permitem questionamentos nem espaço para diversidade, aliás, são poucos os líderes que conseguem conviver com diferenças, em princípio, salutares para o crescimento das organizações. O mundo foi construído com base nas diferenças étnicas, religiosas e culturais. Nelson Rodrigues afirmava que toda unanimidade é burra, mas poucos entendem essa máxima.

Por questão de sobrevivência, muitos profissionais se sujeitam a trabalhar em empresas de valores duvidosos, contrários às necessidades pessoais de cada um, onde o discurso vale apenas para a sociedade e a ética restringe-se aos manuais da organização.

Infelizmente não existe emprego ideal, mas existe trabalho ideal, caso contrário, o mundo seria cruel. O que nos move para frente é a certeza de que existem pessoas de bem, apesar da nossa tendência inequívoca de pensar diferente.

Parafraseando um dos executivos mais sensatos que conheci no mundo profissional, ”a ética é o freio da ambição”. Os seres humanos são capazes de coisas incríveis por dinheiro e poder e, na maioria das vezes, a ambição será mais forte que a ética, para desespero dos menos favorecidos politicamente.

Todavia, não se deve perder a esperança, nunca. As relações na vida pessoal e profissional são difíceis, mas o mundo evolui rapidamente. Existem líderes e também organizações sensatas que conseguem conciliar os interesses, pois transcendem a ambição e o lucro em nome daquilo que se convém chamar de ética, aliada ao respeito aos indivíduos.

Em razão de tudo que penso, escrevo e desejo para os que convivem comigo, confio sempre na justiça divina, a despeito de toda falta de bom senso e intolerância na face da Terra. Deitar a cabeça no travesseiro com a sensação do dever cumprido, desprovido de culpas e mágoas, não é para homens comuns.

Como diria Otto Lara Resende, devemos almejar firmemente a utopia, afinal, o mundo não precisa seguir permanentemente infeliz.

Pense nisso e seja feliz!

 Colunista: Jerônimo Mendes - http://www.qualidadebrasil.com.br

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