quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Pobres Mulheres Ricas

Fala sério! Você gostaria de ser uma das celebridades participantes do programa Mulheres Ricas, exibido pela BAND, ou do BBB, exibido pela Globo? Ainda não encontrei pesquisas sobre o assunto, mas algo me diz que, se a população fosse consultada, mais de 90% não hesitaria em emitir um sonoro “sim”.
Em tempos de celebridades fabricadas da noite para o dia, há muita gente concentrada num único objetivo: tornar-se uma celebridade instantânea e carregar a vaga esperança de ficar rico num piscar de olhos. E o pior de tudo isso é que existem pais que incentivam os filhos a perseguir objetivos dessa natureza ou profissões para as quais eles não têm a mínima afinidade ou vocação.
Mulheres Ricas é um pouco diferente. O programa é uma péssima mistura de reality show com exibicionismo e pobreza de espírito, afinal, o que pode ser mais pobre do que ver e ouvir alguém que se diz rico esbanjar dinheiro em coisas tão banais quanto a existência do próprio programa?
Alguém me diz que a televisão é entretenimento, mas, perdoe a minha falta de sensibilidade com o gosto do público que aprova esse tipo de programa: o que se pode aprender com falsas celebridades ricas tentando ensinar as pessoas a gastar dinheiro inutilmente em coisas que só servem para empobrecer o espírito?
É impossível contradizer o fato de que a televisão e a própria internet democratizaram o acesso à informação em todos os cantos do mundo, exceto para algumas culturas fundamentalistas do Oriente Médio e outras mais fechadas como a chinesa.
Da mesma maneira, é impossível negar que esse excesso de democracia também facilitou a ridicularização do ser humano através da banalização do corpo, da violência gratuita e da hipocrisia disfarçada de reality show. É o ser humano no seu estado mais primitivo, o qual se rendeu ao entretenimento de baixo nível em troca de quinze minutos de fama e alguns anos de decepção.
De minha parte, talvez eu esteja ficando velho e crítico demais, não dá para entender o que se passa na cabeça das pessoas que adoram esse tipo de programa, por algumas razões básicas:
  1. não acrescentam nada ao baixo nível de cultura da população brasileira, em geral;
  2. a maioria das colocações constitui uma afronta à inteligência das pessoas que conquistaram sua riqueza através do trabalho duro;
  3. a superficialidade das ideias e o esbanjamento por si só ofende os milhares de excluídos desse país que lutam para conseguir ao menos uma refeição decente por dia.
Há muita coisa boa na televisão, entretanto, a impressão que se tem é a de que coisas boas são inúteis. Chego a pensar que o povo gosta mesmo é de sacanagem. A maioria quer ver o circo pegar fogo, como se diz na gíria. Bobagens dessa natureza são prato cheio para a mídia, caso contrário, certos programas não passariam do segundo episódio.
O que leva alguém a ser convencido de que isso é útil para o público? Não consigo imaginar outra coisa senão aquela vontade incontrolável de derrotar o concorrente, de conquistar mais pontos no IBOPE, de apresentar qualquer besteira que manipule o pobre telespectador e faça com que ele desperdice seu precioso tempo, desde que isso renda milhares de reais em anúncios.
Pós-modernidade? Sim. Oportunismo e mediocridade? Em absoluto, na sua mais pura essência. Contudo, segundo especialistas, trata-se do direito sagrado concedido ao ser humano para expor-se ao ridículo, sob pena de ser idolatrado ou execrado pelo julgamento popular.
Na prática, não deixa de ser uma escolha. Se é boa ou ruim, quem pode dizer? Apenas quem sente na pele a experiência de se expor abertamente pode testemunhar, mas o ser humano é orgulhoso por natureza. Prefere omitir a dizer que foi algo sem cabimento nem propósito.
Lições de tudo isso? Sempre existe alguma. Em Mulheres Ricas, é quase impossível. Penso que nem mesmo as protagonistas aprendem com isso. Se fosse possível extrair alguma lição de tudo isso, não diriam tanta bobagem coordenada pela produção. Mas o que importa de fato é estar em evidência na mídia.
O velho ditado ainda permanece: falem mal, mas falem de mim. Meu ego vale mais do que a minha reputação. É triste, mas é a realidade, contestável sob o ponto de vista moral e ético, porém, incontestável para o gosto popular.
Em Mulheres Ricas, as mulheres não têm culpa. Elas são apenas fruto da necessidade insaciável da mídia pelas coisas banais e da vontade incontrolável do ser humano para falar mal dos outros, de prejulgar e de preconceber valores diferentes dos seus.
Programas assim só existem porque, de certa forma, atendem ao clamor popular e correspondem à natureza humana de esconder os próprios defeitos. Sua audiência será cada vez maior, desde que não retire das pessoas a possibilidade de rir e julgar descaradamente as esquisitices alheias.
Pense nisso e seja feliz! 
Por - Jerônimo Mendes  
http://www.qualidadebrasil.com.br

Um comentário:

  1. gostaria de assistir uma paródia?

    http://www.youtube.com/watch?v=U7gFp-lIuBU

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