segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Como Falar em Público

“Quando falares, procura que as tuas palavras
sejam melhores que o teu silêncio.”
(Provérbio Indiano)

Tratando-se de comunicação, é impossível deixar de abordar a importância de aprender a falar em público.
Pesquisas feitas em diversos países indicam que o medo de falar em público é tão significativo que chega até a superar o medo da morte!
Independentemente de sua posição profissional ou social, em algum momento será necessário falar para uma platéia. Pode ser durante uma reunião na empresa, na apresentação de um trabalho acadêmico, durante um evento social ou mesmo em ocasiões informais com os amigos.
A boa notícia é que todos nós podemos aprender técnicas para falar em público, superando receios e constrangimentos, alcançando êxito na transmissão da mensagem.
Em 1998 eu nem sequer imaginava que um dia poderia seguir uma carreira como palestrante profissional. Na ocasião, enquanto empresário, identifiquei a necessidade de melhorar minha comunicação e procurei o Instituto Reinaldo Polito para fazer seu Curso de Expressão Verbal. Muitos foram os ensinamentos que guardo comigo e aplico até hoje. E, embora não seja o propósito desta obra, gostaria de compartilhar algumas dicas práticas que aprendi com meu mestre e amigo Reinaldo Polito, indiscutivelmente a maior referência em oratória de nossos tempos.

1. Domine o tema. Procure falar a respeito de um assunto sobre o qual você tenha domínio. Pode ser fruto de sua experiência pessoal, acadêmica ou profissional. O fato é que conhecer o assunto com certa profundidade torna sua exposição mais original, espontânea e cadenciada, conferindo-lhe maior tranqüilidade e credibilidade. Em 2005, após apresentar a palestra “Sete Vidas”, na Adidas do Brasil, o presidente da empresa, Marcelo Ferreira, solicitou-me uma palestra sobre administração do tempo. Na ocasião, informei-o de que esse tema não constava de meu portfólio e que precisaria prepará-lo. Durante seis meses li uma variedade de livros sobre o assunto até estar pronto para discorrer sobre o tema. Hoje esse é um de meus objetos de estudo favoritos e a palestra “Construindo um Dia de 30 Horas” um dos temas mais requisitados.
2. Conheça seus ouvintes. Saiba previamente com quem irá falar e busque informações sobre seu perfil. Cada audiência demanda uma abordagem diferenciada, porque tem características e expectativas próprias. Imagine como dirigir-se a estudantes e executivos, jovens e idosos, pós-graduados e pessoas com menor instrução. A linguagem e os exemplos seguramente serão distintos em cada situação.
3. Conheça o espaço físico. Visite com antecedência o ambiente no qual irá discursar. Avalie suas dimensões e o impacto sobre a acústica, a disposição dos assentos em relação ao palco ou ao local em que você ficará postado, o índice de luminosidade, as áreas de circulação. Mais do que tudo isso, perceba o ambiente a fim de sentir-se confortável no momento da exposição. Em 2006, na Celulose Nipo-Brasileira (Cenibra), fui convidado a ministrar a palestra de encerramento da Sipat. O local era improvisado, a fim de permitir a participação de um maior número de colaboradores e a tela de projeção era diretamente afetada pela luz do sol. Por conhecer essa situação previamente, alterei o conteúdo de minha apresentação, excluindo imagens e vídeos que não seriam visíveis naquelas condições, sem prejuízo à mensagem final.
4. Use a roupa certa. Terno e gravata para homens, tailleur para as mulheres, certo? Não necessariamente. Dependendo das características do evento, um traje mais informal pode ser recomendável e garantia de sucesso. Já participei de convenções de empresas nas quais substituí o conjunto camisa social, gravata e paletó pela camiseta com o tema do evento. Isso gera proximidade e sinergia com os participantes.
5. Dê colorido à sua voz. Uma palestra tem como característica o fato de ser, em essência, um monólogo, ainda que o conferencista utilize recursos variados, incluindo a participação da platéia. Por isso, durante a exposição, alterne a entonação e a velocidade da voz, ora falando mais alto, ora sussurrando; ora discorrendo pausadamente, ora acelerando as frases.
6. Pronuncie bem as palavras. Além de pronunciar as vogais em ditongos e os “r” e “s” em finais de palavras, atente para evitar o uso de cacofonias como “né”, “ããã”, entre outros, uma vez que estes podem comprometem a qualidade da comunicação. Procure sempre aprimorar sua dicção, articulando com correção palavras e sons.
7. Cuidado com o vocabulário. A linguagem utilizada na comunicação deve estar alinhada ao perfil dos participantes. Assim, jargão profissional e termos técnicos podem ser utilizados com seus pares, mas são inadequados para uma audiência heterogênea. Além disso, tenha atenção especial em relação às regras gramaticais, conjugação de verbos, concordância, coesão e coerência textual.
8. Use a expressão corporal. Albert Mehrabian, professor emérito de psicologia da Universidade da Califórnia (UCLA), conduziu a partir de 1967 estudos que originaram a Teoria 7-38-55, publicada no Journal of Consulting Psychology com o título “Inference of attitudes from nonverbal communication in two channels”. O estudo indica que no processo de comunicação, somente 7% do impacto da mensagem decorre de seu conteúdo, 38% da comunicação verbal (intensidade e velocidade da voz) e 55% da linguagem não-verbal (gestos, postura, contato visual). Portanto, o sucesso da comunicação interpessoal não está naquilo que você diz, mas em como diz.
9. Conquiste a atenção dos ouvintes. Olhe com atenção para a platéia, percorrendo todo o ambiente. Movimente-se para alterar o campo visual de atenção. Aproxime-se das pessoas e procure interagir com elas. Perceba os sinais emitidos, de interesse ou dispersão em sua mensagem, alterando, assim, a abordagem, seja por meio de inflexão de voz ou de mudança no foco temático. A ordem é persuadir e cativar o público. E lembre-se: os primeiros minutos de sua exposição são fundamentais. É o momento em que as pessoas estão mais desarmadas e suscetíveis a serem conquistadas por você. Em minhas palestras, costumo aliar recursos audiovisuais a fim de ganhar a atenção dos participantes com sons e imagens que se integrem à minha voz e ao conteúdo transmitido.
10. Cultive o bom humor. Conduza sua apresentação com naturalidade e descontração, transmitindo a mensagem desejada de forma agradável, com tranqüilidade e toques de bom humor. Um semblante sereno e um sorriso autêntico são capazes de quebrar resistências, mudar opiniões e romper barreiras aparentemente intransponíveis.
11. Cuidado com piadas e desculpas. Bom humor não remete necessariamente a contar piadas. Todavia, caso deseje fazê-lo, evite piadas de cunho político e religioso, pois é grande o risco de agradar a alguns e ferir outros tantos. Também é aconselhável evitar desculpar-se em razão de problemas físicos, por exemplo. Se estiver resfriado, ao desculpar-se por seu estado no início da apresentação, fará com que a audiência concentre-se ainda mais em seu problema, o qual poderia até passar despercebido.
12. Planeje o discurso. Começo, meio e fim. Definir uma estrutura lógica para sua apresentação ajudará você a concatenar suas idéias, facilitando o entendimento da platéia. Faça a abertura informando sobre o que irá falar, desenvolva o raciocínio e conclua, trazendo um pequeno resumo antes do fechamento. Se pretender apresentar uma solução para um problema, informe antes qual é o problema.
13. Fale de improviso. Esse é um reforço da recomendação inicial de se dominar o assunto que será abordado. É importante ter uma estrutura de discurso mentalmente definida, conforme mencionado, mas não se apegue a isso como cartilha, e sim como um guia. Esteja livre para mudar o conteúdo e a ordem de sua apresentação. E lembre-se de que imprevistos ocorrem, como problemas técnicos com equipamentos que podem interferir em seu desempenho.
14. Responda a perguntas. Coloque-se sempre disponível para responder aos questionamentos dos participantes. É evidente que para fazê-lo você deverá dominar o tema, mostrando-se preparado para um eventual debate, inclusive oriundo de uma platéia hostil. Mantenha a serenidade e não se acanhe em declinar de perguntas para as quais desconhece a resposta. Demonstre uma postura segura. Momentos preciosos tenho vivenciado ao término de minhas palestras quando há a oportunidade de interagir de perto com os presentes. Minha experiência tem demonstrado que o questionamento de um corresponde à dúvida de outros, permitindo-me, inclusive, escrever posteriormente sobre o assunto em pauta.
15. Capriche no encerramento. Uma mensagem poderosa e consistente ao término de sua apresentação poderá ganhar a simpatia dos ouvintes, inclusive daqueles que estiveram reticentes ao longo de toda a explanação. Sempre finalizo minhas palestras declamando um poema com texto alinhado ao tema apresentado.
Conforme relatei no início, meu intuito foi somente compartilhar algumas sugestões. Essas dicas e muitas outras podem ser encontradas com maior detalhamento e riqueza de exemplos nas obras do professor Reinaldo Polito.

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